Capítulo 6

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Na segunda-feira pela manhã, abracei fortemente meu irmão, antes que ele saísse para ir à escola. Não sei exatamente o porquê, mas havia acordado com o coração apertado e com uma sensação horrível de que aquele dia não seria bom.

Quando Betinho pegou sua mochila e saiu de casa, saí correndo atrás dele.

— Betinho, espera aí! — Ele olhou para mim, e ainda sentindo aquele aperto no coração, continuei: — Estou com vontade de te levar na escola.

— Mas eu sempre vou sozinho...

— Eu sei, mas hoje eu quero te levar. Só vou pegar minha mochila e já volto.

Entrei rapidamente em casa, peguei minha mochila, tranquei as portas e fui ao seu encontro.

Naquela manhã, não consegui me concentrar na aula. A todo momento, pensamentos horríveis invadiam minha mente. Eu tentava ignorá-los, tentava prestar atenção na explicação da matéria, tentava até pensar em coisas boas, mas nada adiantava.

Acabei demorando um pouco mais na escola, pois a professora passou um trabalho em grupo e o pessoal decidiu se reunir na biblioteca para adiantar uma parte do trabalho. Mesmo sem estar com cabeça para isso, tive que ficar e colaborar. Sabia que quando chegasse em casa, Betinho já estaria lá, esperando por mim.

Já passava das duas da tarde quando finalmente consegui chegar na rua em que morava. Ao passar em frente à casa de Rodrigo, olhei para ela, como sempre fazia. Mas, como eu nunca tinha a sorte de ver o meu querido vizinho, então já não criava mais falsas esperanças de encontrá-lo. Nem parecia que ele morava ali. Nem parecia que éramos vizinhos.

Ao entrar em casa, fiquei paralisada ao ver que Betinho não estava lá. Sua escola era bem pertinho e ele costumava estar de volta antes de uma hora da tarde. Não havia motivo algum pra que ele ainda não tivesse retornado para casa. Depois do choque inicial, decidi que precisava fazer alguma coisa. Saí de casa e fui correndo até a escola. Ao chegar lá, procurei pela professora dele e a mesma me informou que ele já tinha ido para casa há muito tempo. Ao ouvir aquilo, quase desmaiei na frente da mulher, precisei encostar-me à parede para não cair no chão.

— Ele deve ter ido pra casa de algum coleguinha — disse ela.

Mas eu sabia que isso não era verdade. Betinho nunca faria isso sem me avisar! Então comecei a me lembrar da sensação ruim que tivera ao acordar pela manhã. Parecia que a vida estava tentando me avisar de que algo terrível estava para acontecer. Ah, meu Deus! Como eu queria voltar no tempo! Se eu tivesse esse poder, eu teria feito tudo diferente. Eu teria impedido que meu irmão saísse de casa naquele dia!

Comecei a andar desesperada pelas ruas. Olhando atentamente para cada canto, para cada esquina, na tentativa de encontrar algum vestígio daquela criança que eu amava tanto!

Depois, tive a ideia de ir à casa de alguns amiguinhos dele, torcendo pra que ele tivesse feito isso sem me avisar, é claro que eu o perdoaria no mesmo instante, mas, primeiramente, lhe daria uma pequena bronca. Sendo que minha busca foi em vão, simplesmente não adiantou de nada. Ninguém sabia onde ele estava. Já eram quase cinco da tarde quando voltei para casa e ele ainda não tinha chegado.

Ao abrir a porta da sala, desabei em cima do sofá e chorei com todas as minhas forças. Eu sabia que algo de muito ruim havia acontecido, mas estava completamente de mãos atadas. A única coisa que eu podia fazer, era notificar a polícia, mas eu sabia muito bem que não poderiam fazer nada por enquanto. Pensando nisso, cobri meu rosto com as mãos trêmulas e senti o sabor amargo das lágrimas abundantes, enquanto todo o meu corpo era sacudido pelos meus soluços.

 Onde estaria Deus naquele momento? A minha vida era uma verdadeira sucessão de tragédias. A sensação que eu tinha, é de que havia vindo a este mundo somente para sofrer. Tudo o que eu tinha de mais precioso na minha vida, era o meu querido Betinho, e agora eu não tinha mais nada. Naquele momento, o único som que se podia ouvir dentro de casa, era o meu choro e os meus gemidos, mas, de repente, ouvi uma gargalhada, e era tão alta que sobressaiu aos meus lamentos. Era sarcástica, diabólica e cruel...

Eu te olhava pela janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora