insigne

O grande dia

15 anos finalmente, como se não bastasse estar ficando mais velha e ainda parecer uma criança, meu aniversário é no dia da cerimônia de seleção, onde podemos saber qual é nossa aptidão, meu nervosismo transpareceu tanto que acabei ficando com um leve tom de laranja escuro, me concentrei para voltar branco e fui comer algo antes do grande dia. Talvez por ser um dia atípico minha mãe estava laranja radiante, a cor do entusiasmo, da alegria, da prosperidade.. Estava linda com os cabelos soltos e o vestido preto que dei à ela em seu aniversário. Meu laranja estava mais apagado que o dela, a cor do nervosismo, da ansiedade e do stress. Por isso me concentrei pra manter a cor Branca, que representa todas as cores do espectro e significa tanto alegria como tristeza, dependendo da cultura. As cores que predominam nos adultos de nossa cidade são: Branca, Cinza, marrom e azul. A cor branca não só predomina nos adultos como também em todas as idades, sinceramente não sei controlar bem a mudança de emoções, logo, sou o ser mais volátil que conheço, uma hora tô azul, outra hora tô laranja, outra hora roxa...Até agora estou controlando bem minhas emoções/cores, é como segurar um espirro ou um bocejo. Enquanto minha mãe se arruma e vou chamar Arthur para nos acompanhar até a cerimônia, passo pelo corredor de pinheiros que separa nossas casas e começo a chamá-lo, o fato de meu melhor amigo passar esse momento comigo me deixa muito mais tranquila, a tonalidade azul com certeza já tomou minha pele quando chego a porta da casa dele

- ARTHUR JÁ ESTAMOS SAINDO, CADÊ VOCÊ? - Grito em frente a casa

sem resposta

- ARTHUUUUUR EU VOU EMBORA- falo irritada e ficando vermelha instantaneamente

Alguém já disse que você é linda de vermelho? Quero acreditar que seja paixão, porque, como sua mãe disse, é impossível sentir raiva de mim- aparece atrás de mim com um tom azul, que faz o contraste perfeito com seus cabelos pretos bagunçados e seus olhos vermelhos.
-- Deixa de ser idiota!-- digo puxando ele

- Ui que violência, só por isso não vai receber seu presente - diz colocando as mãos nos bolsos de sua calça jeans preta, e só então percebo que ele caprichou no visual hoje, camisa social preta e bota cano longo marrom
- Presente?- pergunto
Ele respira fundo e começa a falar com aquele tom que usam quando querem noticiar a morte de alguém
-Sei que você teve pesadelos com esse dia e quero que saiba que não importa o que aconteça, eu vou estar lá com você ouviu?- disse me dando um colar com uma bolinha branca de pingente
Agradeci com a voz fraca, poderia chorar agora
- Se bem que esse branco de estabilidade não combina com você - disse ele voltando a andar

- Eu tenho que agradecer diariamente por ter você como amigo - digo ao lembrar da cerimônia e trazer a onda de nervosismo de volta - Está com medo do que pode acontecer? Sabe, na cerimônia- pergunto insegura e mudando de branca pra cinza, cor da dúvida e da quase ausência de sentimentos, ele tenta avaliar o motivo da pergunta e responde do modo mais positivo que consegue:

- É claro que estou com medo, eu não faço ideia do que acontece lá, é normal, não se preocupe vou te proteger minha amiguinha- diz Arthur passando os braços por meus ombros, mas sinto que essa declaração não vai melhorar minha situação, tento o máximo possível voltar ao branco e sair daquele cinza que estava prestes a me fazer chorar

-Sabe que não queremos vê-la triste princesa, então tenta manter o ânimo? Pelo menos pra esse povo que está tão animado com o seu dia, depois eu juro que ajudo a juntar todos os caquinhos desse coraçãozinho se você não for uma dominadora como a sua mãe, viu?- diz ele com um sorriso doce

Pensei na minha mãe no banco da frente da carruagem com aquele entusiasmo contagiante e decidir pelo menos fingir que estava tudo bem
-Eu tô ótima Arthur, por quê eu estaria triste? Só estou em dúvida- digo ganhando tonalidade amarela que apesar de estar um pouco acinzentada aliviou a tensão de Artur, pois ainda era a cor da felicidade