insigne

Capítulo sete

Lyli, precisamos fazer uma coisa antes de resgatar Cristopher...
Diz Maya com uma expressão muito nervosa, mas permanecendo com uma cor branca como papel
--Algum problema? -- Pergunto mirando cada um da sala agora; Leandro está com uma postura rígida demais e com coloração marrom de seriedade, completamente diferente do momento em que adormeci quando ele estava fazendo drama por causa de uma ferida (que pelo visto se recuperou rápido) , agora ele está interpretando exatamente o que se espera de um guarda
Mas o que realmente me chama a atenção é Stella sentada ao meu lado, que parece estar desestabilizada, também diferente da líder inabalável que eu vi da última vez que estive acordada, agora ela está dominada pela cor roxa e não para de girar os polegares e apertar os outros dedos entrelaçados
Mas contrapondo toda tensão, Jack parece entediado sentado no sofá que permite ficar de frente para a única janela do lugar e que, afinal, parece ser exatamente o que o impede de mergulhar no tédio da conversa ou sair do lugar
--Não é bem algo do grupo, vou entender que prefiram não se envolver em problemas, mas... Nos passamos pelas passarelas e percebemos que nunca vamos ser aceitas aqui -- Diz Stella parando para respirar bem fundo
-- Maya precisa achar alguém e não vemos como conseguiremos achar se formos expulsas..- completa mais calmamente, porém em um tom melancólico
-- Nós queremos pelo menos trabalhar aqui entende? Eu sei que eles não confiam em gente de lá, mas precisamos mesmo tentar e.. talvez seja mentira o que vão dizer, mas podem dizer que confiam nem nós?-- Pergunta Maya
--Por que não confiam neles?-- Jack pergunta para Leandro em sua primeira participação na conversa
-- O diretor diz que não passam de atores que fingem sentir algo, mas que apenas obedecem ordens-- Respondeu Leandro ainda rígido
-- Ele não seria louco de se arriscar a passar informações para um inimigo-- completa olhando para Stella ao final da frase.
Tive certeza de que seria a hora de nos separarmos assim que chegássemos para procurarmos nossos objetivos, mesmo por que Leandro odeia Stella, mas sei que não seria algo tão grande a se fazer apenas falar os feitos delas
-- Se falarmos só os fatos é possível que acreditem -- Falo calmamente mirando Leandro e ficando de pé para ficar em frente à ele
-- O diretor saberá que elas só fizeram o que fizeram para chegar até aqui salvas-- Diz baixando o olhar para me olhar
-- Tenho certeza de que lembra que Maya salvou sua vida -- Digo começando a ficar vermelha de raiva
Mas Leandro fica também vermelho neste mesmo momento e desvia o olhar, provavelmente de vergonha de ainda ter essa dívida
-- Não me peçam mais nada depois disso-- Fala se retirando e fazendo Maya abrir um grande sorriso
-- Ele parecia contrariado, vocês já tinham conversado com ele sobre isso?-- Pergunto às duas
-- Ele deve ter ouvindo minha conversa com Maya para ter formado uma opinião tão rápido... Mas queríamos saber o posicionamento de todos-- Stella fala indicando Jack e fazendo todos olharem também
-- Se a maioria está de acordo não tenho por que dizer algo diferente de vocês -- Sentencia antes de falarmos qualquer coisa
-- Ótimo, agora podem me dizer; quando, onde e com quem precisaremos falar disso?-- Pergunto finalmente
-- Assim que ele voltar vai levar a gente pra falar com o diretor-- Jack responde ainda olhando para a janela
-- O que aconteceu com ele? -- Pergunto às duas únicas pessoas que parecem interagir comigo na sala
-- Também me perguntei isso, ele está assim o dia inteiro -- Maya Responde em um sussurro quase inaudível até para mim e todas começamos a olhar para a figura sem reação e com um leve tom de azul na pele, situação essa que Jack deve ter ficado grato por ter sido interrompida por Leandro entrando na sala e sinalizando que devíamos seguir ele.
Assim que saímos da sala para a passarela entendo o terror das duas garotas por não serem demônios e não precisei perguntar quem eram as pessoas visivelmente desnutridas que contornam o lado de fora do gelo que cerca a passarela como uma redoma
-- O que ele fizeram?-- Pergunto ao grupo, onde dois me olham com nítida reprovação e duas me olham com visível medo
-- É mais por eles serem o que são mesmo-- Responde Leandro
-- Você não larga essa pose de soldado do diretor, né?-- Diz Stella, que parece estar realmente cansada disso
-- Por que deveria? É o que eu sou -- Responde em tom bem neutro e educado
-- E se o diretor dissesse pra você fazer algo que você não aprova? -- Stella pergunta como se estivesse desafiando Leandro, parece que ela gosta mesmo disso por que ela espera a resposta tão ansiosa que consigo ver um leve tom de laranja em sua pele que só emoções bem fortes fazem nos não-demônios para mudar a cor..
-- Acho que o plano não vai dar certo, tive uma ideia que é realmente arriscada, mas se todos colaborarem vai dar certo-- disparo a falar antes de Leandro
-- Lia, estamos quase na porta do velho-- Jack anuncia indicando uma porta no fim do corredor
-- Concordem com tudo que eu disser, e eu juro que não te peço mais nada, só confirma tudo por favor Leandro-- suplico acompanhando os passos dele, mas sem obter sinal de apoio, pois ele já estava abrindo a porta.
Demoro alguns segundos para me acostumar com a passagem do corredor mal iluminado para uma grande sala com 6 luminárias, paredes brancas para refletir a luz e chão completamente cinza. À medida que caminhamos para o outro lado da sala, onde tem um homem velho e forte em uma poltrona preta, passamos por vários guardas postos em intervalos iguais nas paredes da sala que parecem estar nos julgando, não é difícil imaginar eles usando só essa postura para conseguir uma informação de alguém, decididamente devem ser contratados só por esse "olhar de superior".
--Queria tanto saber a história desse lugar-- Maya sussurra sem se conter pouco antes de ficarmos bem em frente à poltrona
-- Vocês vão ouvir muitas coisas sobre esse lugar, não acreditem em tudo que ouvirem por favor, ainda existem pessoas que dizem que Hyalina nos destruiu e que obviamente venceu a guerra, eu digo à vocês que essa guerra não acabou e que visivelmente Hyalina não foi destruída-- Começa ele em tom muito grave ao mesmo tempo que analisa o grupo em sua frente -- Talvez vocês se perguntem por que esperamos até agora? É óbvio que não vou responder até ter minhas suspeitas confirmadas -- continua descendo devagar dois degraus que nos separava dele e passeando pela sala -- Um de vocês pode se tornar alguém muito importante para nós e ter a honra de ser nossa arma na guerra-- anuncia enquanto olha nos olhos de cada um de nós
-- Agora... Leandro, muito mais do que imaginamos que seriam, não é?-- Pergunta se direcionando ao guarda dessa vez
-- Nós demos muita sorte senhor..-- Responde em uma mini reverência com a cabeça
-- E essa sorte não acompanhou vocês quando levaram o príncipe?-- Pergunta calmo demais e seguindo de volta para se sentar
-- Não senhor, eram muitos e meus reforços já haviam morrido antes mesmo de sairmos da cidade-- Responde sem desfazer a reverência e como se suplicasse para ter uma chance de se redimir
-- Forme o grupo que vai buscar ele-- Responde como se fizesse um favor à alguém, e depois disso Leandro sai da sala por trás da poltrona onde se encontra uma porta muito bem escondida.
-- Agora... Vocês.. Confesso que só esperava Christopher Noctis e Jack Trevisan, mas agradeceria se vocês se apresentassem...-- Fala com uma simpatia notoriamente falsa de tão extravagante
-- Stella, Maya e Lilian Leblanc-- falo rápido
-- Leblanc? Vocês são irmãs?-- Pergunta se levantando devagar da aparentemente confortável cadeira e andando em nossa direção
-- Por parte de mãe apenas-- Respondo agora com o olhar fixo na imensidão negra dos olhos do diretor como se ele estivesse procurando sinais de que estivesse mentindo, e como em um sonho, lembro da minha mãe na cozinha me chamando para tomar café e ouço a grave voz outra vez: " Suas irmãs não deveriam estar com você no dia da seleção, minha cara Lilian Leblanc?" O diretor também vê a cena na cozinha e só consigo pensar em fechar os olhos
"Não, elas têm um pai e devem estar passeando com eles querido diretor" repito isso pra mim até estar segura de que aquilo era verdade e me imaginar brincando com duas crianças "Então não te convidaram para o passeio?" A voz do velho diz outra vez "Me pareceu um evento familiar e não quis ir" respondo quase acreditando que sou uma órfã de pai amargurada que se recusa a passear com as irmãs por não fazer parte da família
-- Me parece que nada tem a esconder além de um triste drama adolescente por falta do pai Lílian-- A voz grave conclui enquanto me acostumocom a claridade do ambiente
-- Me acostumei a pensar que seria mais triste crescer com alguém irresponsável suficiente pra cuidar da própria filha-- Respondo e concluo rapidamente -- Senhor..-- Digo e uma onda de alívio se espalha pelo meu corpo como se me parabenizasse pela incrível habilidade de inventar uma mentira atrás da outra
-- Não acha uma maneira cruel de pensar...?-- Fala com uma voz mais calma e se virando de volta para a cadeira
-- Não senhor-- Respondo com neutralidade
-- Além de rabugenta você parece ser muito inteligente Lilian, vou ficar feliz em conhecer você-- conclui e se direciona agora às meninas sem se mexer na cadeira-- Mas tenho fontes confiáveis para dizer com certeza, que Leia Leblanc não é uma de nós-- Fala com um sorriso desafiador como se já entendesse tudo e só estivesse brincando
-- Nosso pai era... Senhor... Mas assim que nascemos ele quase implorou ao rei que deixasse ele continuar em Hyalina por que não podia deixar a mamãe com duas bebês recém nascidas e uma criança que não tinha nem um ano ainda-- Maya fala pela primeira vez agora
-- Um traidor...do próprio povo-- Diz com expressão de nojo
-- Espero que não seja hereditário e que eu possa confiar em vocês duas crianças-- Diz em tom de despedida-- Vocês podem ir e os guardas dirão o que precisamos que façam-- conclui no momento que chama um dos guardas que vai nos levar embora, fala algo e seu ouvido e saímos
-- Isso não vai dar certo Lílian, não vamos conseguir convencer ninguém-- Stella sussurra só pra mim e de modo que nem Maya possa ouvir quando passamos pela enorme porta que nos devolve ao corredor mal iluminado -- Consegui fazer isso minha vida inteira, não deve ser difícil para vocês-- sussurro de volta e completo quando percebo um guarda olhando demais pra nós duas
-- Vamos dar nosso melhor "crianças"-- anuncio em um tom autoritário e brincalhão que faz Maya rir
-- Deve ter ficado "rabugenta" pela frustração dessas suas piadas sem graças-- Diz Jack bem humorado e faz até Stella rir.