Capítulo seis

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Nada é familiar nesse lugar, parece nada mais que um deserto com destroços de construções antigas por toda parte. Me pergunto se uma das frentes de batalha da guerra foi aqui mesmo, para mim há algumas semanas seria bem estranho pensar que pessoas estavam se matando aqui anos antes de eu nascer e que o medo dos demônios que surgiu há tanto tempo ainda estaria tão forte, mas uma voz desconhecida não me deixa desenvolver esse pensamento por muito tempo:
“Lilian, o poder domina os governantes, tanto de Hyalina quanto de  Lunam Glacies, e esse medo que nunca acaba ajuda eles a controlar as pessoas, fuja com seus companheiros agora e não confie em ninguém”
--Quem disse isso? Quem está aí?—Pergunto enquanto levanto, pego um pedaço de madeira e coloco fogo nele para enxergar melhor
“É de você e de Christopher que eles têm medo, quando souberem seus poderes vão querer matar vocês, vá com eles, mas não confie em ninguém Lilian, fuja agora!” ouço a voz novamente e enxergo umas nove pessoas vindo em nossa direção
-- Leo você precisa acordar agora mesmo — Anuncio sacudindo ele sem tirar os olhos das silhuetas que se aproximam
Chamo Maya e oriento que ela acorde os outros e coloquem as nossas coisas na carruagem
-- Quem são vocês?—Leandro pergunta dando um grito bem alto com um pouco de nervosismo na voz
-- Agora sim chamou a atenção de quem quer esteja perto—Stella reclama, mas se prepara para lutar ao lado de Leandro
Nós quatro não sabemos o que fazer, então  começamos a pegar, em questão de segundos várias armas na carruagem, que claramente não sabemos usar.
-- Lia cuidado! – Maya Grita no momento que eu sinto o metal gelado perfurando meu ombro que me faz gritar e olhar novamente na direção do grupo que já estavam fora de seu abrigo sombras e cada vez mais perto da fogueira
-- Nós não somos ninguém para o povo de vocês, mas como agradecimento por arrumar tudo para nossa viagem na carruagem, vamos nos apresentar—O estranho diz de maneira muito confiante-- Não que isso signifique algo para vocês, mas podem nós chamar de renegados como todos chamam-- O estranho completa
Me abaixo, vou para trás da carruagem com dificuldade e Christopher e Maya vão me socorrer
-- Cris, precisamos sair daqui, ainda nem sabemos lutar e eles já sabem nossos poderes—Falo dominada pelo desespero, mas ele claramente ignora ao ver o que me feriu e quase vomitar por causa do sangue
-- Dominadores de metal— Observa  Maya ignorando o drama de Christopher ao começar a tirar a lâmina de mim devagar
Parecia que o metal estava crescendo no meu corpo e começa a arder muito depois que ela tira a lâmina, não consigo pensar em outra coisa além da dor e não presto mais atenção no que está acontecendo no outro lado da carruagem antes que Maya comece a usar seus poderes de algo que parece uma luz ou gosma verde no ferimento, mesmo que eu não consiga enxergar se ela está roxa, Maya parece aflita com algo, é quando ela percebe minha preocupação que finalmente fala:
-- Não dá pra terminar isso agora, temos que sair daqui, isso é uma ferida demoníaca—Maya fala com desespero nos olhos
Afirmo com a cabeça sem entender gravidade da minha ferida, passo por cima de Christopher e vou até uma das extremidades da carruagem ver o que está acontecendo no mesmo  momento que Leo é lançado contra alguns destroços perto da caverna, então  Jack vai ajudar e vê que Leo foi ferido na perna
-- Pegue, ajude Stella—Pede  Leo para Jack entregando o colar
Jack enrola o colar na mão e vai na direção deles onde Stella está fazendo uma parede de luzes como um campo de força para que ninguém chegue perto, ele atravessa o campo de força com apenas uma espada e tenta inutilmente usar seus poderes e ainda deixa o colar ser arremessado para longe
Corro para pegar o colar  e Maya corre para ajudar Leandro. Com a adrenalina dominando meu corpo é como se não existisse dor no ombro, como se só existisse o instinto de continuar viva.
Pego o colar e coloco em volta do meu pescoço enquanto corro de volta em direção à Stella que já devia estar muito cansada. Toco no ombro dela e pergunto o que fazer, mas ela me olha assustada, pega na minha mão, e vai aumentando e afastando o campo de força com a outra mão. Não sei o que aconteceu ou o por quê de Stella não ter feito isso antes, mas o importante é que eles fogem e Stella me olha aliviada como se dissesse "vamos ficar bem" e só depois disso a adrenalina começa a passar e sinto um cansaço e dor enormes
-- Vamos ver como os outros estão?-- Stella pergunta sem cansaço aparente e eu só a sigo para ajudar Leandro
-- Não consigo fechar essa ferida, é como se eu conseguisse no início, mas depois parece que meu poder é  absorvido e usado para aumentar a mais a ferida--Maya confessa como se estivesse declarando a morte de alguém-- Não posso fazer nada além de suturar Leo-- ela completa, e só então começo a entender que essa viagem nunca poderia ser tranquila e que eu errei muito ao pensar que nosso maior problema eram as brigas de Stella e Leandro ou que teríamos liberdade e vidas melhores em Lunam Glacies
-- Levaram o príncipe!-- Jack fala aparentemente assustado, emoção essa que aumenta visivelmente a   medida que se aproxima e começa a avaliar o estado de Leandro também 
-- Não! Christopher está desmaiado atrás da carruagem, nós vimos!-- Declara Maya aflita e todos vão atrás dele. Agora consigo lembrar com nitidez que deixamos Christopher inconsciente sozinho e não protegemos ele, me sinto impotente e culpada por isso, eu deveria ter fugido com ele quando aquela pessoa mandou, só com ele.. É como se meu coração precisasse  de uma pausa para entender como funcionar direito novamente, é como se o sangue parasse de circular por um momento e começa doer pelo coração e a aumentar até os braços, então a dor da ferida começa a latejar no meu ombro e meu corpo pesa como se soubesse que não vamos conseguir, me ajoelho ao lado de Leandro e encosto minha testa na dele a enquanto seus olhos fecham e sua cor se apaga
-- Por que está fazendo isso?-- Leandro sussurra de olhos fechados
-- Minha mãe diz que fazendo isso você sente o que as pessoas estão sentindo e começa a entender a dor do outro-- respondo
-- então sentindo minha dor, acha que vou morrer?-- Pergunta de maneira melancólica
-- Você é durão demais para morrer tão fácil, mas acho que vai ter problemas se levar apenas Jack e essa pessoa raquítica que vos fala para Lunam Glacies-- Explico e ele força um sorriso simpático que  não consegue esconder a tristeza pela perda de Christopher.
-- Ele tem nojo de sangue, quer muito ir para Lunam Glacies para saber mais sobre seu pai e é muito sensível e preocupado com quem ele gosta, muito mais confiante que eu, muito mais otimista que eu e ele com certeza merecia chegar em Lunam Glacies muito mais que eu, precisamos ir atrás dele -- desabafo para Leandro tentando me manter acordada e sentindo minha energia diminuir
-- Nós vamos sim...-- Leandro responde de maneira serena e menos mórbida do que na última vez
Me movo para deitar ao lado dele e deixo minhas pálpebras fecharem sem conseguir distinguir mais o que as pessoas falam.

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