Brinde de Bar

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Acordou. Amarrou o cabelo. Mochila no ombro, banco na mão e pé na rua, mais um dia como outro qualquer.
Na esquina, tirou da bolsa as molduras, dispôs o banco sentando-se nele e começou a desenhar por trocados.
Depois do “expediente”, volta para a casa com seus vinte mangos, passa em frente ao bar. Entra.

O alarme despertou às oito. Vestiu o terno. O cabelo impecavelmente penteado. Agarra a maleta, joga ela no banco do carro. Para o escritório.
Ao fim do expediente, exausto, com apenas a esperança do salário no fim do mês, passa em frente ao bar. Entra.

O celular desperta depois da terceira soneca. Atrasada, levanta rápido.  Se arruma correndo. Perde o ônibus, corre à pé para a loja.
─ Atrasada de novo? Isto está ficando  insustentável!
Demitida. Vai para a praça, com ar de perdida. Lamenta-se. Voltando para a casa, passa em frente ao bar. Entra.

Ele acorda, tira os jornais de cima do peito. Levanta e espreguiça-se. A escrivaninha cheia de papéis espalhados segurados por uma garrafa.
Vazia.
Põe um casaco velho e sai. Passa em frente ao bar. Entra.

Ela acorda com o raiar do dia.
─ Acorda filha, diz à mais velha, catorze anos, é ela a babá para sua caçula.
Se arruma, vai para a casa da patroa, mais tarde, à esquina. Dia produtivo, não sabe se ri ou se chora. Guarda trocados no bolso, os arrependimentos? Engole.
Volta para casa. Passa em frente ao bar. Entra.

Acorda. O bafo horrível, não se importa. A velha na cozinha. Dá-lhe um beijo. Ela reclama do odor, ele sorri. Senta-se, café quente.
Se arruma. Se apruma. Vai para a rua trabalhar em jardins ricos. Bigode grosso, banha-se de suor ao meio-dia. Sem luxos, só trabalho.
Final do dia, volta para a casa. Passa em frente ao bar e o abre.
Toma um banho e começa a noite.
Atrás do balcão, os vê chegando um a um:
Um pobretão todo puído.
Uma moça.
Um rapaz cabeludo.
Um granfino.
Uma mulher provocante.
Cada qual pede uma dose. Serve. Serve uma pra si.
─ À vida.
Todos brindam.

Uma Pessoa de Cada VezOnde histórias criam vida. Descubra agora