Jaqueline 17 - Sem saber saber o que fazer

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Se eu estava chocada? Sim. Assustada? Muito. Desesperada? Demais! O que seria da vida de meu amigo, agora que por acidente ou milagre galáctico ele se tornara um argoniano como eu?!

Por quase duas horas, eu olhava através daquele vidro, seu corpo estirado na maca flutuante, sendo analisado pelos médicos, e observando aquelas asas enormes caídas ao chão, enquanto Eliana chorava desesperada, sabendo que talvez nunca mais pudesse ver seu filho. A culpa me dominava cada vez mais. Talvez... se eu não tivesse ido me despedir de meu amigo... isso não acontecesse. Como se lesse meus pensamentos, o que eu desconfiava muito, Víctor, também um tanto chocado, falou ao meu lado :

-Eles rastrearam o celular de Allan... mesmo depois de eu destruí-lo... Com certeza tentariam extrair alguma informação dele e de Eliana, sobre você se não tivéssemos aparecido...

Olhei para ele, observando seu rosto fitar meu amigo.

-Ainda assim, eu tenho culpa em grande parte disto. - murmurei aflita. - Se não tivesse sido teimosa... Se tivesse escutado vocês... talvez... - lágrimas se empoçaram nos meus olhos, e eu custei a segurá-las, deixando escapar um soluço. - Por que eu sempre machuco quem está perto de mim?!!

Desviei o rosto para o outro lado e coloquei as mãos nele, tentando esconder a vergonha que eu sentia pelo meu egoísmo.

O que eu fiz ao meu amigo?!

-Jack... A culpa foi min... - Víctor começou a dizer, mas foi interrompido por um enfermeiro elfo, de cabelos negros trançados.

-Perdão por minha intromissão mas, Víctor, sua irmã acaba de acordar e quer muito vê-lo.

Víctor olhou dele para mim, a expressão estranha. Olhei para ele um pouco confusa com o que via em seus olhos. Como ele demorava a falar, decidi por ele:

-Vá logo ver ela! Precisa saber se está bem!

Ele piscou e então assentiu acompanhando o enfermeiro pelo corredor, as asas ainda expostas e se arrastando pelo chão devido o ferimento. Depois de observá-lo desaparecer na curva do corredor, voltei minha atenção a Djen que saía novamente para o corredor onde estávamos, trazendo notícias de meu amigo. Funguei e me aproximei, incapaz de encarar meus pais ou Eliana.

-Ele está melhor. Caiu em sono profundo apenas. - senti todos relaxarem por um instante. No entanto... - Mas... acabamos de detectar um sinal... de que há um dom circulando por seu corpo, senhor John. Só não sabemos ainda qual. - seus olhos dourados eram deslumbrados e ao mesmo tempo tristes ao olhar para o rosto desolado de Eliana. - É oficial. Ele se tornou argoniano. E agora é um de nós. - frisou.

Minhas lágrimas não suportaram e caíram por minhas bochechas. Eu pressentia as próximas palavras de meu pai. John olhou realmente desolado para Eliana e depois para mim. Suspirou e falou em uma voz baixa mas ainda imponente:

 -Eu sei que nada do que eu lhe dizer vai confortá-la, Eliana. Nada. Mas, Allan não pode viver na Terra. Não sabemos qual é seu dom e pode demorar muito tempo para que ele os controle ou até mesmo as asas, para que ele consiga viver lá. E mesmo assim correria riscos de ser atacado novamente ou dos terráqueos descobrirem. Não podemos arriscar mais nada.

Eliana chorava copiosamente, soluçando, de modo que só piorava minha angústia. Minha mãe também chorava e tentava reconfortar a mãe de meu amigo, passando a mão em seus ombros. Eliana suspirou e olhou para o vidro, vendo o filho dormir. Seus olhos se voltaram para mim, e foi como se o peso da Terra estivesse em meus ombros.

-Me perdoa. - murmurei para ela. - Eu juro por qualquer coisa nesse universo, Dona Eliana, que se houvesse uma maneira de apagar tudo o que ele passou por minha causa... eu juro... eu faria sem pensar duas vezes. Juro.

Guerreiros de Argon -Floresta dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora