Víctor- 2 - Transformação

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Foi como uma câmera lenta. O engatilhar da arma, o som do seu disparo. Meus olhos teimavam em querer se fechar pelo pânico, mas ficaram abertos a tempo de eu ver uma labareda de fogo atingir em cheio o rosto e a lateral do corpo de Raveno, e ouvir um grito nervoso feminino. O raio da arma se desviou a centímetros do meu rosto, acertando a terra.

Raveno gritou de modo estridente, soltando a arma no chão, e o aperto em minhas mãos se afrouxou. Isso foi o bastante para que eu reagisse. Empurrei ele para longe com a telecinese e me ergui rápido, mesmo com a dor na perna sendo alucinante. Instantaneamente peguei sua arma e enquanto ele ainda caía atirei no seu peito, respirando pesado pela raiva.

Raveno caiu a três metros de mim, os olhos virados para o céu. Rosnei e joguei sua arma no chão, quebrando com o pé. Engoli em seco, ainda tremendo. Ainda um pouco desnorteado olhei em volta procurando por Jaqueline. E ela estava bem ali, agachada, ainda apoiada pelos cotovelos no chão, olhando para mim assustada. Mas parecia bem mais ativa, mesmo com o sangue escorrendo pela lateral da cabeça.

De repente me dei conta de que o fogo e o grito de raiva vieram dela. Suas mãos tremiam, e poucas faíscas ainda brilhavam em seus dedos. Ela arquejou ao sentir e ver o sangue pingando em sua mão.

Mancando, me aproximei dela para ajudá-la. Mordi o lábio ao me agachar, a dor me batendo.

-Você está bem? – perguntei pegando seus braços e a erguendo, me apoiando na perna boa. Suas pernas pareciam mais cordas bambas do que firmes. -Como conseguiu fazer aquilo?

-Acho que estou... Não. Não sei como fiz... Ás vezes vejo dois de você. -respondeu ela entre respirações. –O corte é muito profundo? Corro... perigo? E eu não tenho noção de como aquilo saiu de mim. -ela quis rir, mas a dor a fez fazer uma careta.

Tirei parte do cabelo ensanguentado e observei apreensivo. O corte pulsava o sangue, mas era pouco profundo. No entanto, era capaz de ocorrer uma hemorragia se não corrêssemos com ela. Imediatamente senti raiva. Raiva por ter deixado que aquilo tudo acontecesse. Raiva por ter aceitado que ela viesse. Agora estava machucada por minha culpa. De novo.

Travei o maxilar e olhei para Raveno no chão, a pele meio avermelhada, meio cinza, caindo onde havia sido incinerada. Fim da rota do cometa para você. - pensei morbidamente satisfeito.

-Está mesmo feio. -murmurei tentando não me descontrolar. -Precisamos arranjar um meio de entrar na nave. Logo.

-Como? Aquelas criaturas cercaram eles.... Ah não!!! -ela agarrou o meu braço e tentou andar. -Allan... ele vai... ele.... eu tenho que...

Segurei-a e a virei de frente para mim:

-Fique calma, você não está em condições de fazer alguma coisa.

-Não posso! Eles são muitos! Temos que fazer alguma coisa, Víctor. Agora!

Escapando de meus braços ela meio cambaleou, meio correu para longe, indo em direção aos outros. Tentei ir o mais rápido possível atrás dela, mas minha perna e a asa esquerda só me atrasavam. Ultrapassando os limites das árvores, ela chegou onde os guardas estavam com os outros.

-Você... acha um jeito de abrir a nave... Eu procuro eles... -ela disse ofegante pela dor, mas ainda com um jeito imperativo. O sangue pingou em seu ombro, me deixando louco de preocupação.

Sacudi a cabeça e tentei me aproximar.

-Ficou louca de vez? Não vou deixar você andar sozinha, machucada, com assassinos querendo te pegar! É como te entregar a eles numa bandeja!

-Vai logo! -ela gritou e recomeçou a andar. -Eles precisam de ajuda. Não há mais demônios negros. Não corro tanto perigo. Anda!

Eu sabia onde a nave estava. Só não sabia com quem estava o controle de trava da porta. Procurei por Doran. Com certeza estava com ele. O outro homem que estava com Raveno, lutava com um dos elfos. Letícia tentava a todo momento desacordá-lo, mas parecia que ele previa seus movimentos. Ela parecia cansada, agora em sua forma normal, enquanto o atacava com golpes de sua espada. Dezenas de demônios negros, estavam espalhados pelo descampado, mortos. Nem sei como a vizinhança terráquea não havia aparecido ainda.

Guerreiros de Argon -Floresta dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora