6- Conversa estranha

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Naquela noite, quando minha mãe contou o que havia acontecido, meu pai apenas olhou para mim e sacudiu a cabeça com desapontamento, voltando sua atenção para a televisão.

Eu sabia que havia quebrado todas lições de valores que ele havia me ensinado desde pequena. Baixei os olhos envergonhada, mas ainda assim, certa de que eu agira do modo correto com meu amigo.

Meu pai podia prezar o diálogo muito mais do que uma briga, e até eu prezo por isso. Mas vamos admitir que nem todas as vezes o diálogo dera certo para todos. Exemplo disto são as várias e ainda insistentes guerras em todo o mundo.

Se tudo o que existe como defesa para você em uma briga é se juntar a ela e se defender, o diálogo não vai fazê-la parar tão rapidamente assim.

Quando falei da parte em que Víctor nos ajudara, John voltou sua atenção para o assunto, as sobrancelhas se juntando quando pedi sua ajuda.

-Será que você não...poderia conversar com o pai dele? -pedi. -Para que não o castigue muito. Ele só quis nos ajudar, pai.

John refletiu, franzindo os lábios finos.

- E se não fosse por ele, eu poderia estar numa situação pior agora. -O lembrei, certa de que seu veredicto seria totalmente mudado a partir daquela frase.

Meu pai olhou para mim, aquele sorriso de quem entende tudo surgindo, e acenou com a cabeça, concordando em falar com o pai do garoto.

Satisfeita, eu iria dormir uma noite mais tranquila, não fosse o sonho seguinte.

Eu corria pelo jardim de casa com um galho comprido na mão, como que uma espada.

As árvores pareciam mais jovens, e minha casa um pouco mais nova.

De repente, eu vi a silhueta do menino das sombras na minha frente, também correndo. Estava em seu tamanho reduzido, e corria de forma veloz.

Avancei correndo, tentando alcançá-la. Eu iria descobrir quem era. Custe o que custar.

Como se lesse meus pensamentos, e para meu espanto, a sombra virou sua cabeça para trás, mostrando-me seu rosto enquanto corria.

O rosto de um menino que aparentava estar em seus sete anos. Pisquei pasma. A sensação de recordação e lembrança me envolveu de forma intensa, a ponto de eu sentir que estava revivendo aquele dia.

O menino possuía cabelos negros bagunçados que lhe caíam na testa. O rosto ainda era um pouco embaçado. Ele sorriu para mim desafiadoramente e disse:

-Você não consegue me pegar, Jack! -ele ergueu seu galho, de forma instigante, me chamando para um duelo.

A sensação de confiança e amizade cresceu de forma intensa e retumbante, me fazendo sentir segura; uma involuntária felicidade crescente em meu peito.

Senti meu rosto se contorcer involuntariamente em um sorriso de desafio e minhas pernas avançarem na direção dele, empunhando meu galho.

-Veremos! -ouvi a mim mesma dizer. Mas o som de minha voz era diferente. Eu era novamente uma menina de seis anos, pequena, ágil e veloz.

O menino riu de forma ansiosa e veio em minha direção para que começássemos a nossa luta. Mas não era como se fossemos brigar. A luta parecia ser a nossa diversão.

Com um salto, me preparei para bloquear seu golpe e o sonho desapareceu com a risada dele... a mesma risada gostosa e relaxante de meu outro sonho.

Acordei ainda sorrindo de forma involuntária, voltando à realidade. No escuro de meu quarto, meu coração batia de uma forma estranhamente feliz, como se aquela não fosse eu.

Guerreiros de Argon -Floresta dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora