Prólogo

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PRÓLOGO

1º de Abril de 1823

Igreja St. James, Londres

O novo Marques de Longbourne anda, ou melhor, rasteja pelo corredor da igreja como o próprio condenado rumo à forca, o altar sendo o cadafalso, o padre: o carrasco, e sua noiva: a corda que se amarrará ao seu pescoço. Mas suas recém adquiridas responsabilidades exigem tal sacrifício, o bem da mulher que sempre achou que iria casar depende da sua entrega a esse matrimônio certamente infrutífero, é por isso que Henry, levando seu inédito título de Marquês a tiracolo, sobe ao altar com o único objetivo de casar com um dote. Um que tirará a liberdade que tanto aprecia e lhe dará o risco de uma vida tão miserável quanto foi a do pai, levando em conta que sua noiva o odeia.

Catharina estava tão disposta a se casar quanto seu futuro marido. A diferença, entretanto, era que sua falta de ânimo devia-se ao ódio nutrido por ele, não à futura perda de sua liberdade. Ela sempre foi cônscia a respeito do que lhe aguardava na vida conjugal, sua mãe sempre a alertou de que se houvesse qualquer chance de casar-se com algum cavalheiro possuidor de um título aristocrático respeitável, não haveria qualquer possibilidade de negativa. Nada importaria, mesmo que o dito não possuísse um dente na boca ou que contasse com idade suficiente para ser seu pai, o certo seria que ela iria sorrir e demonstrar amabilidade mesmo que sua vontade fosse de esfaqueá-lo. O Marquês de Longbourne possuía todos os dentes e devia ter em torno de trinta anos, o problema era que não tinha escrúpulos e era um verdadeiro canalha.

Catharina olhava-se no espelho avaliando o penteado feito nos cabelos castanhos e a maquiagem leve no rosto, acentuando o verde dos olhos. O vestido creme de seda com pérolas adornando o corpete deixava parte dos ombros nus, as saias volumosas pesavam e ela já havia sido espetada pelo menos meia dúzia de vezes enquanto as costureiras faziam os ajustes finais.

Sempre soube de seu destino, mas nunca avaliou como se sentiria quando o dia finalmente chegasse, e depois de Ernest suas expectativas quanto ao matrimônio aumentaram, ela imaginava que poderia de fato ter uma vida satisfatória, talvez feliz. Já havia participado de duas temporadas sociais e na sua terceira imaginou que por fim sua mãe desistiria de casá-la com um nobre e aceitaria seu casamento com algum cavalheiro respeitável, como Ernest, que vinha conseguindo ganhar seu afeto. Até que o crápula apareceu e renovou as esperanças de sua mãe, que ficou nas nuvens com a possibilidade de casar sua única filha com um Marquês. "Não um Visconde, não um Conde, mas veja bem meu amor, um Marquês!" gritara ao seu ouvido quando Longbourne disse que falaria com seu pai para lhe fazer a proposta, mesmo que até dois dias atrás nunca havia se dignado a olhá-la. Para Catharina fez-se óbvia sua intenção: seu dote, aumentado três vezes, uma para cada temporada que ficou sem a almejada proposta de casamento de um nobre respeitável, a última parte, pensou ela, com certeza foi ignorada pela sua mãe, já que Londres inteira sabia que respeitável não era um adjetivo atribuído ao marquês com frequência. Agora teria que se acorrentar ao maldito. Deus! Teria que se entregar a ele, como conseguiria deitar-se com aquele homem?

Sobressaltou-se com uma batida forte na porta, seguida pela voz estridente de sua mãe:

– Filha, pelo amor de Deus, é natural a noiva se atrasar, mas já deveríamos estar saindo, por favor, você não quer impacientar o Marquês!

Ela iria fingir indisposição até que a lua de mel terminasse e ele voltasse para sua vida libertina, esquecendo-a em casa como todos os maridos faziam.

– Catharina!!!

Deus! Mas ela queria ter filhos, seriam sua companhia, como ela havia sido para sua mãe nas tão frequentes ausências do pai.

– Catharina abra essa porta agora!

Bem, ela se ocuparia com as crianças dos arrendatários e da vila. Com certeza era uma solução melhor do que dormir com o maldito. Ela não iria! Pegou o véu cuidadosamente dobrado em cima da poltrona e saiu a passos largos do quarto, escancarando a porta e seguindo para fora de casa onde a carruagem que a levaria ao seu fatídico destino a esperava.

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