Capítulo 1

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Um mês antes...

Henry Marlow acabara de receber a notícia do falecimento de seu tio, o então Marquês de Longbourne. Isabela, a filha mais velha do falecido marquês, o escrevia com certa frequência, eram amigos e o acordo tácito entre o pai de Isabela e o de Henry acerca do casamento dos dois sempre pairou de forma amena entre ambos, ou pelo menos da parte de Henry, que sabia que estava predestinado a casar-se com Isabela quando lhe conviesse. Já Isabela nutria um forte encanto por ele e, ainda que não visse o primo há quase dez anos, aguardava ansiosamente o dia em que o mesmo cansasse da vida em Londres e a procurasse para que finalmente pudessem concretizar sua união.

Tudo havia sido planejado. O Marquês de Longbourne havia tido duas filhas mulheres, Isabela e Cecília, portanto o título passaria para seu sobrinho. Henry por sua vez iria casar com a prima mais velha e o título permaneceria na família. O que não havia sido previsto, entretanto, era que o falecido Marquês, após a morte de sua esposa, iria defasar seu patrimônio quase por completo, imerso na libertinagem, no mundo da jogatina e decidido a dar uma vida luxuosa a suas amantes, morrendo prematuramente, aos 53 anos, de sífilis. Deixando suas duas filhas, Isabela, de 25 anos, e Cecília de 18, desamparadas e a beira da miséria.

Henry, agora Longbourne, não tinha muitos recursos financeiros por si só. Após concluir seus estudos, ao invés de procurar um emprego, continuou na vida que sempre levou: fazendo viagens, indo à festas campais que duravam dias e que eram palco de acontecimentos indizíveis para qualquer cavalheiro de respeito. Depois que sua mãe abandonou a ele e a seu pai e deste último falecer dois anos depois, bêbado em um acidente, Henry se sustentava jogando e fazendo pequenos trabalhos contábeis à amigos. Agora como Marquês havia muito mais coisas em jogo do que apenas seu alimento, vestimentas e suas necessidades básicas. Ele possuía um marquesado para reconstruir, e suas primas, empregados e arrendatários para sustentar. O senso de responsabilidade fez-se presente e Henry Marlow escreveu à Isabela e ao administrador da propriedade principal, em Gloucestershire, assegurando que resolveria tudo, só precisaria de um pouco de tempo para encontrar a solução.

A resposta bateu a sua porta cinco minutos depois de ter enviado sua correspondência. Era a entrega do jornal. Henry pegou-o e sentou-se à mesa de café da manhã no seu pequeno apartamento. Seus olhos inexplicavelmente foram certeiros para a coluna social, que ele nunca lia. Naquele dia, entretanto, leu o primeiro parágrafo do trecho de fofoca:

A senhorita C. R., filha do barão G. R., teve seu dote aumentado pela terceira vez. Você, querido leitor, deve saber que o primeiro dote da senhorita R já era bastante substancioso, e isso meu caro, acredite, é o eufemismo do século! Será que a baronesa D. R, mãe da senhorita R. pretende fisgar um ducado para a filha? Bem, o valor atual do dote é certamente suficiente para sustentar um...

Henry parou de ler. Sabia quem eram as pessoas mencionadas, George Rickard era o barão mais rico de Londres, apesar de não ser membro da alta aristocracia, ele e a família frequentavam todos os eventos da mesma, por conta de sua grande fortuna. A mãe da garota claramente queria casá-la com um aristocrata e Henry precisava desesperadamente de dinheiro. O dote substancioso era perfeito. Talvez mais do que perfeito se a autora não for dada a exageros, pensou.

Ele tomou sua decisão. Iria se casar com a garota, que provavelmente era mais uma das muitas debutantes fúteis que só tinham cérebro para falar dos vestidos que estavam na última moda e dos partidos mais bem posicionados na escala social, e ele, agora que era marquês, era um dos que estavam no topo dessa escala. A moça provavelmente se derreteria assim que ouvisse seu título. Como era mesmo o nome dela? C, começava com C, bom, isso não importava, ele já a tinha visto algumas vezes e ela, pelo menos de longe, era uma criatura de aparência razoável, talvez um pouco mais vultosa do que ditava a sociedade, mas francamente, isso era um ponto a seu favor. No geral, não seria nenhum sacrifício levá-la para a cama, Henry só não sabia como seria levá-la para cama todas as noites, pois jamais faria com a esposa o que o pai fez com a mãe, jamais a humilharia daquela forma, independente dos meios que ele conseguisse o casamento, ele não submeteria a garota a isso, por esse motivo ele havia adiado o casamento com a prima, queria aproveitar sua liberdade pelo máximo de tempo possível e permitir também que ela fizesse o mesmo. Sempre falava em suas cartas que ela poderia ficar à vontade para envolver-se com quem quisesse, pois ele certamente estava fazendo isso. Até agora. Não sabia o que esperar dessa nova fase da vida, só sabia que precisava agir, precisava casar-se com a garota, precisava casar com o dote.

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