O Resultado

3.6K 105 16
                                    

O Resultado

Pensei, pensei e pensei. Nada conseguia sair de minha cabeça, já era a terceira ou quarta vez que eu sentava para lhes escrever esse pequeno conto, mas nunca conseguia fazer algo que de fato valesse a sua atenção, foi então que cansada de ideias e raciocínios mirabolantes, decidi contar a real historia, o que de fato aconteceu com a pequena menininha que aos oito anos foi estuprada pelo próprio padrasto.

A pequena criança loira crescera, eu adoraria dizer que sua vida tinha melhorado ou que ela não sofrera tanto com o ato imprudente daquele monstro, mas seria mentira. A depressão angustiava o ser da pequena, nada conseguia fazer-lhe feliz; desde aquele maldito dia ela se fechara, achava que aquilo tinha sido um castigo e então se fechou. Não conhecia nada sobre o mundo sexual até que aquilo lhe acontecera, nunca havia escutado nada sobre aquilo na escola ou com os amigos, era uma criança! No entanto, tratou de pesquisar — com as poucas ferramentas que tinha — tudo sobre o que lhe acontecera, a principio ela estranhou aquilo, começou a pensar que era algo normal — vamos entender o lado da garota, ela nunca teve um pai, quando seu padrasto lhe tratou bem e lhe feliz sorrir, ela achou que ele sabia o que fazia e não era algo ruim. —, mas ninguém na escola comentava sobre isso, ninguém lhe dizia nada a respeito, então, ela deixou para lá, continuou vivendo a vida.

A garota cresceu. Tinha agora dez anos. Iria se mudar, da cidade pacata no Distrito Federal para uma também cidade pacata em Minas Gerais. A criança agora tinha uma parte de sua personalidade formada, mas devo ressaltar que antes daquele ato ela era um tipo de pessoa, depois, outra pessoa. Porém ninguém percebeu, somente ela percebeu que com o passar dos tempos, não conseguia fazer algumas pequenas coisas que fazia com frequência. E uma dessas coisas era fazer amigos. A garotinha cansou de ouvir sua mãe dizer para os outros — e dizia com muito orgulho — que a filha era extrovertida e fazia amigos com muita facilidade. Ela dizia que a filha era feliz e alegre o tempo todo. Isso não era mentira, antes de conhecer o cara que seria seu padrasto, a menina era uma menina tão feliz, seu irmão era sua melhor companhia. Agora tudo mudou.

Na nova cidade ela conheceu novas pessoas e conheceu o tio que vira somente quando bebê. A pequena amava o tio! Ele era muito pobre e doente, mas sempre tinha uma forma de agradar a menina com balas e doces que ela amava. Ele a fazia sorrir e sempre a abraçava quando ela estava triste. Lia, como a mãe sempre lhe chamava, um dia foi para a nova escola. Era seu primeiro dia de aula. Estava amuada e quieta num canto. Não queria fazer amigos, nem queria ser amiga de ninguém, estava chateada por ter deixado seu lar e suas amigas na cidade onde crescera. Logo ela chamou atenção, era uma menina de personalidade forte, não gostava de erros e sempre era a melhor aluna da classe. Ela se policiava para isso. Queria ficar grande e ter muito dinheiro para fazer a cirurgia de catarata da mãe, seu sonho era poder saber que sua mãe enxergava perfeitamente.

Lia acordou cedo para ir à escola, era um dia qualquer, já se passaram meses desde sua vinda para Itamarandiba, a cidade pacata de Minas Gerais. O dia parecia que iria chover, a natureza parecia se compadecer da menina, parecia chorar junto com ela. Bem, Lia não acordara triste esse dia, pelo total contrário, ela estava feliz, amava dias frios. Quando saiu para a escola, seu coração pesou, mas seguiu caminho. A angustia não saía de seu peito, na verdade, nada conseguia lhe fazer tão alegre quanto todos os dias. Suas colegas não perceberam isso, claro, ela aprendera a esconder seus medos, suas angustias e suas dores, sorria por fora, chorava por dentro. Todavia, ninguém percebia. Ao chegar em casa, Lia descobriu o porque estava todo o dia angustiada.

A chuva caía sem parar, a céu agora parecia chorar com o que estava por vir, ou, como mais tarde a garota preferia dizer: "eu acho que aquilo só aconteceu porque estava chovendo, se não todas as portas e janelas estariam abertas, e provavelmente eu estaria na casa de meu tio." O que aconteceu ali, caro leitor, foi o que mostrou a nossa pequena Lia que o que vivenciara com o padrasto não era algo normal.

Lia, almoçou, e foi se deitar, esperar a chuva passar enquanto lia a matéria que aprendera na escola no livro didático. Foi então que ela o ouviu chamar seu nome. Seu padrasto estava deitado na sala, onde forrara alguns lençóis. Ela não queria se deitar, estava ocupada estudando e também porque se lembrava vagamente do episódio que ocorrera aos oito anos. Ele a chamou mais uma vez. "Se você não vir eu vou contar para sua mãe que você foi não obediente e ela vai te bater e muito". Eu não sei em que época você está lendo esse livro, mas até o inicio do século XXI os pais podiam bater em seus filhos com o intuito de educar-lhes, esse método funcionara muito bem com a pequena Lia, e por funcionar tão bem, ela foi obediente e se deitou ao lado do homem negro. Com certo medo, ela se deitou do outro lado, quase chegando no chão frio. Tremia de medo. Ela agora sabia o que esperar desse monstro, e nada podia fazer, não conseguiria se defender se algo acontecesse, e foi então que ele a obrigou a chegar mais perto e já querendo chorar, ela se aproximou e sentiu o que não queria: a mão daquele monstro tocar-lhe suas intimidades.

Ela não podia chorar, ele poderia bater em seu rosto, ela não poderia gritar, não seria ouvida por tamanho barulho da chuva, e então, sem para onde correr, fechou os olhos e pediu proteção ao Papai do Céu, que em sua consciência era o único que podia lhe ajudar.

De fato Ele a ajudou, momentos depois de ela pedir-lhe proteção, ouviu-se uma batida na porta trancada, tinha alguém com muita pressa do outro lado, Lia sorriu com a possibilidade de ser sua mãe, e então se levantou as pressas e abriu a porta, agradecendo a Deus por ver sua progenitora ali, em sua frente. A mãe da criança estava com um guarda-chuva e pedia para entrar, a filha deu passagem e a seguiu até o quarto, mas antes mesmo de cogitar a ideia de contar para sua mãe o que estava acontecendo antes de sua presença, seu padrasto foi logo dizendo que ela havia acabado de acordar, por isso toda aquela euforia. Nunca saberemos se a mãe da pequena acreditou ou não, mas de qualquer forma a criança não contaria, estava com medo o suficiente para deixar escapar algo que fizesse seu padrasto lhe machucar.

Depois daquele fato, Lia não lembrou de outros, no entanto se lembrava de alguns dias onde o padrasto chegava em casa bêbado e a deixava com medo, porém nunca aconteceu nada — nada que ela se lembra, devemos ressaltar... Mas então o grande dia chegou, na cabeça da criança, o dia que tudo melhoraria.

E A Garotinha Chorou (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora