6 - Visita

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Bato a porta do escritório, tio Roger está concentrado em alguns papéis e então fez um gesto para que eu entre.

- Tio temos um problema.

Ele enfim olha para mim.

- E o que seria?

Eu então revelo a ele o ocorrido da noite passada para pedir ajuda, conto a conversa que tive com Malik e sobre as fotos.

- Esse tal menino, Malik não é? Ele mostrou essas fotos para mais alguém?

- Acho que não deu tempo dele mostrar.

- Isso é realmente perigoso, temos de intervir, o garoto é responsabilidade nossa agora.

- Acho que não é necessário.

- O que você sugere Luna? Que o entreguemos aos lobisomens?

Até que não é uma má ideia. Mas eu sei que tio Roger nunca aceitaria isso, ele sempre foi leal a seus princípios. Como eu, ele tinha sido atacado em uma floresta enquanto estava catalogando espécies, como biológo ele vivia em meio a natureza, um vampiro o atacou e por pouco não o matou. Ele estava pesquisando novas espécies quando me viu sendo perseguida e atacada, o vampiro estava brincando comigo, quando tio Roger finalmente tinha conseguido acabar com o vampiro eu já estava muito ferida, com muitos ossos quebrados e vomitando sangue. O único jeito de me salvar foi me transformar.

Na noite passada quando vi Malik sendo perseguido eu me vi nele, e talvez tenha sido essa identificação que tenha me impulsionado a salvá-lo, porque a verdade era que eu gostaria de que tio Roger tivesse sido mais rápido, que não tivesse que ter me transformado. Gostaria de ter tido uma vida normal, casar, ter filhos, envelhecer.

Envelhecer.

Aquela palavra só existiria para mim em um diálogo, ou um livro. Nunca seria concreto, nunca.

- Então o que você sugere tio?

- Temos que protegê-lo, nem que para isso ele tenha que ficar aqui por um tempo.

- O quê? Não, de jeito nenhum, eu posso tentar apagar as fotos.

Tinha que ter outro jeito.

- Tarde demais Luna, o garoto sabe demais, estou surpreso que não o tenham matado ontem mesmo. Ele e quem estiver por perto estão em perigo. É melhor que sejamos nós do que a família dele.

- Não podemos enfrentar uma matilha de lobisomens.

- Não precisamos necessariamente enfrenta-los, vou pensar em um jeito. Por enquanto é bom ficar de olho nele, quero falar com ele o mais rápido possível.

- Tudo bem - tio Roger sabe o que está fazendo eu não vou discutir mais - Amanhã eu falo com ele

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- O que você tanto procura Luna? - Celine pergunta.

Estamos no refeitório, eu não tinha visto Malik durante toda a manhã, ele não tinha ido para a aula e eu estava com esperança de ser apenas um atraso, mas agora na hora do almoço é improvável que ele apareça. Por que não tinha vindo para a aula? Seria porque os lobos tinham ido atrás dele?

- Nada, só estou observando e aprendendo alguns hábitos dessa geração. - respondo.

O que não é totalmente mentira, muitas coisas haviam mudado, os jovens dessa época - em comparação a última vez que eu tinha frequentado o colégio - haviam mudado drasticamente. Os gestos, as falas, roupas, até mesmo o humor são outros. Eles gesticulam mais, não são tão contidos como antes, falam mais, e as roupas, principalmente das meninas, mostram mais o corpo.

Nós sempre nos adaptamos a época. Vestuário, tecnologia e até mesmo gírias eram pesquisados para que pudéssemos nos misturar as pessoas. Isso não me impedia de me sentir deslocada.

Eu sou uma estranha vivendo em uma época estranha.

Quando foram iniciadas as aulas da tarde, eu já tinha desistido da ideia de Malik aparecer. Algo tinha acontecido com ele e eu verificaria mais tarde. Na hora da saída dei uma última olhada, mas sabia que seria em vão.

Chegamos a mansão e entramos, algo está diferente, meus primos param na entrada da sala de estar.

- O que deu em vo... - eu paro e congelo, não pode ser.

Malik está sentado no sofá junto com tio Roger, tia Chloe sentada na poltrona com uma cara muito séria. Essa é a mais improvável das visões, e é real.

- Chegaram finalmente. - Malik sorri.

- O que você está fazendo aqui? - não tento esconder meu desagrado.

Ele dá de ombros como se não fosse nada, e para ele provavelmente não é. Ele está no meio de quatro vampiros, ali sentado no sofá, cheio de sangue correndo nas veias, sem imaginar o perigo que corre.

- Seu tio me convidou.

Olho para tio Roger, ele me encara sério, seu rosto é uma máscara, e eu sei que não vai me dar nenhuma explicação. Não agora.

Ele continua: - Perdi o ônibus da escola, e já que seu tio tinha me ligado ontem, perguntando sobre as fotos, eu decidi vir mostrar pessoalmente.

Tio Roger tinha ligado para ele? Por que ele não contou nada? Por que Malik não tinha ido de carro para a escola? Por que ele precisava vir até aqui?

Conveniência demais, desculpas demais, nada se encaixa. Mentira. Essa é a palavra.

- Olhe, eu revelei algumas, são lindas demais para ficar no computador. - fala Malik me entregando as fotos.

Nossas mãos encostam levemente, é apenas um roçar de mãos mas uma onda de eletricidade passa por todo meu corpo. Eu recuo alarmada, espero que ele não tenha percebido como minhas mãos são geladas.

Olho as fotos, são vários lobos em volta de uma grande fogueira, existem dois homens nas fotos também. Um eu reconheço como o vampiro que atacou Malik, o outro deve ser o alfa da matilha, e eu deduzo que está na forma humana para que as duas espécies entendam o que está dizendo. São fotos tiradas de vários ângulos, como ele conseguiu tirá-las de tão perto e demorar tanto para ser detectado?

Apesar do encontro improvável de espécies inimigas e a atmosfera macabra que existe ali, as fotos não deixam de ter sua beleza. Isso se dá principalmente pelo olhar artístico do fotógrafo.

Malik tem talento.

- Então o que achou? - ele pergunta ansioso.

- São lindas. - eu devolvo as fotos, dessa vez com cuidado. Nenhum contato, isso é importante.

- Seu tio também achou, por isso me convidou para tirar as fotos que vão para o livro dele.

Livro? Mais uma surpresa, explicações teriam que ser dadas mais tarde.

- Claro, o livro. - falo

- Que livro? - pergunta Petros, e eu só posso pensar que de todos os momentos daquela conversa, ele escolheu o pior para falar.

Celine o olha com raiva: - O que o titio está escrevendo, seu imbecil.

Ele finalmente entendeu a mensagem, pois ficou quieto.

- Bom Malik, - fala tio Roger levantando - vamos? Quanto antes começarmos melhor.

- Mas tão rápido?

- Sim Luna - tio Roger me lança um olhar de " fique quieta, eu sei o que estou fazendo".

Eu não discuto, em parte porque estou pasma. O aconteceria daqui para frente? Viveríamos com um humano em casa? Até quando?

- Luna? - fala tia Chloe, que até aquele momento estava encarando um ponto fixo no chão - Biblioteca, agora.

Antes de ter as respostas que eu queria, teria que dar algumas a tia Chloe.

LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora