Domingo à Noite

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Deitado no sofá
Escutava o vizinho do lado
Com seu violino recém comprado
Arranhar a nota fá.

Enquanto alguns rezam preces,
Aquele homem me enlouquece
Levando-me liricamente
A minha loucura inerente.

Suas notas me entorpeciam,
Tragava-as em dragos,
São como rasgos
De onde questões floresciam.

Tantas perguntas
Sem respostas;
Tantas melodias
Sem harmonias.

Uma inquisição
Da qual não tinha
Sequer salvação.
Ele me exigia algo:
Me queria além do raso.

Até que em meio ao festim,
O silêncio caiu feito cetim.
Rápido e suave,
Um pouso de ave.

Onde estava a música
Que regia minha epifania?
Ele desistira?
Já cessara a euforia?

Com o silêncio instalado,
E subitamente frustado,
Me percebi impactado.

Ainda era domingo à noite,
Mas agora o silêncio que em mim pairava
Me encobria igual bruma;
Mas agora os pensamentos açoite
Com os quais minha mente se torturava
Me engoliam como espuma.

Ainda estava deitado no sofá,
Errante como aquela nota fá.

Caco GrafiaOnde histórias criam vida. Descubra agora