Capítulo Treze

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"Crianças começam amando os pais. Ao crescerem, julgam. E às vezes os perdoam".

Oscar Wilde

Adalynd Doddyson


Pare tudo que estiver fazendo e se imagine no seu lugar favorito, não importa o lugar ou o momento que esteve lá escolha apenas um, foi uma frase que minha irmã me disse numa das nossas últimas conversas algumas horas depois que mandei minha solicitação para a Academia de Treinamento de Criminologia.

Existem tantos no mundo, alias por toda essa cidade existem lugares que eu adoro foi a minha resposta, incluindo a cafeteria duas quadras de onde eu morava, era um lugar relativamente famoso e estava sempre lotado, os atendentes costumavam desenhar coisas legais no café ou chocolate de todo mundo e era engraçado ver os nomes sendo chamados quase sempre errados.

Agora eu estava lá dentro numa das mesas encarando a rua pela janela, esperando por respostas que pensei que nunca conseguiria.

- Sua mãe tinha essa mesma expressão na noite em que me contou que estava grávida de você. E isso me diz que eu devia temer pela minha vida. – Disse meu pai assumindo a cadeira a minha frente. – Eles vendem café de verdade ou só essas coisas desenhadas?

- Quando você me achou? – Perguntei ainda olhando para a janela ao meu lado, mas eu não estava mais prestando atenção no que acontecia lá fora. – E porque não voltou antes?

- Eu não podia voltar antes porque com a nossa falsa morte naquela noite tivemos que apagar nossa existência do mapa, fizemos um juramento aos nossos superiores do departamento secreto de que não tentaríamos contato para não comprometer a segurança de vocês, isso era prioridade. – Explicou Jonathan segurando uma de minhas mãos sobre a mesa de madeira, porém sutilmente a puxei e coloquei ambas embaixo da mesa para evitar o contato, eu estava chateada demais para ao menos tentar ser sociável com ele por enquanto. – E depois quando as coisas estavam calmas de novo já haviam se passado tempo demais e você e sua irmã já haviam passado pela fase do luto e voltar depois do que enfrentaram além de bagunçar a vida de vocês de novo também poderia colocar ambas em risco, foi quando descobriram sobre vocês e sabotaram o avião da sua irmã e do marido dela... Gabrielly estava gravida.

- O que? Gabrielly estava... Ah que droga, isso torna as coisas ainda piores e menos jutas para terem sumido das nossas vidas. – Falei arregalando meus olhos sentindo como se alguém tivesse me dado um soco no estomago. – Nunca passamos de verdade pela fase do luto naquela época se quer mesmo saber. Gabrielly tinha o Kevin ao lado dela praticamente o tempo todo e eles sempre tentaram me manter por perto para poderem ficar de olhos e garantir que eu não fosse mais gritar no meio da noite por conta dos pesadelos, mas mesmo assim a fase do luto foi um verdadeiro inferno.

- Eu sei e eu sinto muito por tudo isso querida. – disse meu pai acenando para uma atendendo pedindo um café ou qualquer coisa que não envolvesse um desenho na bebida.

- Não Jonathan, você não tem ideia de como foi porque você não estava lá no dia do enterro quando Gabrielly só conseguia chorar dia após dia quando pensava que eu não estava ouvindo do meu quarto no meio da madrugada e eu sentia um buraco ser aberto dentro de mim por não conseguir ter feito qualquer coisa para que nada tivesse acontecido com vocês naquela noite. – Falei asperamente sentindo uma onda de raiva acumulada durante anos finalmente despertar e ganhar força total. – Você não viu dia após dia o brilho dos olhos da minha irmã se apagar até quase não sobrar quase nada para mantê-la de pé seguindo a vida, você não nos viu no fundo do poço a ponto de ficarmos trancadas no quarto por semanas sem conseguir fazer nada além de chorar e dormir e não sabe o trabalho que o pobre Kevin teve para não deixar a Gaby me fazer tomar antidepressivos e remédios pesados para dormir porque eu estava uma sombra da pessoa que eu costumava ser e desejava poder morrer para não ter que acordar no dia seguinte e saber que os meus pais nunca mais estariam comigo. E agora têm pessoas atrás de mim, pessoas que derrubaram o avião da minha irmã e estão tentando me pegar!

- Não vou deixar nada machucar você, eu não vou deixar isso acontecer, eu já perdi demais para falhar com você também. – Disse Jonathan com a voz mais seria dessa vez.

- Minha equipe vai me proteger do que está acontecendo, estou bem assim Jonathan, não precisa se preocupar. – Disse Adalynd evidentemente desconfortável com a presença de seu pai.

Eu amava o meu pai mesmo depois de toda a dor que havia sentido com a perda da minha mãe e irmã, mas depois de passar tanto tempo pensando que ele estivesse morto isso me fazia ter a sensação de que nunca mais conseguiria chama-lo de pai novamente e se acontecesse um dia também seria algo que não aconteceria tão cedo.

- Sua equipe, isso inclui o seu namorado agente certo? – Perguntou Jonathan de um jeito ainda mais áspero que antes ao me encarar. – Aliás, qual é o lance de vocês dois? É algo sério mesmo?

- Spencer é a luz da minha vida. – Rebati rapidamente encarando o meu pai pela primeira vez desde que iniciaram a conversa.

- Exagerado, não acha? – Perguntou Jonathan franzindo a expressão demostrando evidente desconforto com minhas palavras.

- Não, isso não é exagero quando ao conhecer Spencer finalmente me senti feliz de verdade pela primeira vez na minha vida, ele me faz feliz e depois de tudo que eu já passei mereço ser feliz e Spencer me deixa feliz. – Revidei também sendo áspera a altura, ele era meu o pai, mas foi ausente o bastante para não ter direito de me proibir de ser feliz com alguém. – E vem cá, porque socou o Elliot?

- Eu o conhecia por causa da Emily... E soube do que aconteceu entre vocês um dia depois de convencê-la a me dar o seu endereço novo mesmo sabendo que isso poderia ser uma armadilha para mim e quando o vi o soquei porque ninguém machuca minha pequena e sai ileso. – Disse Jonathan dando de ombros agora dando atenção a sua bebida que se resumia a um café puro sem açúcar exatamente como minha irmã gostava; eles eram tão parecidos e isso era irritante as vezes. – Sei que o que eu e sua mãe fizemos com vocês duas foi injusto e não tem porque me perdoar agora que sabe a verdade sobre o que fizemos e porque fizemos, mas eu preciso pedir pra não ficar com raiva mesmo assim, por favor. Filha quando eu soube da queda do avião e não sabiam dizer se você estava lá também... Perder a sua irmã foi a pior dor que eu já senti na minha vida, não me afasta de você também agora, por favor.

- Eu só... Jonathan, eu preciso mesmo de um tempo para processar tudo o que está acontecendo e também descobrir quem está querendo me matar, então eu não posso lidar com você agora de jeito nenhum, por favor. – Falei levantando e colocando uma nota de 50 na mesa. – Inclua o seu café e deixe o resto de gorjeta, eu preciso voltar para o apartamento de Spencer antes que ele acorde e perceba que eu sumi sem deixar um bilhete dizendo onde estaria.

Exatos dez segundos depois meu celular tocou e era meio obvio quem poderia ser então apenas coloquei o aparelho na orelha.

- Spencer, eu sei que deve estar morrendo de preocupação, mas eu estava com meu pai numa cafeteria já estou voltando para casa ok? – Falei enquanto caminhava em direção ao quarteirão seguinte na rua tive a estranha sensação de estar sendo seguida. –

- Você não podia ter saído sozinha sem alguém pra cuidar da sua segurança, eu podia ter ido com você e esperado no carro do lado de fora. – resmungou Spencer com a voz tensa do outro lado da linha. – estou me vestindo, onde você está?

Era lindo o jeito que ele me protegia, mas também era irritante.

- Me desculpe por ter saído sem... – Comecei, quando senti alguém me cutucar, era um rapaz que parecia perdido segurando um pedaço de papel parecendo procurar um endereço ou algo do tipo. – Só minuto Spencer, por favor. Sim?

- Adalynd, onde você está? – Ouvi Spencer perguntar no telefone.

- Moça, pode me ajudar, por favor? – Perguntou uma voz desconhecida em minhas costas. Parecia britânico ou russo pelo sotaque carregado. – Desculpe, eu estou meio perdido.

Bingo, ele provavelmente era um turista.

- Adalynd, com quem está falando? – Perguntou Spencer mudando o tom de voz para preocupado.

- Um turista parecendo perdido, me dê só um se... – Comecei a falar, porem senti uma dor forte na cabeça e desmaiei.

A escuridão me abraçou friamente, ainda assim de algum jeito que eu não fazia ideia uma parte um pouco consciente do mundo lá fora poderia jurar que ouviu Spencer gritar do outro lado da linha, porem através da minha ultima tentativa de manter os olhos abertos vi o rapaz de antes quebrando meu celular na calçada.

Apaguei. 

Criminal Minds - I found LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora