Não posso dizer que é tudo 'às mil maravilhas' nessa vida profissional que eu levo, mas é o que eu gosto e sempre consegui fazer, você pode pensar que ficar ouvindo os problemas e decepções de um monte de gente que você nunca viu na vida é perda de tempo, mas por incrível que pareça, eu sempre gostei de ouvir e conversar sobre o que os outros sentiam, tanto que acabei me deixando de lado por muito tempo, mesmo que já tenha superado muita coisa ruim da minha vida depois de um tratamento, entendo que ainda preciso tomar cuidado. Você deve estar imaginando certo, eu sou psicóloga sim. Mas também passei por vários profissionais iguais a mim, já tive muitos demonios dentro da minha cabeça.
Posso dizer que trabalhar com psicologia não me garante estar bem o tempo todo, ainda tenho muitas inseguranças e sou muito nova nesse ramo, tenho muito a aprender sobre meu trabalho e sobre mim.
O fato é, pessoas entram e saem da minha vida constantemente, e obviamente, eu acabo criando algum tipo de laço afetivo com elas, por mais sútil que seja, sempre existe. Claro que é algo que não passa muito do limite profissional, mas costuma me afetar, mesmo que seja pouco.
Mas vamos ao que interessa, e se eu disser que as vezes não sei diferenciar as coisas? Não, eu não sei. Foi assim que ele entrou na minha vida, provando pra mim o contrário de muitas das minhas certezas, me tirou a razão ilusória que eu achava que tinha sobre minhas relações e sentimentos. Eu podia provar muita coisa cientificamente, com todo o tempo que eu gastei estudando para aquilo que eu tanto amava, mas ainda não havia achado explicação para o amor, se houve alguma, eu devo ter me perdido no meio da aula, porque era algo que eu nunca havia entendido antes, talvez pela falta de experiências do tipo, já que estive sozinha grande parte da minha vida.
O que mais vi foram pessoas realmente interessantes, cheguei a me revoltar ao ver indivíduos tão especiais terem que passar por doenças tão cruéis, não que alguém merecesse aquilo no lugar deles, mas vi tanto talento escondido atrás de uma parede que se formou dentro dessas pessoas em consequencia de seus problemas, pessoas que poderiam ter uma vida boa de verdade.
Entre elas, retomo a falar sobre ele. Kwon Jiyong era seu nome. Um nome forte, talvez combinasse perfeitamente com seu significado: Dragão. Jiyong parece ter nascido para ser bem sucedido, tudo nele esbanjava a sensação de capacidade, liderança e esforço. Porém, ele se encontrava totalmente perdido em si, sua grave crise de identidade já se fazia presente há vários anos em sua vida. Simplesmente não sabia quem era, ou o que lhe faltava, já que sentia um grande vazio boa parte do tempo, por achar que não bastava o material, e que na verdade, algo faltava dentro dele.
Era uma pessoa única, realmente. Tinha talento pra música, pra arte, pra poesia, era muito inteligente. Mas por que ele havia mexido comigo desse jeito? O que poderia ser tão diferente nele ao ponto de me fazer sentir algo que não sentia há anos?
Talvez eu só estivesse entediada ou carente, ou os dois, mas não sabia se era certo sentir aquilo, até porque, havia quinze dias que eu tinha conhecido ele. Bem cedo, eu sei.
Pelo que pude perceber, mesmo tendo conversado pouco com ele nas duas visitas que ele me fez, vi que seus olhos escondiam muito mais do que ele me disse, podia ver dor e inseguranças, coisas que pelo que eu entendi, ele não compartilhava com os que o rodeavam, deixando transparecer apenas o lado mais superficial de seus problemas.
Era algo que eu precisaria exercitar com ele, mas pelo jeito, eu teria que ouvir tudo, já que seus amigos já eram ocupados demais com seus próprios problemas. O que não era empecilho pra mim, já que era basicamente essa a minha função, ouvir os outros era meu forte.
Penso nisso tudo enquanto ponho mais outro gole de café com leite em minha boca, me encontrava na hora do almoço, em pleno refeitório que ficava nos fundos da clínica, um lugar pequeno, porém cercado pela natureza e a céu aberto. Havia acabado de ter uma refeição e resolvi tomar o café, era um hábito meu. Podia ouvir os pássaros dando assobios agudos e sentir a leve brisa bater na minha nuca.
Percebo alguém se aproximando da minha mesa, levantei o olhar para enxergar meu amigo Rida, puxando a cadeira para se sentar.
- Senshi! Você tá muito ocupada hoje? Parece distante. - o rapaz alto, de cabelos negros e um sorriso simpático chegou perguntando.
Rida era meu melhor amigo desde a faculdade, felizmente tivemos a chance de virmos pra mesma clínica, nós nos considerávamos irmãos um para o outro.
- Oi Ri, realmente estou meio distante, mas é só preocupação mesmo, você sabe que com um pouco de paciência isso passa. - o respondi, dando um leve riso e piscando pra ele.
A verdade é que eu estava pensando no meu paciente especial, e me dando conta de que aquilo não era certo, eu podia me meter em problema se me envolvesse emocionalmente com algum paciente meu, nosso chefe não aceitava esse tipo de coisa, ele deixou isso bem claro desde o começo, disse que não permitiria casos desse tipo, porém não especificou o que seria a punição.
De certa forma, eu dava razão para ele. Ele estava certo, no final. Nós estávamos ali para trabalhar, nada além disso.
- Senshi? Ei. - Rida me chamou, me fazendo perceber que ele ainda estava ali, e com uma expressão meio preocupada.
- Desculpa, eu não devia tá assim. Vamos voltar ao trabalho? - pus um fim na conversa.
- Tudo bem então. - respondeu
Nos abraçamos e seguimos nossos caminhos até nossas salas. Eu não tinha muito o que fazer neste dia, não haviam consultas marcadas para mim, só tinha que organizar minhas coisas, nada mais. Aproveitei que não tinha muito o que fazer e voltei a pensar, agora estava pensando realmente no Jiyong. Não era possível eu pensar assim de um paciente, ficava negando pra mim mesma o fato dele ter mexido comigo, mas tenho que admitir que ele era realmente fascinante.
Entretanto, pensava comigo mesma, como eu poderia trabalhar com o coração tão confuso desse jeito? Talvez isso me atrapalhasse demais, talvez me ajudasse. Eu realmente não sei.
"E agora, que justamente a pessoa que ajuda os outros a se encontrarem, estava perdida por causa de uma das várias pessoas que ela ajudou? Por que aquele tinha que mexer com ela? Acostumada a analisar as pessoas, dessa vez ela não sabia por onde começar, não sabia explicar ele ou o que era tão complexo sobre o rapaz que a fazia ter um nó nos neurônios."
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Falling Without You (G-Dragon)
FanfictionA vida de uma pessoa pode realmente ser mudada por algo com que ela convive diariamente? Ou esta já deveria estar acostumada com o desapego sentimental? O que pode cruzar a linha que limita o pessoal e o profissional? Talvez o amor, talvez a dor. Se...