*Jiyong POV*
Me desligar do mundo era um desejo constante no meu dia-a-dia, tudo que me fizesse ficar longe da realidade eu aderia, principalmente quando se tratava de arte e música, era uma maneira rápida de fugir de todos os meus problemas e preocupações.
Tudo que eu sentia era vazio e solidão, soava como uma chamada de socorro ecoando em minha cabeça, eu não sabia o que fazer, eu não QUERIA fazer absolutamente nada, e cada vez mais, parecia que eu estava sozinho e ninguém podia ouvir os gritos de meu subconsciente. Não consigo me enxergar no espelho, ver quem eu já fui algum dia, eu não sei quem sou. A vergonha que sinto do estado em que cheguei é imensurável, como eu pude me deixar perder a tal ponto?
Okay, agora vamos direto ao assunto, depois desse drama todo, posso dizer que minha rotina está sendo assim desde muito jovem. Eu não exagerei quando disse o que eu sinto, o sentimento de perda e vazio é realmente presente em minha vida o tempo todo. E o que eu poderia fazer pra mudar isso? Passei tanto tempo nisso que cheguei a me acostumar a me sentir assim, mas pelo jeito, alguma coisa dentro de mim estava me sacudindo e gritando bem na minha cara que aquilo não era certo, que não era o que eu merecia. Era como se eu olhasse meu reflexo e ele estivesse quase atravessando para o outro lado no intuito de me dar uma surra moral. Decidi procurar ajuda. E encontrei.
Resolvi pesquisar na internet. Sim, é o mais fácil e não muito seguro, mas aquilo já era muita coisa pra uma pessoa que não tinha iniciativa de nada. Cheguei a um site que me parecia ser confiável, tudo bem que todos parecem, mas eu já passei um bom tempo na internet pra saber diferenciar. Dei uma rápida olhada pela página e encontrei o número, resolvi ligar na hora, antes que eu me arrependesse.
Deu certo depois disso, a clínica existia de verdade e funcionava legalmente, o que era algo glorificável de se encontrar na internet. Comecei a frequenta-la toda semana, eu estava fazendo um esforço que não imaginei que poderia fazer, ainda mais sozinho, como eu estava a maior parte do tempo.
Minha psicóloga se chamava Senshi, era uma moça mais ou menos da minha idade, perto dos 30. Ela parecia ser muito ligada aos pacientes, pelo pouco tempo que passei com ela, mas quem sou eu pra entender uma psicóloga? Eu que precisava ser entendido.
Era uma mulher bonita e de aparência simples, que poderia não chamar a atenção de muita gente, coisa que acho que era sua intenção, ela não parecia ser alguém que queria ser reconhecida de longe, por exemplo. Usava uma maquiagem básica e, como todo bom profissional dessa área, era muito simpática, mas não chegava a ser muito chamativa. Gostei dela de cara, mas me veio ao pensamento se ela gostaria de alguém como eu, o que não entendi na hora, pois foi algo totalmente súbito e sem sentido pensar naquilo, afinal, eu era seu paciente.
Não podia nem pensar em gostar de alguém que nem ela, sua profissão e sua personalidade estavam muito longes da minha realidade, isso poderia me machucar mais. E lá vai mais uma paranoia minha. É nisso que dá quando minha baixa autoestima resolve aparecer.
Tive que esperar até a outra quarta-feira para vê-la de novo, nesse meio tempo eu tinha que lutar contra mim mesmo para levantar da cama e fazer algo, nem que fosse só beber água.
O dia da terceira consulta enfim chegou. Coloquei minhas roupas estranhas que com certeza não era o tipo de roupa que Senshi gostaria de ver em um homem, mas primeiro, eu nem deveria me importar com isso, e segundo, era a única coisa que me lembrava um pouco de quem eu realmente sou, pude mudar tudo, mas meu estilo não.
Bati na porta de seu escritório.
- Entre! - sua voz calma ecoou abafada.
Abri a porta e entrei devagar, não gostava de ser mal educado com ela, inclusive, acho que era a única pessoa com quem tinha esse cuidado.
- Bom dia, Jiyong. - me cumprimentou dando um sorriso sincero - E aí, como foi sua semana?
- Pra falar a verdade, desde que comecei a vir aqui, como já havia dito na primeira consulta, só o fato de eu ter tido coragem pra procurar ajuda, já foi muito pra mim, - dei uma pausa, encarando sua mão na mesa - então tem sido bem mais fácil fazer o resto, ainda estou tendo muitas dificuldades em achar forças pra me levantar de manhã, mas está melhor do que antes.
Eu quis falar tudo de uma vez, eu não estava pensando direito, não estava focado naquela conversa, mas agora meu problema não era comigo mesmo, não tinha a ver com meu psicológico em si, tinha muito mais a ver com ela, mas eu não sabia por onde começar ou se deveria.
- É muito bom saber disso! Mas você ainda tem uma grande caminhada, sabe que pode contar comigo, não sabe? Pois bem, vamos nos ver por algum tempo ainda. Espero que esteja gostando desses encontros, pois pelo que me parece, estão fazendo efeito. - mais uma vez ela concluiu enquanto possuía um sorriso nos lábios, me encarando.
Certo, eu preciso admitir. Ela tinha um belo sorriso, mas isso não podia me afetar.
- Estão fazendo muito efeito sim... obrigada. Sei que faz pouco tempo que começamos, mas já tem feito grandes mudanças na minha vida. - agradeci-a.
Conversamos mais um pouco sobre como eu estava me sentindo no dia, até que a consulta acabou.
- Olha, eu não costumo fazer isso... não que eu nunca tenha feito, mas... Ah! Enfim, se você quiser falar comigo qualquer hora pra desabafar, pode ligar nesse número aqui. - falou me entregando um papel - Não estou com muitos pacientes, então me dou ao luxo de focar mais nos que tenho.
Encarei o papel por alguns segundos e voltei minha atenção para ela.
- Sério mesmo? É seu celular pessoal? - a perguntei, com um olhar confuso.
- Sim e sim. Realmente quero ajudar você, certo? - respondeu de forma direta. - Bem, por hoje é só. Espero que você tenha uma boa semana e que continue exercitando sua paciência, quero ver você tomando as iniciativas, por menores que sejam, elas sempre são importantes.
- Claro, com certeza. Vou tentar pelo menos. Até mais. - me despedi, a cumprimentando novamente, agora com um aperto de mão.
- Até. - Senshi se despediu.
Saí do local com certa pressa, eu precisava chegar em casa e pensar no que estava sentindo e no que fazer com aquele número.
O número. Ela me deu o número dela.
Eu ia precisar alguma hora, para o que eu já não sei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Falling Without You (G-Dragon)
Fiksi PenggemarA vida de uma pessoa pode realmente ser mudada por algo com que ela convive diariamente? Ou esta já deveria estar acostumada com o desapego sentimental? O que pode cruzar a linha que limita o pessoal e o profissional? Talvez o amor, talvez a dor. Se...