*Senshi POV*
Na minha volta ao trabalho, já era tudo diferente. Apenas passei para resolver o resto do que ficou faltando e pegar o endereço de onde iria trabalhar daqui em diante. Quando entrei na clínica onde fiquei todos aqueles anos, pensei em todas as histórias que ouvi, as pessoas boas e más que conheci, pude lembrar que ajudei e dei meu máximo. A verdade é que aquilo tudo ainda parecia estranho para mim, havia uma grande sensação de injustiça pairando sobre minha cabeça e não me parecia ser algo que eu tivesse inventado, era mais para um pressentimento de aquela situação estava errada.
Fazendo o caminho entre a recepção e a sala de meu supervisor, consegui ver alguém com uma jaqueta vermelha entrando em minha antiga sala, tenho certeza que era Jiyong, pelo pouco que vi pude reconhecer sua silhueta. Fiquei alguns segundos parada observando a porta se fechar, mas logo me despertei com meu chefe me encarando parado na minha frente e depois voltando seu olhar para minha sala.
- Boa tarde, Senshi. Esqueceu algo em sua sala que deseja pegar? - o homem parecia estar querendo falar algo, e se eu o deixasse, eu teria um raro momento de desequilíbrio, e isso não seria bom.
- Na verdade não, percebi a pressa do senhor em deixar tudo na entrada para que eu não perdesse mais tempo aqui. - estava sendo curta nesse dia, minha paciência e indignação não estavam se dando muito bem. - Enfim, vim buscar o endereço com o senhor.
- Certo, vamos entrando. - conduziu-me até sua sala e começou a me explicar o básico.
(...)
Finalmente me livrei de ter que ver a cara de meu chefe por meia hora, falando coisas que eu já sei e jogando com as palavras indiretamente para me atingir, eu só estava ali para pegar o endereço, afinal.
Ao ir embora, percebi a porta de minha antiga sala se abrir, mas como eu não queria mais dor de cabeça e já estava perto da saída preferi não olhar.
- Sensh... - o grito se abafou após a porta automática se fechar, virei-me e pude ver Jiyong através do vidro, me olhando.
Depois de encará-lo sem expressão em meu rosto, dei uma volta e fui para o endereço que havia anotado.
Fui correndo até a estação mais próxima, já que não sabia o nível de exigência da outra unidade da clínica, eu poderia estar extremamente atrasada.
Entrei no vagão do metrô e me sentei, a semana foi horrivelmente corrida e cansativa, fazia um tempo que eu não ia me encontrar com o terapeuta, estava acumulando muita coisa em mimha cabeça e confiei demais em fazer tudo sozinha, talvez eu precisasse me consultar logo. O silêncio era absoluto, algumas pessoas estavam presentes, mas eram poucas para encherem o lugar.
Olhei fixamente para o chão, tentando por minha cabeça em ordem enquanto sentia o balançar do transporte. Talvez o que eu tenha vivído até aqui pode não ter trazido tanta realização na minha vida, eu também tenho direito de me arrepender, de sentir que nem tudo faz sentido, mas apesar de meu emocional estar pondo minha existência em um mar de incertezas, a lógica ainda tenta falar mais alto e me dizer que isso tudo não deveria ser assim.
Após alguns minutos, cheguei até o bairro onde iria trabalhar. Era um bairro no centro da cidade, sempre era muito tumultuado e barulhento. Existiam muitos vendedores nas ruas e lojas nas calçadas, além das casas e prédios, que na sua maioria eram modestas. Algo que admirei - apesar de ser um bairro de nível mais baixo que o em que passei tanto tempo - foi a decoração, era um bairro muito cheio de árvores e flores, algo que também havia onde eu costumava trabalhar.
Achei o prédio enquanto olhava ao meu redor, era um lugar simples e parecia não ter tido uma reforma recente, mas do que eu poderia reclamar? Quase perdi o emprego, é melhor que nada.
Pedi as informações ao jovem recepcionista que se encontrava no local, observei-o telefonar provavelmente para o chefe e logo ele me guiou até onde o outro se encontrava.
O primeiro dia de trabalho na unidade diferente foi basicamente para arrumar minha sala, não fiz nada além disso.
Terminei um pouco tarde, já haviam poucas pessoas nas ruas e algumas em restaurantes, com amigos, namorados e famílias. Não pude deixar de prender meus olhos naquelas pessoas, já que eu não estava acostumada a ter companhia, era quase impossível não me colocar no lugar delas e imaginar como deveria ser bom ter alguém além de você mesmo.
Com esses pensamentos rondando minha cabeça, cheguei rapidamente ao metrô e quando entrei no vagão olhei para os acentos e vi alguém de pé.
- Jiyong? O que faz aqui? - surpreendi-me e a ele também, não esperávamos nos encontrar de novo, pelo menos eu não.
- Senshi! Estava com saud- - pareceu nervoso depois de perceber o que ia dizer. - Ah, eu...
Mesmo tentando reformular a frase, ele ainda parecia meio atordoado.
- Você tá bem? Aconteceu alguma coisa? - perguntei depois de perceber que ele parecia ansioso, com medo de falar algo.
- Senshi, eu segui você. Não podia ficar sem saber onde você iria. Aliás, por que tudo tão repentino? - confessou enquanto eu olhava para o chão, processando cada palavra.
- Jiyong... A verdade é que acharam que nós passamos dos limites. E talvez estejam certos. - falei em um tom tão cabisbaixo que nem eu me reconhecia.
- Isso tudo por que a gente saiu para passear? Ha. Inacreditável. - ele parecia estar inconformado. - Mas tá tudo bem com você? Como tá sendo essa mudança? -mudou o tom, acalmando-se mais para me perguntar.
Dei uma olhada ao redor, voltei meus olhos para minhas mãos e o encarei, respondendo:
- Sabe, eu sinto que tem algo errado nisso. Não era para tanto. Mas o que eu posso fazer? Eu sou funcionária e não tenho contatos para o caso de eu perder o emprego. Ah, e me desculpa por não ter te explicado.
- Não precisa se desculpar, eu entendo. Também achei demais, mal nos conhecemos. Não acho que é justo, mas você é quem sabe melhor.
Continuamos conversando sobre algumas besteiras no finalzinho do percurso e quando saímos da estação logo fomos para nossos respectivos lados.
Era sempre agradável estar perto dele, pergunto-me se realmente aconteceu tudo como devia, talvez tenha sido melhor assim.
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Falling Without You (G-Dragon)
FanficA vida de uma pessoa pode realmente ser mudada por algo com que ela convive diariamente? Ou esta já deveria estar acostumada com o desapego sentimental? O que pode cruzar a linha que limita o pessoal e o profissional? Talvez o amor, talvez a dor. Se...