Esta é a história de um garoto que teve sua vida abalada por segredos e desgraças. Tentarei lhes contar tudo com o mesmo sentimento, relembrando de cada lamentável episódio que me aconteceu. Isso não é a prova de que esteja vivo ou bem, mas é a prova de que não quero que uma vida passe em branco; a prova de que quero que pessoas como eu saibam sobre a verdade: a verdade da nossa sociedade. Como eu sei de todos os fatos? Eu sou esse garoto.
Eu sou Henry Moon Sun, nasci no dia 5 de julho - não poderei informar o ano, pois espero que essa história seja atemporal -. No início dessa “jornada” eu tinha apenas 15 anos de idade, não era o tipo de garoto alto, porém também não era o tipo baixo. Tinha uma aparência agradável: cabelos castanhos escuros, pele parda e rosto com sardas, nariz comum e olhos castanhos. Morava com meus pais numa casa de um andar, pintada de azul por fora e cheia de cores por dentro, com jardim e janelas em abundância. Meus pais eram maravilhosos, sabiam como educar um filho mesmo em situações complicadas ou problemas insolúveis. Meu pai, Joseph Robert Sun, era um homem educado, sorridente e engraçado, era tão alto que quase alcançava as portas de casa, tinha cabelos castanhos, pele clara e nariz pontudo, seus olhos eram azuis como o mar, olha-los me dava a sensação de tranquilidade que jamais encontraria em qualquer outro lugar. Minha mãe era Caitlin Rose Moon, valente e inteligente, cheia de truques, não era tão alta - mas alcançava as panelas no armário de parede que tínhamos -, seus cabelos loiros brilhavam como sol, sua pele tinha o mesmo tom que a do meu pai, tudo em seu rosto tinha um encaixe “perfeito” e seus olhos… ah... seus olhos… eram como a coisa mais bela já feita, pois eles mudavam de cor diariamente, e todos os tons apresentados por eles eram completamente lindos, eu passaria horas olhando-os sem hesitar. Meu sobrenome “Moon Sun” sempre foi motivo de chacota na escola, esse tipo de brincadeira me deixa triste porque esse sobrenome era um dos maiores legados que meus pais deixariam para mim.
O bairro onde morávamos era calmo e ao mesmo tempo cheio de pessoas que tinham como hobby meter o nariz onde não eram chamadas. Nossos vizinhos eram como uma placa de “sorria, você está sendo filmado”, pois eles estavam por dentro de tudo, como uma rede de informações particular formada por pessoas de várias idades e aparências. Quando eu saia de casa abria logo um sorriso no rosto para que eles me respondessem com a mesma ação - eles deviam ser a base da recíproca! -. Eles, sempre que podiam, saiam para suas varandas para ver quem passasse por suas casas - forma mais pacífica de colocar o papo em dia -. Apesar de serem assim, eles mantinham suas calçadas limpas e suas árvores bem cortadas, pois qualquer sujeira detectada seria o tema de fofocas por semanas.
No dia em que minha vida mudaria, eu tive um sonho um tanto profético: eu estava deitado no meu quarto e quando abri os olhos pude ver a porta aberta, assim que a vi tentei levantar, mas algo que não pude ver me forçou a continuar deitado na cama e um barulho estranho começou a soar, em poucos instantes senti minha cama molhada e subitamente tentei conferir se eu tinha feito algo muito comum entre as crianças de 1 a 5 anos, depois de tamanho susto a porta fechou bruscamente e eu vi que meu quarto estava se enchendo de água, já estava quase no meio quando finalmente fui libertado da cama, corri e fui tentar abrir a porta, depois de várias tentativas eu consegui e de lá veio mais água, que meu quarto inteiro se encheu ela se fechou novamente. Deste ponto eu acordei e conferi novamente minhas calças - tudo certo até ai -, fui tomar banho para ir para escola ainda com medo da água, medo de que eu ainda estivesse naquele pesadelo, mas nada aconteceu. Sai do banheiro e fui a cozinha ainda de toalha para ver se encontrava algum recado - minha mãe adorava escrever bilhetes para mim, apesar de morarmos juntos -, e lá estava um com os seguintes dizeres:“Querido filho, sei que estará com fome quando acordar, então deixei para você sanduíches e suco na geladeira. Faça bom proveito. Boa aula.
Com amor, sua mãe.”
Não podia ser melhor que isso. Entrei no meu quarto e me arrumei rapidamente. Vi que eu já estava meio atrasado então comi depressa e silenciosamente. Busquei minha mochila no quarto, já estava preparado para sair quando vi a porta do quarto dos meus pais entreaberta, porém achei que aquilo fosse totalmente normal e apenas a fechei sem nem olhar pela brecha. Continuei pelo corredor até fora da casa e comecei a caminhada para residência do meu tédio (a escola). Odia estava nublado, uma brisa batia no meu rosto. Tinha tudo para ser mais um dia normal.
Quando dobrei na segunda esquina da rua da minha casa lembrei que devia ter escrito um bilhete para meus pais, já que naquele dia meus amigos queriam ir me visitar depois da escola. Corri loucamente, abri a porta o mais rápido possível e tirei da minha mochila meu caderno e uma caneta, escrevi o bilhete com as letras mais trêmulas e malfeitas que já vi, porém foram rápidas e efetivas. Quando rasguei a folha e a deixei sobre a mesa, olhei para a porta do quarto dos meu pais novamente e para minha surpresa ela estava entreaberta como da primeira vez que a vi, mas minha pressa era tanta que apenas fui embora, fechei a porta de casa e voltei para caminho da escola.
Eu não esperava ter que iniciar aquele dia com falsidades, mas fui obrigado a isso, pois o vizinho ao lado, o Sr. Clay, brotou do chão e plantou suas raízes na varanda. Quando me viu sair de casa foi logo abrindo seu sorriso mais curioso e me deu um “bom dia” e o respondi da mesma forma, continuando minha caminhada já que eu estava atrasado. - O Sr. Clay tinha o dom de ser persistente e indesejado! - Ele me perguntou para onde eu ia, mesmo que fosse mais que óbvio por causa do uniforme e da mochila que eu estava indo para escola, então eu apenas desconsiderei responder essa pergunta. Ele também me ofereceu algumas iguarias que ele fizera naquela manhã, mas eu só pude negar, meus sanduíches ainda estavam no meu estômago e eu só queria desaparecer da frente daquele senhor e surgir na minha escola. Dei um tchau e segui meu caminho, esperando não ter mais surpresas como aquela. A brisa batia em meu rosto - adoro dizer isso -, me fazia sentir vivo e feliz por mais um momento, fazia tanto tempo que aquilo não acontecia... Como em todo sonho bom, você acorda alguma hora, e eu acordei na hora em que a brisa se tornou água, a felicidade que pairava sumiu assim como a brisa, acelerei meus passos até chegar um momento que tive que correr até o refúgio mais próximo - naquele momento imaginei que perderia mais que a metade da primeira aula-.
Às vezes as coisas parecem ser o que não são, por exemplo: as ruas do meu bairro, elas pareciam tão prósperas, mas após uma intensa chuva de meia hora tudo foi literalmente por água abaixo. Fiquei triste ao ver que depois de tão pouco tempo tudo parecia como rios, por sorte eu pude andar o suficiente para não precisar mais atravessar ruas. Houve uma parte do caminho que estava totalmente alagada, eu estava na metade do caminho quando vi se aproximar um caminhão que vinha em alta velocidade. Não sei se vocês poderiam imaginar essa cena, imaginar meu desespero e imaginar minha decepção! Eu estava tão perto e tudo seria estragado, comecei a correr o mais rápido que pude, eu já tinha tomado banho e a água não estava sendo uma das minhas melhores amigas naquele dia. Infelizmente o caminhão venceu a luta, chegou tão perto de mim e a única coisa que pude fazer foi formar com meus braços um “escudo”, fechei meus olhos esperando meu segundo banho. Quando abri os olhos o caminhão já estava na esquina e eu complemente seco! Não sabia o que havia acontecido, tudo ao meu redor estava completamente molhado e eu não! No chão a água formava um arco ao meu redor. Não pude explicar. Fiquei sem palavras. Embora tudo isso, única coisa que me veio à cabeça naquele momento foi correr para a escola, e assim o fiz.
Chegando lá, fui advertido sobre meu atraso, mas me deixaram entrar, o corredor da escola estava completamente vazio e dominado pelo silêncio - algo que não ocorre dentro da sala -, me encaminhei até minha sala, mas meu professor não me deixou entrar até o fim do primeiro horário, sentei-me no banco ao lado da porta e esperei por poucos minutos. Quando o sino tocou e eu entrei na sala, o professor me apontou o único lugar vazio e me sentei lá, tirei meus materiais da mochila e tentei acompanhar a explicação do professor.
É engraçado como temos a capacidade de sentir sono nos momentos mais importantes do dia, aquele era um assunto para a avaliação bimestral e tudo que eu estava fazendo durante aula era lutar contra meu sono, eu mal sabia que meu sono seria vencido por algo superior a mim.Depois de longos minutos, alguém bateu na porta da sala, ela se abriu e de lá saiu a figura de uma mulher alta - talvez por causa do salto alto que usava -, com uma expressão de aflição meio forçada, ela caminhou até o outro lado da sala, que agora se encontrava tão silenciosa quanto o corredor, e sussurrou no ouvido do professor por alguns instantes, em seguida falou em alto e bom tom: “Eu sou a nova vice-diretora, me chamem de senhorita Alice Clair, hoje é meu primeiro dia na escola e queria poder visitar todas as salas, mas um assunto muito importante surgiu e eu preciso resolvê-lo, por isso eu também vim aqui para levar comigo um aluno chamado Henri Sun, espero que ele se levante e me acompanhe até minha sala”. Meu coração disparou, imaginei milhares de cenas e nenhuma delas eram boas, senti como se tudo fosse desmoronar em cima de mim naquela hora, não sei o motivo, mas senti que eu nunca mais voltaria àquela sala de novo.
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Dobra D'água 1: A Nascente
Mystery / ThrillerA história sobre um jovem que sofreu por causa de segredos que existiam a mais tempo que ele próprio; sua trajetória de superação sobre tragédias que vieram a atormentar sua vida.