Dançarinos e Gengivas

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- Eu já sei.

- Sabe o quê? - Minseok perguntou com seus olhinhos desorientados e curiosos.

- Sei como te mostrar as estrelas, amor.

Minseok deu um sorriso muito largo, mostrando suas gengivas cor de rosa e os dentes brancos recém escovados.

- Como?

- Te explicando. - Jongdae deu um sorriso meio inseguro. - Você não vai tocar uma estrela, está bem? Estrelas estão muito longe, então nem mesmo quem vê, pode saber a forma delas, entende?

- Sim, Chen-Chen.

- As estrelas são como luz. Você lembra da luz, Baozi?

- Mas você nunca falou da luz.

- Não?

Nesse momento, o cérebro de Jongdae parou por alguns segundos. Como ele nunca tinha explicado algo tão simples?

- Nunca.

- A luz é... - Pensou por alguns segundos. - Brilhante. Ela pode ser de todas as cores e é sempre clara.

- Oh, então ela sempre é calma. - Minseok relacionava diretamente as cores claras e as cores pasteis a momentos e sentimentos calmos.

- Sim, e ela não tem uma forma, não tem como você tocar nela.

A verdade é que Jongdae esteve 4 horas e 39 minutos tentando explicar para seu pequeno o que era uma luz. Cada vez se embolava mais nas palavras e nas explicações, Minseok percebeu que a luz era uma coisa clara, que não tinha uma forma exata nem um contorno.

- Amor, você entendeu? - O mais alto choraminhou, cansado.

- Sim, acho que sim.

- Finalmente. Gostaria de agradecer à minha mãe, meu pai e meus amigos que me ajudaram a chegar até aqui. - Chen fingiu choro e segurou um prémio imaginário.

- Para com isso! - Xiumin riu e jogou a almofada à qual estava abraçado na direção do namorado.

Minseok sabia onde seu amado estava, porque o choro falso era estupidamente presente no quarto silencioso e o menino conseguia distinguir que estava vindo do lado esquerdo.

- Não me agrida. - Fingiu choro novamente.

- Prossiga na sua explicação! Eu quero saber como é uma estrela!

- Uma estrela é uma luz amor. Uma luz bem de longe que está no céu. Sabe qual é a cor do céu, certo?

- É azul claro.

- De noite ele é bem escuro, quase preto.

Os dois sorriram genuinamente, por nenhuma razão aparente. Apenas estavam felizes.

- Mas as estrelas são como luz então são claras. Então deveria fazer contraste, não é? - Minseok perguntava curioso, fazendo gestos com as pequenas mãozinhas.

- Sim, faz contraste. Fica muito bonito.

Sorrisos de novo.

Minseok e Jongdae eram um casal feliz, sempre sorrindo.

O que tornava a situação atual ainda mais estranha.

Minseok não estava feliz.

Já faziam alguns dias quando Chen começou realmente a se importar. Minseok comia menos, quase não escutava as musicas de seus grupos preferidos e nem mesmo tentava dançar ou cantar!

Minseok tinha aulas de dança com Taemin.

Lee Taemin era um dos melhores amigos de Jongin, enquanto o moreno dava aulas de dança a pessoas saudáveis, o loiro exercia a mesma profissão com deficientes cegos, surdos e mudos. Em horários diferentes é claro.

Isso tirou muitos anos da vida de Taemin. Ele precisou de muito tempo para ter toda a prática e desenvolver seu método de ensino especial.

Os alunos cegos tinham aulas com os olhos vendados, uma questão de igualdade, já que alguns ainda tinham alguma porcentragem de visão, Taemin ajudava os seus estimados a se posicionar corretamente quando eles não entendiam suas indicações por voz. Eles eram incrivelmente sincronizados.

Para os alunos surdos, Taemin demonstrava os movimentos e envitava falar muito nas aulas. Apesar de a maioria dos alunos conseguir fazer leitura labial. Ele não era própriamente fluente, mas sabia se comunicar por linguagem gestual quando necessário. Uma vez que os alunos não tinham como escutar a música, Taemin colocava a mesma extremamente alta, para que fizesse o chão ter vibrações muito fortes, porque assim os aprendizes saberiam sem dificuldade qual era o ritmo a seguir. Mais uma vez, perfeitamente sincronizados.

Mudos, eram os alunos com aulas mais fáceis, uma vez que não mostravam qualquer dificuldade para o ensino de dança. Taemin tinha estipulado que para qualquer necessidade, os meninos e meninas apenas tinham que levantar o braço e ele iria até aos mesmos. Por incrível que pareça, os menos sincronizados, mas ainda assim bastante bons dançarinos.

Os alunos de Taemin colocavam os alunos de Jongin no chinelo, entre eles, Minseok.

Não tinha nada a ver com o profissionalismo ou com a forma como eles ensinavam. Era a determinação e a força daquelas pessoas que as tornava melhores.

Jongdae se impressionava quando seu pequeno dançava ou cantava, Minseok aprendeu sozinho a cantar.

Se os pais de Minseok soubessem que ele seria tão talentoso, eles jamais o abandonariam, Chen pensava assim.

Ele tinha orgulho em seu Baozi, um orgulho tão grande, que compensava a falta de qualquer pai ou mãe.

Chen era importante para Minseok, assim como este era importante na vida do maior.

Mas últimamente, Minseok estava triste, a única coisa que o animava era acompanhar Jongdae quando o maior via as estrelas.

Chen queria que as estrelas estivessem presentes durante o dia, assim ele poderia ver as mesmas e deixar Minseok mais feliz.

Mas porque o menino alegre e agitado estava triste? Porque ele faltava às aulas de Taemin, que era tão querido por todos do grupo? Bem, todos não, Kyungsoo tinha um ciúme enorme dele.

Mas nem o ciúme tirava o bom senso de Do Kyungsoo, o baixinho sabia que Taemin era uma pessoa incrível e que suas ações eram admiráveis, mas ele não controlava o ciúme.

- Amor, o que você tem?

- Como assim?

- Você está triste.

- Eu não estou. - Chen levantou uma sobrancelha.

- Claro que está!

- Porque você acha que eu estou triste? Estou bem.

- Eu sei que você está triste. Não vejo suas gengivas à muito tempo.

- E daí?

- Eu vejo suas gengivas sempre que você sorri. - Fez uma expressão séria. Minseok sentiu seus olhinhos ficarem molhados.

- Eu queria ver elas também, Dongsaeng. - Já estava chorando, Jongdae rápidamente correu para abraçá-lo.

Colocou a cabeça frágil do pequeno em seu peito e começou a fazer carinho nela. Numa tentativa desesperada de acalmar o pequeno.

- Amor calma, suas gengivas são lindas mas você não precisa ver elas para ser feliz.

- Eu não estou falando das gengivas!

Chen ergueu novamente uma sobrancelha.

- Estou falando das estrelas.

- Mas eu já te falei como são as estrelas, meu bem. - Os carinhos continuavam.

- Mas eu não quero apenas ouvir como são. Eu quero ver elas! Mas eu não posso! Porque é que eu nasci destinado a nunca ver as estrelas, Jongdae?

Jongdae ficou sem resposta, apenas abraçou seu pequeno e chorou junto com ele. Era a primeira vez que Xiumin chorava por não ver.

O menino que não via estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora