Pássaros e Café

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Minseok caiu.

Era a primeira vez que o pequeno Jongdae assistia ao choro do amigo.

Ele tinha apenas 10 anos, mas tomou conta de Minseok até achar que ele estava melhor.

Minseok nunca chorava, ele era como uma criança, mas sem lágrimas.
Por esse motivo, Chen estava assustado, já que Minseok estava chorando muito ultimamente.

Ele apenas queria ver estrelas.
Porque Deus havia sido tão cruel, o fazendo perder o dom de ver? Na verdade ele nunca o teve.

Ele não poderia ver a natureza ou as cores, jamais poderia ver seu namorado ou até mesmo as estrelas.
Para Minseok, o mundo era um lugar completamente desconhecido. Ele não poderia ver como eram outros países através de mapas e nem mesmo conseguia ter o gosto de contemplar um lindo postal turístico.

Normalmente, Xiumin não tinha muitos problemas com isso. Afinal, era assim desde que nasceu e não queria ter uma vida infeliz e baseada em sofrer por algo sem solução.

Mas poxa! Ele só queria ver estrelas.
Mesmo sabendo que não era possível.

Jongdae estava entrando em pânico. Ele tinha que fazer o seu pequeno ver estrelas, mas como? Chegou até mesmo a ponderar comprar uma maldita iguana. Tal o desespero.

Foi quando Chen teve uma ideia, uma boa, dessa vez. Ele sabia que seu pequeno ruivo nunca iria ver uma estrela, ele não fazia milagres. Sabia que o pequeno estava triste por ser cego. Decidiu que iria lembrar o mesmo do quanto ele era feliz e orgulhoso por ser assim.

Para isso, faria uma surpresa a seu namorado, com a ajuda dos amigos, quer eles queiram, quer não.

Começou por chamar Baekhyun, já que o menino era extremamente comunicatico e costumava ter ideias interessantes, ele seria seu braço direito.

- Onde você está? Porque não abre a porta? - Chen reclamava com o amigo em sua chamada telefónica recentemente atendida.

- Eu estou na casa do Chanyeol, aconteceu algo?

- Que diabos você faz na casa dele às duas da manhã? Eu preciso da sua ajuda para uma coisinha.

- Ele me chamou porque... A tartaruga dele tava passando mal, isso. É muito importante? - A voz do baixinho carregava algum tom de mentira que Chen decidiu ignorar.

Estava claro que era mentira, se Lay estivesse doente, Chanyeol certamente chamaria Kris. Talvez um veterinário profissional, mas jamais chamaria um menino que ofende tanto os repteis quanto Baek.

- É importante, mas podemos combinar para amanhã se você e a ''tartaruga'' do Xano estiverem muito ocupados agora.

- Aigoo! Me encontre amanhã de manhã na pastelaria! Eu tenho que ir agora. Até! - Era possível ouvir Chanyeol rindo da vergonha que Byun demonstrou na fala, no fundo da chamada.

- Até. - Desligou rápidamente a chamada e voltou para casa, esperando que Minseok ainda estivesse dormindo e não desse pela falta dele.

Normalmente Jongdae não saia sem avisar o namorado, isso aconteceu apenas uma vez e Minseok descobriu.

- Aonde você foi? - Perguntava com os bracinhos cruzados.

- Amor? Lindo dia, certo? Você sente essa brisa maravilhosa?

- Onde estava, Kim Jongdae? - O mais baixo continuava na mesma posição.

- Me desculpa, o Tao me obrigou a ir com ele comprar um celular, outra vez!

Minseok acreditou, essa foi a razão de Jongdae não ter levado uma surra nesse mesmo dia.

O coreano sentiu um arrepio na espinha e abanou a cabeça afastando tais lembranças. Últimamente Minseok estava tão triste que nem notaria se ele sumisse por uma semana. Jongdae só tinha que voltar para casa e dormir.

- Muito bem, qual é o plano? - Baekhyun parecia realmente entusiasmado com a ideia de ajudar o amigo, abanava as pernas, as fazendo bater na mesa e quase entornando o café que Chen bebia.

- O plano é, básicamente, todo mundo se juntar e gravar um áudio, falando das coisas boas que Minseok representa para cada um, entendeu?

- Uh, você vai juntar todo mundo mesmo? - Por esta altura o de traços delicados já apoiava a cabeça nas mãos e olhava Jongdae de forma curiosa.

- Claro, são todos amigos de Minseok no final, certo?

O plano era bom, nove garotos deixando palavras de apoio, lembrando momentos felizes e demonstrando preocupação e carinho.

- Chogiwa, vamos, repita comigo! - O mais alto repetia aquilo pela milésima vez num espaço de meia hora.

- Chanyeol. O passaro não fala, pare de tentar! - Luhan, à beira de uma crise nervosa, apertava a mão de Sehun, que tentava disfarçar a cara de dor.

- Claro que fala! Papagaios falam. Eu sei disso, eu já vi com meus olhos, seu projeto de chinês safado e mentiroso! - Tinha um biquinho amuado no meio da cara redondinha.

- Eu já falei que não é um papagaio! É uma maritaca anã! E ela não fala, Chanyeol! - O chinês chegou a se levantar para avançar no mais alto, mas Sehun o puxou de volta para o pequeno sofá da casa dos dois.

- Chanyeol, a gente vai sim ajudar o Jongdae, pode avisar para ele. Agora pode voltar para casa, só veio falar isso certo? - A voz do mais novo era calma mas no interior, ele estava em pânico para tirar o maior de perto do pobre pássaro que o namorado tratava com tanto amor.

Na verdade o pássaro não era de Luhan, nem mesmo tinha um nome. Mas Luhan era amante de pássaros e ajudava alguns que via não estarem bem. Sehun não era muito fã, uma vez que a ultima arara azul de Luhan fazia bulliyng com o coitado, mas suportava os pequenos porque sabia que era por um bem maior.

A surpresa de Minseok iria ser feita em três dias, por tanto, Chen podia ser encontrado tentando aprender a editar áudios e tentando se comunicar com Tao. Acabou por deixar a segunda parte da tarefa para Kris.

Talvez estivesse ficando louco? Não era um problema, de facto.

O dia estava chegando e Xiumin não desconfiava, continuava um pouco triste pelas estrelas, mas no fundo ele sabia que não valia a pena.

No fundo, ele era um menino realista, sabia que não veria os cosmos, planetas e estrelas, mas ficava triste mesmo assim, mesmo reconhecendo que era totalmente inútil guardar tal sentimento.

Os amigos do casal estavam animados, cada um tinha preparado um pequeno textinho para recitar. O de Luhan era o maior, cerca de três páginas. Já o de Kris, tinha pouco mais de vinte palavras.

Mas era a mesma essência nos dois textos, uma amizade valorizada.

O menino que não via estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora