Cacher

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Olá!

Para aqueles que lerem, esperamos que gostem!





Com certeza era muito mais fácil criar uma nova vida nos anos 80. Talvez, por isso, essa ideia tenha partido da minha mãe. Era meu primeiro dia depois de abandonar todo conforto da minha rotina, e, ao invés de feliz, me sentia exausto.

Depois de duas horas dentro do trem, as árvores e os rios já não conseguiam distrair meus pensamentos. A serenidade de Suncheon e dos rostos daquelas pessoas no vagão só me lembravam o quão difícil seria suportar a saudade do tumulto de Seul. Aquele tumulto me abraçava todos os dias com meus restaurantes favoritos, o café da manhã em família, ou qualquer outro passatempo com meus amigos. Nada disso estaria mais comigo, e eu me perguntava, a cada quilômetro daquela estrada, até quando eu iria aguentar.

Tornava-se ainda mais doloroso a cada mensagem de Kyungsoo, as quais eu insistia em ignorar. "Você saiu do grupo?"; "Como você tá?"; "Porque você não atende?"; "Cadê você?".

Kyungsoo era meu melhor amigo, apesar de não ver a menor graça nas minhas piadas. Sempre falava "calado, você é um poeta", e eu ria do seu mau humor habitual.

Nos conhecemos de um modo um tanto quanto engraçado. Quando ele chegou em Seul, aos seis anos, foi estudar no mesmo colégio que eu. Ele entrou na sala e minha primeira reação foi gritar "você parece uma coruja!". Em meio às risadas dos outros alunos, sua  resposta foi silenciosa, e mesmo não tendo a intenção, seu olhar pareceu cômico. A partir dali, nos tornamos inseparáveis, até porque, eu insisti tanto que sua única saída foi ser meu amigo. 

Kyung avisava milhares de vezes antes de eu fazer qualquer burrice, e eu fazia do mesmo jeito. Depois de cada erro, ele estava ali tentando ajudar a corrigi-los. Mas dessa vez não existia uma forma de consertar. Não uma que fosse minimamente confortável e nos mantivesse por perto.

Chegando na estação de Suncheon, a ligação de Junmyeon acabou com meus devaneios nostálgicos.

— Oi! Acabei de chegar.

— Baek, vou me atrasar um pouco. Me espera na saída da estação,  tô chegando em 20 minutos.

Meu primo estava vindo me buscar, e eu nem sabia se iria reconhecer seu rosto. Por causa da distância, o encontrei pouco mais de três vezes na vida. Junmyeon era dois anos mais velho e já fazia faculdade. Segundo minha mãe, essa mudança seria boa para nos aproximarmos. Mas ele e sua mãe sabiam de todo o ocorrido, isso tornava mais difícil encará-los.

Peguei minha mala e sentei no banco próximo a saída. Enquanto eu observava as pessoas passarem, o dia ia anoitecendo e ninguém parecia ter pressa de ir embora. Em Seul, todos viviam correndo, sempre atrasados para chegar a algum lugar. Algumas pessoas me encaravam, e seus olhos pareciam me julgar. Talvez fosse só impressão, mas eu sentia como se todos soubessem o que tinha acontecido.

O barulho da buzina me despertou e alguém gritou meu nome.

— Baekhyun! — Meu primo balançava seus braços incansavelmente para chamar minha atenção, acompanhado de um sorriso de orelha a orelha.

Coloquei minhas coisas no porta-malas, entrei no carro e percebi o quão pequeno Junmyeon era. Ele parecia uma criança no banco de motorista.

— Desculpa, Baek! Fui buscar umas coisas para minha mãe e acabei me atrasando. Fez boa viagem?

— Não tem problema, você não demorou. E a viagem foi tranquila. — respondi com  um meio sorriso, obviamente cansado.

— Você tá com fome? Mamãe me ligou dizendo que já está com a comida na mesa.

— Estou com um pouco, sim.

Eu não queria conversar, estava com medo de a qualquer momento meu primo tocar no assunto. Já ele, parecia não gostar do silêncio. Não era de todo ruim, ele tentava me deixar confortável, mas suas perguntas faziam exatamente o contrário.

O caminho até minha nova casa foi rápido. Assim que Junmyeon estacionou, minha tia apareceu, me arrancando do carro para um abraço. 

  — Baek, como você cresceu! Jummie, pega as coisas dele e leva pro quarto! — Eu sorri e fui ajudar meu primo.

Quando tudo, finalmente, parecia estar no lugar, eu sentei naquela que seria minha cama pelos próximos anos e analisei cada detalhe ao meu redor. Querendo ou não, eu teria que reconstruir minha vida aqui. Dessa vez, sozinho. Mas agora, toda angústia me levava ao meu passado.

Pouco tempo depois, batidas na porta foram seguidas da voz do meu primo.

— Baek, já terminou? Vem, vamos descer pra comer.

A mesa estava cheia de comida. Eu me perguntei, preocupadamente, se mais alguém viria jantar, afinal, éramos apenas três, e eu já não queria ver mais ninguém por hoje. Quando eles se sentaram, percebi como tudo era para agradar, e mesmo não querendo comer tanto assim, um alívio fez minha respiração se tranquilizar.

— Baek, fique à vontade e coma o que quiser. Agora, tudo aqui é seu também. — minha tia disse com um sorriso no rosto.

— Obrigado por me receberem aqui, não queria dar trabalho.

— Pare com isso, Baek! Somos uma família e você não dá trabalho nenhum. Tenho certeza que vai ser muito feliz aqui! —  eu queria muito acreditar em cada palavra, mas quanto mais eu tentava esquecer, mais eu lembrava de tudo.

Não hesitei em comer qualquer coisa, por vezes, até ria de Junmyeon, mas ainda me sentia deslocado.

— Baek, amanhã é seu primeiro dia e  tenho certeza que você vai gostar muito da escola. — começou meu primo com aquele sorriso grudado no rosto — Eu sei, por causa do que aconteceu, você não está no momento mais feliz da sua vida. Mas as pessoas daqui são diferentes, logo você conhecerá pessoas legais. — enquanto minha tia lançava um olhar repreensivo a ele, eu concordava com a cabeça e um sorriso amarelo.

Eu sabia: cedo ou tarde esse assunto viria à tona. Era impossível evitar o motivo da minha mudança. Eu podia sentir a pena na voz de Junmyeon, e, ao mesmo tempo que causava dor, era compreensível. Qualquer pessoa se sentiria assim.

— Eu não sei, acho melhor ficar sozinho. — falei com a voz quase como um sussurro.

— Não diga isso! Você vai ver, tudo vai ser diferente aqui.

Eu não estava muito confiante, mas, no fundo, era como realmente queria que fosse. Eu era um misto de esperança e medo.








[notas] Caso tenham achado algum erro, por favor, comentem para podermos consertar!

É nossa primeira fic e estamos um pouco nervosas com o resultado. Se tiverem gostado, comentem também!

O próximo capítulo sai dia 12/05.


Mari e Gabi

RedémarrerOnde histórias criam vida. Descubra agora