Um erro.
Eu sabia que tudo aquilo representava um erro, do qual iria me arrepender assim que recobrasse a consciência, contudo fechei meus olhos. Eu desejava ser abraçada e beijada por ele, por mais que quisesse negar. Assim que acabou o expediente, o juiz foi até a minha sala e apenas balançou a chave – provavelmente do seu carro – em minha frente e esperou que eu o seguisse animada.
Para ele, eu deveria ser algum brinquedo ou cachorro que deveria estar ansioso para passear.
—Isso é um erro – Falei ao olhar para ele, e acabei surpreendida com o modo como seus olhos pareceram perder o brilho por um segundo. Mas deve ter sido a minha imaginação. – Não posso sair com o senhor.
— Agora me chama de senhor, isso é realmente um avanço – Sorriu largamente exibindo seus dentes perfeitos. Eu não conseguia tirar os olhos dele. – Vamos nos atrasar – Falou com o mesmo sorriso. Para ele, a minha palavra valia nada? E como se lesse a minha mente, o juiz demoníaco se aproximou de mim lentamente, e depositou a mão em meu rosto assim que circundou a mesa – Seus olhos dizem que quer ir comigo, sabia disso rebelde? Não vou lhe morder, apenas quero que conheça um lugar.
— Apenas isso? – Perguntou entorpecida pelo seu aroma e pelo seu olhar, e como um vampiro cego sedento por sangue, me vi concordando e o seguindo em silêncio por todo o caminho até entrarmos em seu carro, no estacionamento subterrâneo. Durante todo o percurso, Oliver Maison, não se importou com qualquer olhar lançado em nossa direção e muito menos com o meu nervosismo. Ele estava natural e calmo, como sempre.
Algum dia ele se irritou?
Alguém já o irritou ao ponto de tirá-lo de sua calma?
Eram perguntas que eu gostaria de fazer após indagar o motivo dele estar obcecado em me tirar do caminho que havia escolhido.
Obcecado em me tentar como qualquer demônio faria.
Tentei não olhar para ele dirigindo, pois temia não resistir e agarrá-lo, já que sempre tive uma queda por homens que mantinham o controla das situações, e dirigir era uma delas. Eu era realmente louca.
Sorri ao constatar a verdade.
— Já estamos chegando – Escutei a sua voz e apenas concordei mantendo a minha atenção na janela e na vista. Estavamos passando por um belíssimo campo de flores afastado da cidade, por volta de quarenta minutos.
— Estamos indo atrás de algum caso? – Perguntei esperançosa ainda sem encará-lo, mas ao escutar a sua gargalhada acabei o encarando. – O que foi?
— Realmente acha que eu iria dirigir quarenta minutos devido ao trabalho, senhorita rebelde? – Perguntou parecendo ser sincero – Isso é um passeio normal, e se eu fosse mais novo diria que poderia ser um encontro, mas sou velho, certo? – Jogou as minhas próprias palavras contra mim, e se eu voltasse atrás, ele iria me infernizar, e por isso permanecia em silêncio. – É até estranho não escutar seus insultos.
— Estou guardando para mais tarde – Respondi por reflexo ao piscar assim que ele sorriu mais uma vez. O sorriso daquele juiz demoníaco conseguia ser diferente todas as vezes. Como uma pessoa conseguia ter tantos tipos de sorrisos? – É realmente um demônio – Murmurei ao apertar uma mão contra a outra tentando reprimir a vontade que tinha de sentir seus cabelos novamente. Segurá-lo enquanto ele me beija. Sentir a maciez de seus fios e do modo como envolvem meus dedos. Eu queria sentir tudo novamente.
— Está ficando com o rosto vermelho. Não pense em nada pervertido – Revirei os olhos diante de suas palavras envergonhada, por ele ter visto tudo o que eu pensava – Chegamos – Anunciou assim que estacionou o carro.
Meus olhos ficaram maravilhados com a vista ao ponto de não conseguir falar ou abrir a porta do carro. O lugar que ele tanto queria me mostrar era um tipo de oásis esquecido pelas pessoas. Em meio ao campo de flores havia um pequeno lago límpido. Não havia nada ali, apenas silêncio, flores e um lindo lago. O lugar era extremamente romântico e perfeito. Eu estava completamente sem reação, já que não esperava algo como aquilo. Somente consegui fazer meu corpo se mover quando o juiz abriu a porta para que eu saísse, e me encarou com aqueles olhos tentadores. Pigarreei, ao sair do carro e olhar tudo em volta.
— Isso é lindo – Disse inebriada pela paisagem.
—Imaginei que fosse gostar, garotas rebeldes costumam gostar de coisas assim – Sorriu ao passar a mão pelos seus cabelos. – Agora podemos começar do inicio?
— Sobre o que está falando?
— Sou Oliver Maison, Juiz – Falou como se fosse natural ao sorrir e estender a sua mão em minha frente – nesse momento deve apertar a minha mão e se apresentar.
—Isso é loucura.
— Sou Oliver Maison, juiz – O seu sorriso realmente fazia com que eu perdesse qualquer bom senso.
— Anna Johnson, uma ex-delinquente.
E então ele segurou a minha mão com força antes de gargalhar sem tirar os olhos de mim. Aquilo parecia um tipo de sonho.
Um sonho que logo acabaria assim que o vilão aparecesse.
—Tem namorado, Anna ex-delinquente? – Perguntou como se fosse parte do que quer que ele estivesse pensando. Neguei com um aceno de cabeça sem reparar que nossas mãos ainda estavam juntas. Eu conseguia sentir o calor dele – Então o que acha de começarmos a sair?
Esperei que ele sorrisse e dissesse que tudo era um engano. Esperei que ele falasse que estava brincando comigo.
Esperei muitas coisas, mas vi em seu olhar que ele estava sendo sincero.
— Isso é alguma brincadeira? É melhor parar – Disse o mais séria que consegui ao tentar me afastar dele, mas em um simples movimento, meu corpo foi puxado em direção ao seu – O que...
—Estou sendo sincero. Você é tão rebelde que não sai de meus pensamentos desde que nos conhecemos. Estive esperando todo esse tempo por você. Não poderia ser um pouco mais gentil comigo?
— Esperando?
Aquela situação se tornava cada vez mais estranha e estapafúrdia.
— É claro – Garantiu sério ao manter seus olhos fixos nos meus – O que me diz? Sei que gosta dos meus beijos e posso ser um ótimo amante também.
— Isso... Nem sequer faz sentido.
— É claro que faz. E não sou muito paciente, o que me diz, Anna?
O modo como meu nome saiu de seus lábios fez com que eu suspirasse.
— Não deveria brincar assim comigo. Não sou um brinquedo – Falei ao me sentir fraca. Eu sabia que algo assim jamais aconteceria comigo. Não depois de tudo pelo o que havia passado, e que ele conhecia metade.
—Ainda acha que estou brincando? O que posso fazer para acreditar em mim?
Eu só precisava falar qualquer coisa difícil. Qualquer coisa que implicasse em conhecimento da situação para outras pessoas, e sabia que ele iria parar.
—Eu acreditarei em você, se falar a todos ou me apresentar a seus amigos. – Dei de ombros esperando que ele me soltasse, mas não aconteceu.
— Só? Fácil – Falou exibindo a calma que eu odiava. – O que acha que conhecer meus amigos hoje?
—Você só pode estar louco.
—Esperei bastante tempo por você, sabia? – E então me beijou. Suas mãos acariciando o meu rosto ao irem em direção ao meu cabelo fez com que eu gemesse em resposta. Sempre gostei de gestos como aquele, e em resposta arranhei levemente o seu pescoço antes de puxar seus cabelos ao corresponder ao beijo. – Vou aceitar isso como um sim. E saiba que sou bem ciumento – Me avisou antes de me beijar novamente.
O que eu estava fazendo?
Me perguntei diversas vezes ao sentir seus lábios, suas mãos passeando pelo meu corpo e seu calor. Eu havia feito a mesma besteira de sempre.
Eu havia confiado em um homem que parecia ser tudo o que eu precisava.
Um homem que tinha todas as qualidades que eu esperava em meu pai.
Eu devia ter muitos problemas paternos para resolver. E quem não teria quando o seu pai é procurado pela policia?
O que ele fará quando descobrir quem eu realmente sou?
Foi o que consegui pensar ao me entregar totalmente ao juiz.
CONTINUA..
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MAISON [ Concluído]
RomanceAnna Johnson era conhecida por todos pelo seu rosto angelical, o qual escondia suas verdadeiras intenções. Mesmo com dezessete anos sabia o preço que deveria pagar pelos seus erros e por isso não se importou em ser acusada por um crime que havia par...