Despedida

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Meus olhos permaneceram fixos na figura elegante do juiz, o qual mantinha seus braços cruzados em frente ao seu corpo enquanto olhava para todos sendo presos. Eu permanecia sentada na parte de trás de um carro, olhando atenta para tudo o que acontecia, ao tentar ignorar os gritos das pessoas com quem passara os últimos anos. Os gritos das pessoas que eu acreditava serem meus amigos.

— O que estou fazendo? – Perguntei a mim mesma assim que fechei os pulsos em cima da minha perna. Eu deveria estar ajudando-os. Mesmo depois do que haviam feito? Rindo de tudo o que eu falava ou de meus sentimentos por Breno.

— Está tudo bem? – Ergui meu rosto encontrando o olhar de curiosidade do policial Ian. Ele não mantinha a mesma expressão fria de quando perguntara sobre o ataque do guarda no hospital. O policial Ian parecia realmente preocupado. – Posso falar com o juiz e leva-la embora.

Sorri como se estivesse aliviada, entretanto sentia arrependimento e dor.

Por algum motivo sentia que estava exageradamente machucada. Pelas mentiras, pelos meus segredos e por todos em quem eu confiava.

— Está tudo bem – Murmurei ao encará-lo. Sentia vontade de consolá-lo diante de seu semblante entristecido – Além do mais, duvido que o juiz deixaria que eu fugisse de novo. – Como se quisesse ter certeza do que eu falava, olhei para o juiz. Ele ainda permanecia parado, observando tudo atentamente.

— Ele gosta de fazer tudo corretamente – O policial Ian disse como se tentasse advinhar o motivo pelo qual eu mantinha meus olhos no juiz. – Essa nao é a primeira vez em que ele acaba se enfiando em uma investigação e prendendo todo mundo. Ele é um juiz estranho.

— É sim – Concordei sem saber o que poderia dizer. Meus olhos pareciam hipnotizados pelo demoníaco juiz e somente consegui parar de encará-lo quando meus olhos se fecharam. Adormeci no carro sentindo um estranho aroma que recordava o demoníaco juiz. E pela primeira vez durante muitos anos, adormeci sentindo que estava protegida.

***
Abri meus olhos incrédula. Eu estava deitada em uma cama desconhecida. Em um quarto com aparência juvenil com paredes brancas e uma cama de solteiro com colcha branca.

Eu havia sido descartada novamente.

Sorri em meio a um sentimento já conhecido. Desespero e abandono.

Levantei da cama colocando meus pés no chão gélido para somente perceber uma poltrona ao lado de uma janela e então, o vi. O juiz Oliver Maison mantinha seus olhos fechados com a cabeça apoiada em sua mão, suas pernas estavam cruzadas elegantemente. Não conseguia acreditar ao encará-lo.

Respirei fundo ao avançar em sua direção lentamente com extremo cuidado para que nao fizesse nenhum barulho. Queria vê-lo de perto.

Ele é demoníaco, mas bonito.

Admiti com sinceridade ao me ajoelhar em sua frente tentada a tocar em seu corpo para estudar que tipo de reação ele teria ao me ver daquela forma. Ajoelhada aos seus pés. Sorri diante de meu pensamento ao erguer-me, contudo escutei a sua voz atrás de mim quando retornava para a cama.

— Parece que está se divertindo – Oliver Maison falou em seu tom repleto de escarnio – Observando o juiz que lhe ajudou, é algo que somente uma pessoa estranha faria – Ele sorriu, consegui perceber diante do som de sua voz. Virei-me tentada a responder de forma grosseira, contudo ao ver o seu olhar ligeiramente mais gentil, desisti. – Não vai responder?

—Não – Dei de ombros – E onde estou?

— Em um abrigo – Sua resposta foi pior do que eu esperava. Já havia dormido em abrigos quando mais nova e não tinha boas recordações deles – Este abrigo é especial. Ajuda jovens garotas a se estruturarem na vida.

— Por qual motivo está fazendo tudo isso? Ninguém faria isso por outra sem esperar nada em troca. É loucura. – Desabafei ao perceber o seu olhar gélido. Para o juiz a minha frente, o mundo deve ter sido sempre colorido e belo, enquanto o meu foi repleto de escuridão e amargura.

— Todos merecem uma chance para provar que podem ser bom em algo – Deu de ombros ao se levantar da poltrona – Consegui um acordo com a promotoria, já que ajudou a capturar os verdadeiros culpados pelo incêndio e prender o grupo que assaltava casa. Ficará em liberdade condicional por um ano. O seu agente da condicional irá vê-la essa semana e irá morar neste lugar. Vai conseguir um emprego e seguir a sua vida, compreende? Se eu a ver novamente no tribunal farei de tudo para que desista de viver. Estou lhe dando uma chance, pegue-a com as unhas e dentes – Disse ao se aproximar de mim e tocar em meu rosto, segurando o meu queixo – Sou um demônio benevolente, sabia disso? – Sorriu ao se afastar de mim – Cuide-se, garota rebelde.

Meus olhos permaneceram presos em suas costas ao se afastar de mim e fechar a porta atrás de si. O quarto era simples e confortável, contudo mesmo que eu percebesse a sua bondade questionava-me o que poderia estar por trás de tudo. Por trás de sua bondade, de sua crueldade e de seu estranho comportamento.

Acho que nunca vou saber. Essa deve ter sido a ultima vez que o encontrei.

Pensei ao olhar para a janela. O vidro extremamente limpo acabou fazendo com que eu sorrisse. Pela primeira vez em anos, tinha a chance de ter uma vida normal graças ao demoníaco juiz. Oliver Maison. 

CONTINUA...

De certa forma, esse foi o final da primeira temporada.. não que a historia tenha duas temporadas, mas tem duas fases.. Uma fase em que o juiz encontra com Anna e a transforma. E a proxima fase será o juiz sendo transformado..

Beijosssss

MAISON [ Concluído] Onde histórias criam vida. Descubra agora