Motivos

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Dividida entre a excitação e o medo do desconhecido. Foi exatamente assim que entrei na sala do juiz no dia seguinte. Meus cabelos estavam presos em um penteado feito pela Julia. Ela havia afirmado que apenas um penteado como aquele combinaria com a roupa que o juiz havia enviado para mim. Três calças sociais de cores diferentes, dez blusas sociais, cinco vestidos formais e dois blazers além de sapatos. Todas as garotas pareceram animadas com tudo aquilo, pois ele havia sido o primeiro a fazer algo como aquilo.

Você tem tanta sorte.

Julia havia falado entusiasmada ao ver as roupas. Eu também tinha ficado, mas nao pelas roupas. Eu enfim havia conseguido agradecer a ele depois de tudo que fizera.

— Bom dia – Saudei assim que abri a porta e fui encarada pelos olhos zombeteiros do juiz. Ele mantinha a mesma expressão de outrora ao me encarar de cima a baixo, apreciando o seu bom gosto, provavelmente.

— Vejo que as roupas ficaram bem – Sorriu ao olhar para a calça preta e a blusa azul. A roupa era do meu tamanho. Parei de tentar entender como ele sabia sobre tudo no instante em que ele havia me ajudado, um ano atrás. – Espero que esteja pronta para trabalhar. Não costumo facilitar a vida dos encarregados. – Apenas assenti inebriada pelo seu olhar. Não conseguia entender como alguém permanecera o mesmo durante um ano. Ele havia ficado mais forte, mas ainda assim era o mesmo. – Sei que estou irresistível hoje, mas ainda assim deve se concentrar no trabalho.

Meu rosto se tornou vermelho rapidamente, pois era exatamente aquilo que eu estava fazendo. Admirando-a como uma tola.

— Não se ache tanto – Murmurei ao olhar me volta. – E onde vou trabalhar? – Com sua estranha expressão apontou em direção a uma porta que eu havia ignorado da outra vez. – E o que eu devo fazer?

Ao perguntar vi o modo como o sorriso se formou em seu rosto. Ele parou apoiando a cabeça em sua mão, encarando-me fixamente. Talvez ele estivesse feliz por ver uma das pessoas que salvara tentando mudar de vida.

— Primeiro deve começar lendo uns relatórios que já esta em cima da mesa. Precisa entender o que cada palavra significa e em seguida irá me ajudar em uma audiência.

— Ajudar em uma audiência? – Perguntei lembrando da minha. Do modo como havia me sentido diante de seu olhar – Não sei se estou apta para algo assim.

— Não se preocupe com isso, esqueceu que eu sou o demônio? Eu sou o único que os faz pagar pelos seus pecados, senhorita rebelde.

Tentei sorrir sem sucesso. Não sabia como lidar com ele depois daquele ano. Eu havia mudado. Não era mais a garota rebelde que respondia e argumentava contra tudo e todos. Muitas das coisas que ele falava, fazia com que eu me sentisse sem jeito e envergonhada.

Eu parecia uma adolescente apaixonada pelo garoto popular.

— Vou começar então – Falei ao me afastar dele o mais rápido que consegui tentando ignorar os olhares do juiz demoníaco em minha direção.

***
Passar horas sentada em uma sala lendo inúmeros relatórios tendo que ler cada palavra com um dicionário ao lado conseguiu me deixar mais cansada do que tentar correr uma maratona. Não que eu já tivesse tentado, já que eu não conseguiria. Meu corpo não havia sido feito para isso, eu sempre soube desde pequena. Espreguicei-me assim que vi o relógio na parede.

Eu estava realmente cansada, mas realizada por estar fazendo algo. A minha sala era pequena, mas de certa forma aconchegante. Não havia moveis além da mesa, duas cadeiras e um abajur, mas eu não me importava.

MAISON [ Concluído] Onde histórias criam vida. Descubra agora