Revólver na areia

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15/06/1897

Aqui jaz o deserto, impiedoso e brutal, onde os fortes viram história e os fracos são sorrateados na areia...
Campo-santo de grandes heróis e crematório de sicários...
E a criança, ex-ukapolo, calcorreando pelo deserto na demanda de histórias.
Em tal busca a criança contempla um revólver, tal revólver, esquecido pelo tempo e esmarrido pela solidão, a criança se aproxima e o revólver volta a vivência e indaga a criança:
- o que te trazes aqui miúdo corajoso ? - e a criança sisuda diz:
- caço histórias, histórias de heróis. - e o revólver diz:
- tu és corajoso miúdo, dessarte, te contarei a história de um cavaleiro, ele era meu amigo, tal cavaleiro não cavalgava em um cavalo-vapor, mas em um cavalo de verdade, tal cavaleiro não usava uma arma de tiro quente, mas eu, como revólver da justiça.
E a criança questiona:
- tens muitas histórias sobre tal herói tão atípico ? - e o revólver responde:
- como ancião, eu estive com ele desde sua origem, posso até estar puído, porém ainda tenho memórias de várias histórias do cavaleiro. - a criança se conforta na areia para se atentar as histórias e diz:
- pois então, conte tais histórias - e o revólver inicia com a primeira aventura do cavaleiro: como um homem urbano e preservador do tradicional, o cavaleiro nunca trocou seu precioso cavalo por um cavalo-vapor e nunca me trocou por armas de tiro quente, o cavaleiro acreditava na liberdade, por isso, em 12 de junho de 1891, ele foi libertar todos os nativos indígenas que foram nomeados ukapolos por virarem escravos e sujeitos a experimentos feitos por homens brancos, o cavaleiro, impiedoso com esses sicários, chegou na base desses homens e me usou para dar um tiro de aviso, os homens se posicionaram e viram o cavaleiro, quando viram ele reconheceram na hora e começaram a tremer de medo cada um deles, e o cavaleiro diz:
- tragam-me seu líder, canalhas. - e os homens com medo chamaram o líder e ele sai pelo portão da base, o líder deles era o temido "crânio de aço", dizem que ele já sobreviveu a três tiros de escopeta na cabeça, por isso o rosto dele era todo deformado, e ele diz:
- você tem coragem de aparecer aqui, verme.
E um dos homens dele alerta:
- senhor, tenha cuidado, esse é o famoso cavaleiro do deserto, ele tem o último revólver mágico e cavalga em um cavalo de carne e osso, dizem que esse revólver fala e não precisa ser recarregado.
E o crânio de aço pega seu revólver e atira na cabeça do homem que falou isso, ele atira sem mirar, nem olhou para trás, apenas atirou e o tiro acertou a cabeça de seu homem e então ele diz:
- que sirva de exemplo para o próximo que tentar me avisar, eu sei muito bem quem é este homem, famoso por ter matado mais de 30 homens em menos de um minuto.
Quando ele fala isso, o cavaleiro dá um sorriso, vendo esse sorriso, o crânio de aço continua:
- eu não tenho medo deste homem e seu revólver mágico, eu; com meu revólver de tiro quente teleguiado, te desafio para um duelo, seu revólver mágico contra o meu canhão de mão.

E o cavaleiro diz:
- eu aceito o duelo. - e o crânio de aço dá um sorriso...
Eles olham um para o outro, olhos focados, escutam o vento levando a areia do deserto, todos tensos, os homens do crânio de aço começam a soar cada um, e então, repentinamente, o crânio de aço tenta pegar seu revólver, mas cai morto com um buraco na cabeça, foi tão rápido que ninguém viu o cavaleiro sacando o revólver, mas eles sabem que foi o cavaleiro, os homens apontam suas armas, mas todos caem mortos com um buraco na cabeça cada um, em menos de 1 segundo o cavaleiro matou 18 homens que defendiam a base, então ele olha para mim e fala:
- acho que podemos entrar lá agora... - eu respondo:
- sim - e ele entra na base, os homens que restaram, viram aquela velocidade, então eles se rendem e se ajoelham perante o cavaleiro, o cavaleiro então diz:
- não se ajoelhem, não é a mim que vocês devem clamar por misericórdia, vocês têm meu perdão, deixo vocês irem, porque agora vocês devem buscar o perdão de Deus !! - e os cientistas e guardas vão embora da base correndo.
O cavaleiro liberta os indígenas, alguns indígenas chamam ele de "munthu" e ele encontra um indígena que vai buscar sua amada, e então o cavaleiro fala para todos eles:
- agora vocês são livres, livres para voltarem para suas famílias, livres para lutarem por seus direitos como humanos e livres para verem seus filhos crescerem em um mundo melhor !!
Diz o cavaleiro e todos os indígenas gritam "ufulu!!" e pegam os cavalos-vapor e vão cavalgando, cada um em direção a sua tribo.
O cavaleiro me pega e diz:
Esta vendo, meu amigo, libertamos os indígenas, mostramos aos homens que faziam experimentos com eles que; a justiça é aplicada aos maus e consagrada pelos bons.

Eu e ele éramos inseparáveis.
E o revólver termina de contar a história, e a criança menos sisuda e mais curiosa diz ao revólver:
- relate-me sobre quando o cavaleiro liquidou mais de 30 homens em menos de um minuto, revólver mágico. - então, miúdo corajoso queres conhecer tal história ? - o revólver indaga a criança e ela responde:
- sim, desejo compreender tal ato de intolerância. - e o revólver começa a contar a história:
Estávamos em um bar, em uma cidade pequena no deserto, em 05 de maio de 1891, o velho que cuidava das bebidas, perguntou ao cavaleiro;
- o que deseja ? - e o cavaleiro me coloca na mesa e pede ao senhor:
- um café para mim e um paninho com sal para meu revólver, por favor, meu senhor.
Na hora o velho reconhece o cavaleiro, deu um copo com café e o paninho com sal, o cavaleiro me pegou e me colocou em cima do paninho com sal, deu um gole no café amargo e me perguntou:
- se sente melhor agora amigo ? - e eu, aliviado respondo:
- ah, é muito confortável o sal. - então eu me lembrei do que estávamos conversando antes de entrarmos no bar e pergunto:
- quando, meu amigo, vai arrumar uma mulher para ter sua própria família ? - e ele responde:
- nos já conversamos sobre este assunto e eu já disse: não.
E eu com dúvidas perguntei:
- por que não arrumas uma mulher na qual você possa confiar, a qual tenha um sorriso verdadeiro ? - e o cavaleiro responde:
- porque quem aplica a justiça é almejado ao sofrimento pelos maus que temem a justiça. - e eu fiquei em dúvida, não tinha entendido.
Repentinamente entra uma mulher chorando no bar, desesperada e diz, ofegante:
- alguém me ajude por favor, bandidos estão vindo para matar todos da minha família e meu marido não chegou ainda.
O cavaleiro, sem pensar duas vezes me pega, me guarda no coldre e segue até a mulher e fala:
- se acalme, vou te ajudar, a mulher reconhece ele, se surpreende e leva ele até a casa onde está a família, ele orienta:
- se escondam e não saiam até que eu avise que acabou.
Então ele me saca e me pergunta:
- tem energia para fazermos aquele truque ? - eu respondo:
- sim - então ele me joga para cima, no ar eu me duplico, eu caio na mão direita dele e meu clone cai na esquerda.
Os homens chegam na cidade, os moradores sabem que é problema e se escondem em suas casas.
O líder dos bandidos vai na frente e para na frente do cavaleiro e os homens dele chegam e ele pergunta com um sorriso no rosto:
- você sozinho quer lutar contra mais de 30 homens ? - e o cavaleiro responde:
- a quantidade não significa nada perto da habilidade, minha habilidade é o suficiente e darei uma chance, rendam-se e entreguem suas armas ou eu vou ter que mostrar essas habilidades.
O líder deles não leva a sério, vai sacar o revólver, mas quando nota; esta sem sua mão, arrancada por um tiro do cavaleiro, o líder repentinamente cai no chão com um buraco na cabeça, todos os homens começam a comentar "que velocidade" e sem medo tentam sacar suas armas, mas, todos caem de seus cavalos-vapor, com um buraco na cabeça cada um, mortos.
O xerife da cidade chega tarde demais, abraça a mulher que tinha pedido ajuda e agradecem o cavaleiro, o xerife era o marido daquela mulher, então o cavaleiro fala para mim me tornando um novamente:
- viu só, o xerife é o símbolo da justiça, esses bandidos com medo da Justiça, tentaram pelo ponto fraco; a família. O xerife não estava aqui, ou seja, sendo o aplicador da justiça; eu coloco quem amo em risco e nem sempre conseguimos proteger quem amamos...

O revólver termina a história.
A criança tinha compreendido tudo, exceto:
- apenas não compreendo como foi sorrateado neste deserto, sozinho e soturno. - e o revólver explica:
- meu amigo foi pêgo incauto, morto por covardes e eu cai aqui, perdi tudo, não consegui salvar quem eu amava e jamais vou poder fazer justiça por ele, fui fraco...
E então a criança pega o revólver na areia, o revólver pergunta:
- o que esta fazendo miúdo ? - e a criança responde:
- tu não merece estar sorrateado na areia, merece a Justiça, merece ter mais uma chance para destruir o mal. - e o revólver pergunta:
- mas, e se eu não conseguir ?
E a criança responde:
- seu amigo deixou várias lições, compreenda tais lições, eu as compreendi, acredite; estou sozinho no deserto porque não consegui salvar minha família, então procurei por histórias e achei você, nós dois queremos justiça e sob a sombra de um grande cavaleiro a Justiça será aplicada e se nós não conseguirmos; morreremos por justiça, justiça em um mundo sombrio, tempestuoso e injusto.

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