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Dulce Narrando. 

Abri meus olhos e enxerguei tudo meio embaçado. Sentia muitas dores, uma vontade de chorar, nojo de mim mesma, medo de alguém e o interesse de viver. 

O médico entrou na sala sorrindo, eu o olhei. Se parece com ela. 

— Sai!! – digo me afastando – não me toque. 

— Dulce se acalme. 

— Saia de perto – me encolhi na cama. 

— Não se altere – estendia a mão pra mim – só quero te ajudar. 

Ele se aproxima de mim e coloca sua mão em meu braço. O medo tomou conta de mim e eu comecei a me debater enquanto ele segurava os meus pulsos. 

Por que eles fazia isso, o que os homens tem? 

— ME SOLTA!!! – gritava enquanto ele me segurava. 

—Por favor se acalme. 

—  SOCORRO!!!

Entrou duas enfermeiras na sala e o afastou de mim. Eu me encolhi em meus braços e chorei, cada vez que ele se aproximava eu sentia muito mais dor e muito mais nojo de mim. 

— Senhora, por favor se acalme – uma das enfermeiras me disse. 

Eu só sabia chorar, não suporte que me toque, que me segure, que me chame.

— Não me toque, por favor se afaste – digo desesperadamente insegura e sensível. 

— Se acalme, vamos te ajudar. 

— Não quero sua ajuda. 

— Dá o calmante – a outra enfermeira diz. 

— Chega de calmantes, ela vai ficar sem vitaminas e pode se tornar dependente disso. 

— Ou da o calmante para ela, ou vamos ter que encaminha-la para o hospício. 

— Nada disso, ela foi estrupada, é normal que se sinta assim. Não vou mandar ninguém para o hospício e muito menos encher de calmante. 

— Então você cuida dela. 

— Cuidarei. 

Dito isso a outra enfermeira veio até mim e acariciou o meu cabelo. A sua caricia era como ele fazia em mim nos meus dias infernais, como poderia ser tão igual. 

— Sai, por favor. Quero ficar sozinha. 

— Dulce, Por favor. Me deixe te ajudar – se ajoelhou e me olhou. 

— Não quero ajuda, quero morrer. Me deixa morrer, é muito sofrimento para mim.

— Você tem que viver, tem pessoas que precisam de você. 

— Não precisam, eu não quero guardar essa lembrança. 

— Prometi ao seu marido que te ajudaria, e não vou quebrar essa promessa. Você em breve vai estar bem para cuidar dos seus filhos e se resolver com o seu marido. 

— Como sabe tanto ta minha vida? 

— Seu marido conversou comigo no dia que você chegou e estava desacordada, me implorou para que te ajudasse e que ele precisava de você, assim como os seus filhos. 

— Meus filhos... – Sorri de canto ao lembrar deles. 

Seria ótimo ter eles do meu lado. Mas eu s abandonei, eles não me aceitariam de volta, nem pagando. Muito menos o Christopher, sem contar que ele deve estar feliz com a Carol ou sei lá quem seja essa garota que está perto dele. 

— Nunca mais terei a minha família, eu estraguei tudo, eles não vão mais querer me ver. 

— Vão, as crianças são assim,elas te odeiam e depois vem te abraçar. Mas acredito que seus filhos a amam muito, e seu marido também. Mas para você se reconciliar com eles deve se recuperar bem rápido. 

— Como? – me sentei e deixei mais lagrimas caírem – sinto nojo de mim, não quero mais ver homem algum na minha frente, não suporto que me toque, tenho nojo ao imaginar as noite que passei, me sinto idiota por não ter ficado em casa. 

— Você vai se sentir bem, quando estava com o seu marido, ele não te tratava bem? 

— Eu não sei, eu conheci um lado dos homens que me assustou muito, nunca imaginei que isso aconteceria. 

— Mas acho que seu marido não faria isso. 

— Eu não quero olhar homem algum, não quero ver ninguém. 

Me deitei de costas pra ela e coloquei o lençol por cima do meu rosto.

— Dulce. 

— Por favor, pode me deixar sozinha. Quero pensar um pouco, chorar ou até mesmo tentar descansar. 

— Claro que sim, podemos conversar depois? 

Balancei a cabeça. Ela passa a mão na minha cabeça e caminha até a porta. 

— Quando se sentir bem, chame a enfermeira Adriana. 

Em seguida ouço a porta sendo fechada.

Ela me parecia ser uma boa pessoa, mas eu tinha que ficar sozinha, não queria ver ninguém, era muito humilhante para mim, ainda mais com todos me olhando com pena. 


Aprendendo A ConviverOnde histórias criam vida. Descubra agora