Você foi tudo o que eu quis mas também tudo o que eu não queria. Você era tão perfeito que eu me sentia cheia de defeito. Você dizia que me amava e era recíproco esse amor, mas eu não aprendi que o amor não poderia ser apenas palavras, precisava ser demonstrado; eu não te culpo, afinal foi o único amor que eu conhecia e você não tinha bons exemplos do que é amar.
– Uma lagrima escorria em meus olhos enquanto ouvia a comissária de bordo dizer umas palavras, mas eu estava focada em escrever o texto que não consegui entender o que ela dizia.-
Você não era um príncipe encantado, porém fingia estar encantado e assim você simplesmente me encantava e eu vivia a cantar – "I Just wanna believe in me" -; eu cantava? eu gritava? já não sei mais. Arrasada, machucada, você dizia que no chão era meu lugar e fez questão de me pôr lá...
Lágrimas caíram ao ver a porta se fechar atrás de você, mas ainda não sei se era de alívio ou medo.
Não quero viver mais para você nem para ninguém, o amor que eu tanto acreditava ser perfeito demonstrou ser imperfeito, e se for pra ser imperfeita para alguém que seja para mim mesma, pois assim eu sei que toda essa minha imperfeição me faz cada vez mais forte e agora sei que todo o amor que eu tanto procurei se encontra em mim mesma. – fecho o notebook e me encosto para dormir um pouco antes de chegar ao meu destino.Acordo com a comissária pedindo para apertarmos os cintos, estamos chegando ao Rio de Janeiro.
O avião pousa e estou no desembarque, já consigo ver minha tia me esperando, os cabelos loiros dela cada vez mais liso e com brilho me encanta, seus olhos azuis como um mar de Arraial do Cabo que eu havia visto em fotos.
Vou até ela e preciso ficar na ponta do pé para abraçá-la.- Senti sua falta- Digo com um sorriso no rosto
- Eu também, a ultima vez que te vi pessoalmente você era uma garotinha e hoje esta uma mulher linda- Ela pergunta me analisando por completa – como foi a viagem ?
- Tia tenho tanta coisa para lhe contar, tanta história mas por hora eu gostaria de ir pra casa tomar um banho e comer algo.
- Tudo bem Clara, vamos seu tio está lá fora nos esperando- responde Bruna.
Caminho até o carro e posso ver meu tio acenando para mim, então retribuo com um sorriso, irmão do meu pai mas completamente diferentes, enquanto meu pai é de pele clara com olhos verde, David é de pele bronzeada e olhos escuro e tão alto quanto minha tia.
Dou-lhe um abraço acalorado e entro no carro, são pouco mais de duas horas me locomovendo do aeroporto até a casa dos meus tios em Cabo Frio, é tudo tão novo pra mim, eu não venho aqui desde pequena.Para minha surpresa meus tios me deixam por minha playlist do Spotify no rádio, abro a janela do carro e não me importo do vento estar bagunçando meu cabelo ruivo, eu gosto da sensação que o vento faz quando balança meus cachos, Troublemaker do Grizfolk no ultimo volume, hoje finalmente me sinto livre de mim mesma, me sinto livre dos meus pensamentos e livre de todo o meu passado.
-Como esta a Beatriz ? – decido perguntar enquanto abaixo o volume do meu celular.
- Sua prima está bem, com muita saudade de você ! – responde David.
-Ela prometeu te apresentar as amigas dela para você não ficar sozinha nesse tempo que estiver aqui – completou minha tia.
- Eu também estou com muita saudade dela, éramos grandes amigas quando pequenas - digo.
O tempo vai passando e decido encostar um pouco só para simplesmente ouvir a musica e passar o tempo; não demora muito para eu me pegar pensando na minha vida em Nova Iorque, saudades da minha mãe, do meu pai e da Cristal, minha cadelinha.
Minha imaginação começa então a me sabotar e me trás a memória tudo o que eu não queria lembrar, o que eu deixei pra trás e não trouxe na bagagem comigo, seguro o choro, não quero que ninguém saiba, eu sou forte, eu preciso ser forte.As marcas continuam em mim, por mais que eu tente apagar não consigo, cubro as minhas mãos com meu moletom desbotado como se fosse conseguir esconder, mas eu já não sei mais o que eu mesma estou querendo esconder.
Aquilo tudo foi culpa minha ? não, não foi, eu preciso acreditar nestas palavras, eu preciso acreditar no que eu mesma escrevi no avião, mas eu não consigo, por que eu não consigo ?
Pego o notebook na minha mochila, ligo e tento ler o texto que escrevi, um texto para mim mesma no presente, no meu passado, e para mim mesma no futuro... "Você foi tudo o que eu quis m...".
Não consigo terminar de ler então simplesmente aperto publicar, não posso mais guardar essa dor para mim. Pronto. Feito. O meu blog está online, o post também, perfeitamente imperfeito, tão imperfeito como eu. Penso de novo se deveria deixar publico ou não, então decido deixar, não me importo se uma ou outra pessoa vai ler, só não quero viver com medo de algo novamente.
Bruna então olha para trás e me vê com uma lagrima nos olhos.
- Clara eu te amo, vai ficar tudo bem, esquece o que aconteceu lá, eu irei te ajudar em tudo.
- Eu também Clarinha, estou aqui para o que você precisar – diz meu tio olhando pelo retrovisor.
Não sei o que responder então apenas tento forçar um sorriso e fecho meu notebook.
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Um amor perfeitamente imperfeito
RomanceClara esta prestes a fazer um intercâmbio. Ela ja sofreu muito procurando por seu amor perfeito e agora so quer viver para si. Decide criar seu proprio blog, mas o que ela não esperava era de que isso iria crescer e que seu intercâmbio não iria ser...