04. escolhas e responsabilidades

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⠀⠀⠀⠀EM UMA MESA afastada do centro da delegacia, Capitão Stacy tirava notas de cada palavra de Blake, esperando que seu pudesse ser útil para prender os bandidos que escaparam mais cedo. O desespero da polícia era compreensível — um ladrão de banco escapara munindo uma arma especial, que ninguém havia visto antes.

E isso implicava em muitos problemas novos, com certeza.

Aquele policial de rosto familiar era o pai de Gwen, e Blake o conhecia brevemente. Os ensaios da banda aconteciam na garagem dos Stacy, então às vezes ela via a família da amiga. De qualquer forma, era completamente diferente do momento atual. Ao invés de convidá-la para o jantar, George Stacy estava sério e olhava para Blake com profunda desaprovação, escutando o curto relato da garota sobre o que acontecera na rua do café.

Ela estava mentindo sobre a maior parte, claro. Não citou a redoma lilás que as protegeu do perigo e muito menos disse que, ao tocá-la, a energia se tornou mais forte. Ainda que toda a cena vagasse no fundo da sua mente durante os últimos trinta minutos, Blake fez o que pôde para não entregar que tinha algo acontecendo; algo nas entrelinhas, muito maior do que uma arma diferente.

Kamala, a garotinha de longos cabelos pretos e roupas coloridas, continuava apreensiva enquanto tomava um copo de leite com achocolatado trazido por uma policial de rosto amigável. Apesar de ser muito nova e entender pouco do que tinha visto, Kamala não parecia disposta a contar a verdade nua crua, a verdade sobre Blake. Quando George Stacy a questionou, ela apenas disse que queria sua mãe, e rápido.

A pelúcia do Homem de Ferro ainda estava entre seus dedos.

— Certo — Capitão Stacy disse ao terminar de escrever. — Algo mais?

Kamala negou, Blake também.

Ele se deu por vencido, fechando a caderneta que levava consigo logo após respirar fundo. O capitão de polícia iria começar uma nova sentença, mas o chiado em seu comunicador o impediu. Pedindo licença, ele se levantou e caminhou até uma área vazia da delegacia.

Blake se deixou relaxar. Ela nunca esteve em uma delegacia antes, e, pelo horário, podia imaginar que sua família estaria surtando. Mas a única coisa que a deixava preocupada — além, é claro, daquele campo de força lilás surgido do mais absoluto nada — era a garota em sua frente.

— E aí, como você está? — Blake perguntou em um tom de voz baixinho.

Kamala deu de ombros.

— Tô bem — replicou, embora incerta. — Você acha que meus pais e meu irmão estão bem também?

— Sim, com certeza — Harrington respondeu de prontidão, sem dar espaço para dúvida em sua voz. — Você disse que se separou deles naquela loja de artigos de heróis, não foi? Eles devem estar te procurando agora mesmo, Kamala. E aposto que a polícia já emitiu um alerta.

Ela assentiu, segurando com mais força a pelúcia. Blake não sabia mais o que dizer para confortar a menina, por isso resolveu apelar:

— Gosta do Homem de Ferro? — ela a viu concordar. Então, sussurrou como se contasse um enorme segredo: — Eu conheço ele.

A feição de Kamala se iluminou com a revelação bombástica. No entanto, antes que pudesse dizer algo mais, o Capitão Stacy retornou. Blake assumiu mais uma vez sua postura séria.

— Localizamos seus pais, eles estão vindo te buscar — falou para a criança. Ao se virar para Blake, sua voz ficou mais séria. — Sua irmã também, Blake.

Ela forçou um sorriso. Já havia dito que não era necessário ligar para sua irmã e muito menos para sua mãe, porque Blake sabia perfeitamente bem o caminho para casa e não queria preocupar sua família, mas ninguém a levou em consideração. Claro que não. Era meio ridículo da sua parte achar que a polícia a deixaria ir embora sem um responsável, principalmente depois do que tinha acontecido.

RADIOACTIVE  |  PETER PARKER ¹Onde histórias criam vida. Descubra agora