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O sol já tinha ficado menos forte, então o calor tinha amenizado um pouco, mesmo que ainda fosse extremo. Eu havia tido um dia tão maravilhoso com Yifan (o mesmo agora me pedia para chamá-lo pelo seu apelido, Kris) que havia esquecido todo o assunto do casamento arranjado e o motivo pelo qual estávamos na Espanha. Havíamos brincado boa parte do tempo e ele insistiu em tentar me ensinar a nadar, colocando suas mãos grandes na minha barriga e pernas. Eu, sendo quem sou, me aproveitei do toque quase que involuntariamente, e ele parecia estar fazendo o mesmo. Não é culpa minha, certo? Ele era realmente bonito e tinha um corpo todo musculoso. Sua altura também, eu sempre gostei dos caras altos, por mais que todos parecessem grandes por causa do meu tamanho reduzido. Mas pelo o resto do tempo fomos apenas bons amigos, quase como se nos conhecêssemos desde a infância. Isso me fazia refletir que o casamento talvez fosse legal de algum modo.

— Eu já estou cansado. – Resmungou, sentando na borda da piscina agora vazia. Eu nadei até ele e sentei ao seu lado.

— Nós podemos ir até o quarto, tirar um cochilo e depois sair para algum lugar. – Sorri, me levantando e estendendo minha mão para que ele fizesse o mesmo. Kris concordou e fomos devagar, gargalhando de alguma piada que ele havia feito.

Ele abriu a porta e fez um gesto para que eu entrasse, um legítimo cavalheiro. Dei um sorriso e fiz uma reverência gentil, entrando e abrindo a cortina que dava para a sacada, observando as enormes palmeiras que cercavam o resort. Não havia nem uma única nuvem no céu, apenas um manto azul estendido que me fazia suspirar de tamanha beleza. A brisa agora se tornava mais forte, por conta da altura do nosso quarto, e acariciava lentamente minha pele. Ela também levava minha saída de praia úmida. Resolvi que iria tomar um banho para tirar o cloro do corpo, mas algo me assustou e me fez ficar imóvel por um tempo.

Yifan havia agarrado no meu quadril por trás e agora me puxava brutalmente para dentro do quarto, fechando a cortina com uma mão enquanto apertava minha barriga contra si com a outra. Não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo, apenas tentava dar cotoveladas no homem que era bem mais forte que eu.

Desista, Myeon! Você é meu marido! – Sussurrou no meu ouvido, e eu sacudi a cabeça, negando.

Não, eu nunca vou ser nada seu! – Aproveitei o fato de eu estar o guiando e me impulsionei com força para trás, fazendo o chinês desequilibrar e bater as escápulas em cheio na parede. Ele soltou um grito de dor e ficou vulnerável, então consegui me soltar. Nem cogitei tentar abrir a porta porque ele estava tentando recobrar os sentidos ao lado dela, resolvi correr para a varanda.

A piscina ficava lá embaixo. Se eu pulasse, cairia no meio dela. Estávamos no terceiro andar, então imaginei que não doeria muito e eu não tinha para onde fugir. Mesmo assim, hesitei, ouvindo os passos fortes que Kris dava atrás de mim, correndo para me alcançar. Ele conseguiu agarrar meu pulso com tanta força que eu soltei um gemido. Então, fechei os olhos e me joguei, encolhendo as pernas.

A dor foi forte, mas não insuportável. Insuportável seria ter sido estuprado por um nojento daqueles. E finalmente quando eu estava achando que ele não era alguém tão ruim, ele tentou abusar de mim. Não conseguia pensar em mais nada, apenas saí da piscina com pressa, calculando que Yifan agora estaria correndo para me alcançar, e ultrapassei o portão por sorte escancarado sem nem olhar para trás. Eu corri, corri tanto que minhas pernas já estavam bambas, de medo e de cansaço. Kris havia deixado machucados fortes no meu quadril e pulso, que com certeza ficariam roxos. Meu coração pulava como um louco e guiava minha direção para qualquer rua que eu encontrasse pela frente, os tropeços estavam tão constantes que eu achei que não conseguiria mais correr.

Como que pelo destino, acabei parando em um lugar conhecido e que me fez parar de me movimentar. A floricultura. Estava lá, como se me chamasse para entrar, então eu lembrei de Lay. Estava tão entretido com o gigante nojento do Yifan que nem ao menos tinha lembrado do nosso encontro. Corri para dentro da pequena cabana, rezando para que o chinês ainda estivesse lá, soluçando.

flor de madrid  [ sulay ]Onde histórias criam vida. Descubra agora