Marcas da Vida

TRÊS...

​Eu mal consegui dormir naquela noite. Uma parte dentro de mim esperava verdadeiramente que o rapaz com o belo par de olhos azuis estivesse no Café Florian. Outra parte desejava desesperadamente que ele não aparecesse, que tivesse entendido o nome errado, assim conseguiria dar um olé na vida. Calafrios subiam e desciam em meu ventre. Eu temia e muito a reação da minha da mãe, caso ela descobrisse. Cada vez que considerava essa possiblidade, meu coração palpitava forte, quase saindo pela boca.
Às três horas da tarde em ponto lá estava eu, dentro do café. Tão logo entrei, avistei Benjamin sentado no cantinho. Quando me aproximei, vi que ele carregava uma rosa branca nas mãos. Não podia acreditar que ele estava realmente lá. Pensei que ele estivesse blefando, que não iria levar adiante a intenção.
- Uma rosa suave para uma beleza suave! – ele me disse, enquanto puxava a cadeira para que eu me sentasse.
​Benjamin tinha um ar de mistério. Ele era capaz de me tirar do eixo só com o olhar. Não me canso de falar do belo par de olhos azuis que mais parecem um céu ensolarado.
​- Então esse é um dos seus pontos preferidos em Paris, Sophie?
​Eu estava observando a rosa nas mãos, ainda surpresa com essa cena, nada comum no século XXI.
​- Sim. Gosto muito de café e por aqui temos boa música e bom espaço para leitura.
​Ele chamou o garçom e pediu uma água com gás. Eu optei por um café expresso bem forte.
- Sabe o que me chamou atenção em você? – ele me indagou, enquanto dobrava o cardápio. Esse ponto para mim é realmente crucial. Eu verdadeiramente queria saber por que ele me notou em um lugar como o Le Jules Verne. Apenas acenei negativamente com a cabeça, enquanto passei a mão pelos cabelos.
​- Sua espontaneidade com seu irmão. Você estava muito feliz ontem.
​Eu olhei no fundo dos olhos dele e, dessa vez, me senti calma, tranquila e protegida. Essa era a frase chave para me tirar da retaguarda. A maioria dos homens procura por beleza e nesse quesito não sou padrão. Benjamin notou minha emoção, o que me fez acreditar que ele pudesse ver as coisas sob uma perspectiva diferente. Passamos a tarde inteira conversando sobre os mais diversos assuntos. Naquele momento, eu tive a nítida sensação de que teria um grande parceiro. Talvez um parceiro por toda vida.