Capítulo III

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- Você está todo salpicado de tinta

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- Você está todo salpicado de tinta. - Diz Oliver com a mão espalmada no ar percorrendo minhas vestes sem tocá-las, mas se corrige - Digo... mais salpicado que o normal.

- É verdade - Observo meu casaco azul que agora carrega novos tons consigo e minha calça que está com manchas antigas. Aliás, acho que todas as minhas calças estão com manchas assim. - Não que eu ligue muito, não é mesmo? - Prossigo. Ele ri de canto de boca sem me olhar nos olhos.

- Eu acho que você também poderia fazer uma tela assim para vender, Vincent. - Sugere.

- Nenhuma das minhas telas foi vendida ainda, Olie. - Confesso com pesar. Sempre as mando para Theo, mas ele não conseguiu vender nenhuma delas ainda. O que mais quero é um dia conseguir me sustentar sozinho com a venda das minhas obras, sem ser custeado pelo meu irmão, principalmente agora que ele tem um filho para criar.

- Mas suas obras são fantástica, Vincent. Além do mais, naquela exposição de arte elas foram as mais bem-quistas por aquele pintor... - Oliver tenta lembrar o nome.

- Monet. Claude Monet - Relembro-o - É... Ele realmente saudou bem minhas pinturas, mas elas continuam valendo tanto quanto uma tela em branco. - Acrescento.

- Gosto desse Monet. Ele parece ter bons valores. - Diz Oliver. Sorrio com um dos cantos da boca.

- Eu acho que Monet acreditou nas minhas obras e acreditar deposita nas coisas um valor imaterial. Um valor que as vezes não vejo em mim mesmo. - Muitas vezes - Mas eu acredito na arte e tento capturar a beleza das coisas, por isso eu pinto. - Limpo a garganta. - Sabe, Olie? Nossas obras são promessas. É como quando alguém compra um produto. Essa pessoa não está meramente comprando um produto, está comprando a promessa que está contida nele, e é ela que garante ao comprador a obtenção do beneficio oferecido. Não é diferente comigo. Minhas obras são promessas que sei que irão se realizar na vida de quem acreditar nelas.

Faltam alguns detalhes para acabar a pintura da amendoeira, mas esses farei amanhã bem cedo. Não posso fazê-los agora, pois preciso que a tinta seque propriamente para finalizar. Além do mais, já estou no limite do horário. Me despeço de Oliver e deixo a tela no cavalete junto aos meus materiais, me esperando no canto do ateliê.

Frontin me encontra nas escadas trazendo um prato fumegante, colorido e simples. Vivaz, por assim dizer. Parece ter sido pintado em um conjunto expressivo de cores, se sobressaindo o vermelho e o amarelo dos pimentões. O prato é uma mistura de vegetais picados: berinjela, tomate e abobrinha, além dos pimentões. De longe eu o reconheceria, um ratatouille, prato típico daqui da região de Saint-Rémy- De-Provence, e ele é tão admirável quanto saboroso. Frontin me apoia pela escada enquanto ouço o tinir do prato balançando na bandeja que ele tenta equilibrar. Há algumas batidas abafadas. Um ruído. Agora ouço uma voz.

Não consigo me lembrar quando acabei de comer ou o que eu fiz depois. Mas acho que dormi. Comprimo os olhos sentindo minha cabeça pulsar - É o dia da viagem!- Ergo o tronco de súbito, me impulsionando para frente. O quarto está uma bagunça: A cadeira está caída, tem folhas pisadas e outras amassadas no chão, o lençol foi arrancado. Está tudo ao avesso. Frontin está parado frente à minha cama com uma bandeja com outra refeição, uma dose de remédio, panos à base de linho, fitas, algodão e um outro líquido em um recipiente.

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