Capítulo IV

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Assim que saio da academia eu vou para a Igreja. Sou batizado no catolicismo, mas com o tempo fui deixando a religião em segundo plano. E atualmente, raramente vou a uma missa.

Tá aí, talvez isso que estou passando seja um castigo divino.

Assim que chego à secretaria da Igreja Matriz São João Batista informo que gostaria de conversar com um padre e que era caso urgente.

Não falei que se trata de um caso de exorcismo. Não posso manchar minha reputação de pessoa em sã consciência.

Esperei por mais ou menos meia hora até que fui chamado. E fui direcionado a um cômodo que fica atrás da sala da secretaria.

O padre é um senhor baixinho de meia idade. Já está apresentando alguns fios brancos em meio aos pretos.

— Sente-se, meu rapaz. No que posso ajudá-lo?

— Padre, sua benção. — Ele reverencia com a cabeça. — Pode parecer loucura o que eu irei dizer agora, mas eu juro que é verdade...

— Fique a vontade para falar. Não irei julgá-lo.

— Tem uma fantasma em minha casa. — Ele me olha com um misto de surpresa e risos — Sério padre. O Senhor não acredita em mim, não é mesmo? — Suspiro frustrado — Eu também não acreditaria em mim.

— Por que acha que é um fantasma?

— Eu a vejo, padre! Na noite em que me mudei começaram uns barulhos estranhos pela casa e eu mal consegui dormir, pois parecia que alguém estava me vigiando. No dia seguinte ela apareceu para mim. Uma moça, com um vestido branco e um cabelo castanho bem claro. Ah, e aqueles olhos castanhos que pareciam bolinhas de gude...

— Talvez seja coisa de sua imaginação. Ficou pressionado com alguma coisa o que fez ter essas alucinações... Ou você ingeriu algo...

— Não padre, eu juro que é verdade! — Eu me levanto e começo a andar de um lado para o outro.

— E ela disse alguma coisa?

— Sim! Ela pediu ajuda...

— Ajuda?

— Isso! Pediu que eu a ajudasse a descobrir como ir para o outro plano. Algo assim. E ameaçou a ficar me perseguindo se eu não ajudasse. Agora ela não me deixa em paz! — passo ambas as mãos no meu cabelo — Ela está em todos os lugares que vou.

— Ela está aqui agora? — O padre olha freneticamente para todos os lados. Uau! Ele está com mais medo do que eu.

— Não... Quando ela viu uma garota na academia ela sumiu do nada...

— Uma garota? Olhe meu rapaz, eu ouvi poucos casos de exorcismo. Nunca vivenciei isso. Não fui treinado para tal feito. Mas posso lhe dar água benta e lhe ensinar uma oração poderosa. Também posso te encaminhar para alguém mais preparado... Ou...

— Ou o quê? — Arregalo os olhos.

— Ou você pode ajudá-la a se libertar... Talvez seja o que Deus quer de você.

👻👻👻

Fui direto para casa depois da conversa com o padre. Ele me deu a água benta e pediu que eu voltasse para informar se funcionou.

Eu não tirei da cabeça o que ele disse sobre eu ajudá-la.

Talvez essa seja minha missão...

Balanço minha cabeça. Eu não posso ceder a uma fantasma.

Mesmo sendo uma fantasma muito bonita.

Quando entrei em casa o silêncio reinava. Nem sinal daquela coisa.

Procurei na Internet tudo relacionado a fantasmas. Assisti vários episódios de Supernatural e Os caça-fantasmas.

Anotei tudo em um bloquinho.

"1- Jogar sal em todas as entradas;

2- Pegar uma faca que tenha ferro e prata (funciona com lobisomens, então talvez funcione com uma fantasma);

3- Procurar qualquer objeto que possa estar prendendo ela a casa e queimar;

4- Se nenhuma das anteriores funcionarem, procurar os ossos dela e queimar."

Perfeito. Sou um maníaco agora.

Pego sal e jogo em todas as portas. Para prevenir também penduro uns crucifixos que encontrei e alho (não me julgue, funciona com vampiros, então é uma opção).

Jogo a água benta em toda a extensão da casa enquanto faço a oração do Creio. Em seguida pego a bíblia – que eu não lembrava ter trazido – e abro nos Salmos. Sento no meu sofá e começo a ler. Logicamente, deixo um pouco da água benta perto de mim.

Quando estou quase terminando de ler, sinto um ar frio.

Ela está se aproximando.

Levo minha mão para perto do vidro com a Água.

— Sério isso? — Ela fica à minha frente com os braços cruzados.

Aproveito que está olhando ao redor e jogo toda a água sobre ela.

Sim, a água passou direto sem nenhum efeito.

— Garoto burro, já reparou que não tenho carne e osso? — Ela pôs a mão direita no queixo como se estivesse pensando — Mas o engraçado é que quando eu quero muito, consigo mexer nas coisas. E também consegui fazer a cama balançar enquanto pulava. — Eu estou louco ou ela está sorrindo?

— Por que você não me deixa em paz? — Pergunto abaixando os ombros em sinal de frustração.

— É porque gosto de você. — Ela se agachou e ficou olhando para mim fixamente. — Se eu fosse humana, iria dar em cima de você. — Ela gargalha.

Um arrepio percorre meu corpo. No fundo eu sei que, se ela fosse humana, eu gostaria muito de paquerá-la.

Oh não!

Me repreendo mentalmente. Eu não posso estar pensando isso.

— Se eu te ajudar a descobrir sobre sua vida, você me deixa em paz? — Não acredito que estou cedendo.

— Jura??? — Ela junta as mãos com alegria. — Eu prometo. De mindinho! Se eu ao menos souber quem sou te deixo em paz. Mesmo que eu não consiga passar para outro plano ou coisa assim, eu nunca mais irei aparecer para você!

Eu senti que o que ela dizia era verdade. Por mais maluca que essa situação possa ser, eu estou confiando em uma fantasma. E o pior é que estou um pouquinho triste com a probabilidade de não vê-la mais.

Oh! Só posso estar maluco mesmo. Tudo que eu quero é que ela desapareça de vez.

Sim. Darei o meu melhor para descobrir tudo sobre essa fantasminha. E então estarei livre dela.

E aí vou eu.

De um mero estudante universitário a um detetive particular de fantasmas.

Espero muito que a notícia não se espalhe. Não quero que isso se torne profissão...   

Quem É Eva?Onde histórias criam vida. Descubra agora