Capítulo II

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  Molhados, seus cabelos castanhos eram ainda mais escuros, alcançando o tom de seus olhos. A chuva ficava cada vez mais intensa e todos se retiravam para buscar abrigo. Mattew insistiu em ficar graças a sua curiosidade e permaneceu de pé ao lado de Baehrius, agora sentado sobre os calcanhares.

  O navio estava perto porém ainda era difícil vê-lo graças a chuva pesada e a névoa. Era possível apenas visualizar seu formato incomum, longo como uma espada que cortava as ondas. Era extremamente decorado com formas indescritíveis no momento sendo reconhecível a predominância da cor azul no casco e velas. Baehrius se levantou parar admirar o barco que enfim chegou ao porto, muito maior que o esperado. Mattew não se impressionou: Seu navio ainda era o maior entre todos.

  Viu homens muito bem vestidos saindo ao convés, preparando-se para atracar. Se perguntou se seriam homens a serviço de seu pai, pensando que seu próprio pai poderia estar ali, Sorriu. Suspirou. Começou a caminhar subindo a prancha que conectava o cais ao convés, com Mattew o acompanhando, porém, ele estranhava o desentendimento dos marujos que os observavam, e decidiu manter a atenção afiada. No convés havia mais um homem ainda mais bem vestido. Um outro cobria-o com um manto por cima da cabeça, para que não molhassem suas anotações que fazia na hora, como se checasse algo.

  Baehrius parou em frente ao homem e antes que seu novo amigo o advertisse sobre algo estar errado, colocou sua mão molhada sobre o caderninho, encharcando-o.

  — Bom dia, senhor! Meu pai está lá dentro? - a felicidade em seu tom de voz era irritante.O outro, porém, estava claramente desgostoso ainda segurando o amontoado de papel molhado e tinta diluída que já fora seu caderno. Olhou para o menino e analisou-o de baixo a cima. Manteve a calma.

  — E quem seria seu pai? — Apesar do que sentia, tentou ser gentil.

  — Seu chefe, eu suponho. — Resolveu responder debochando-o. — E por isso, este deve ser meu barco.

  — ...Seu? Me disseram que Nikola tinha os cabelos como os do pai... — Nesse momento, Mattew o encarou seriamente por alguns segundos e rapidamente enfiou sua mão na própria cara, expressando sua vergonha alheia. Porém, o rapaz mais novo continuou.

  — Além de errarem isso, erram meu nome. É Baehrius! B...A...— E soletrou seu nome diversas vezes até ouvir um estralo mecânico por trás, acompanhada da atormentada face do escrivão a sua frente. Virou-se lentamente e ao mesmo tempo que soava um trovão e um relâmpago iluminava o céu por um instante, vislumbrou um garoto apontando um rifle na sua direção.

  — Fredhold...— A decepção na voz de Mattew era clara. Finalmente entendeu por fim o que estava acontecendo. — Ô Baehrius, vamos sair daqui pra já.

  — P-Peraí! Quem é o baixinho com a arma? — O garoto armado era bem menor que todos, mas era difícil definir sua idade.

  — Nikola, filho mais velho dos Fredhold. A gente tá ferrado, o barco é da família dele, seu bocó!

  — Tu tá brincando, né!? Parecia perder toda a felicidade que o contaminava.— Mattew, me fala! — E o desespero o dominou.— Matt!! — E ouviu-se um estouro e um zunido, acompanhados por um cheiro fraco de pólvora no ar. Perdido nos pensamentos que se embaralhavam com as emoções, Baehrius brevemente se esqueceu do garoto silencioso na chuva que acabou de atirar entre os dois rapazes, quase atingindo seu empregado, que agora fugia com outros marujos. Rapidamente carregou outra bala e voltou a sua posição.

  A serenidade do atirador era assustadora e não precisou falar uma palavra sequer para amedronta-los. Com o coração na boca, Mattew arrastou Baehrius para fora do navio, totalmente paralisado de medo, ainda sobre a mira de Nikola.

Um Conto Sobre o Mar, os Barcos Sobre Ele e os Homens Sobre AmbosWhere stories live. Discover now