Desgraça

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- Hora de partir, meu amigo! - Falou Wilson, o jovem cobrador. Ele e seu parceiro, o motorista Jorge, trabalhavam juntos há 12 anos. Dias e muitos dias de trabalho cansativo, encarando o transtornado e estressante transito. Era quinta-feira, portanto dia de trabalho noturno.

Mesmo que fosse uma noite comum de quinta, Wilson sentia algo estranho. Um pressentimento de que algo ruim fosse acontecer naquela noite, e mudar a vida dos dois amigos.
- Algo ruim vai acontecer... - Wilson resmungou, assustando Jorge. - Não diga besteiras, Wilson. Aí vem os primeiros passageiros. - Jorge retrucou. Então os primeiros passageiros da noite vieram: uma gestante, três jovens estudantes e uma menina que, julgando pela aparência angelical, tinha uns 13 ou 14 anos.

A noite seguia normal, e o ônibus seguia sua rota de costume. Tudo em seus conformes, mas Wilson ainda estava com aquele sentimento angustiante. Ele começou a encarar a jovem menina angelical que entrara no ônibus junto aos outros - e únicos - passageiros da noite. Ele a olhava, achando estranho ela estar andando sozinha àquela hora da noite... Enquanto olhava-a aquela angustia que ele sentia ia aumentando. "Ok, como essa garotinha pode ser algo de ruim? Como?", Wilson se indagava.

- Ei, menina venha cá! - Chamou Wilson. A garota olhou para ele com um rosto indiferente, levantou-se de seu assento e se dirigiu a ele. Sentou no banco em frente a cadeira do cobrador e foi indagada por Wilson:
- O que uma menina jovem como você faz a essa hora sozinha? A menina não respondeu, apenas abaixou sua cabeça e sussurrou algo inaudível. Wilson ficou confuso. - Garota, por que não responde? A menina levantou cabeça. Sua face não parecia mais tão angelical: seus olhos estavam com grandes olheiras, sua face estava mais pálida, seu cabelo se bagunçara, sua roupa se tornara um longo vestido branco rasgado e o mais assustador... Sua boca ensopada de sangue. Wilson se moveu bruscamente para trás com o susto que levou. - O que é isso garota? - Ele perguntou com seus olhos arregalados. Como resposta, a garotinha sorriu levemente.

Todos os outros passageiros deram sinal, Jorge parou o ônibus e todos desceram. Tudo acontecia e ninguém percebia. Ninguém notava aquela garota horrível, e Wilson vivia um pesadelo. - Jorge, Jorge! Pare essa merda desse ônibus! - Wilso gritou. Jorge não o ouviu. A garota se levantou e disse, em seguida desaparecendo: - Eu sou sua desgraça!

Wilson despertou. - Ah, foi só um pesadelo... - Ele pensou alto, um tanto aliviado. Jorge notou que o amigo havia acordado de um cochilo acidental e logo anunciou que eles estavam próximos do fim da viagem.

Há poucos metros do ponto final, Wilson notou alguém no fundo do ônibus. Ao observar melhor viu que era uma garota... Uma garota parecida com a de seu pesadelo. Antes que ele pudesse ficar assustado, a garota surgiu em sua frente e sorriu levemente... Por alguma razão inexplicável o ônibus capotou. Wilson foi jogado para o fundo do ônibus, e de lá, caído, ele viu Jorge com cacos de vidro no pescoço. O cobrador não conseguia se mover, suas costas doíam muito e havia uma grande hemorragia em sua cabeça. Prestes a morrer, o homem vê uma menina surgindo em sua frente. Ela se aproxima mais, se abaixa, ri de maneira caçoante e diz:
- Desgraça... Essa é a sua desgraça...!

A última coisa que Wilson ouve, antes de  partir, é uma risada caçoante e macabra que ecoará em seu ouvido e perturbará sua alma para o todo e o sempre.

NÃO DURMA... PARTE 2 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora