Seus motivos

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Peter acordou. Já faziam dias desde a última vez que vestira a roupa de Homem-aranha.

Esfregou seus olhos, passou a mão no cabelo bagunçado. O sol entrava pela sua janela; finalmente fim de semana. Ele sentiu um gosto ruim na sua boca, tudo que queria agora era um café.

Se levantou e foi até o banheiro, passar água no rosto. Ao se olhar no espelho viu o quanto o cabelo estava bagunçado, passou uma água também para arrumar.

Andou até a cafeteira e preparou seu copo de café. Esquentando sua torrada, se virou para a janela e encostou na pia. Tomando seu café fez uma conta mental quantos dias não saía para parar alguns caras maus. Cinco dias. Se perguntou se não tinha algum alerta no rádio; o ligou. A maioria das notícias falavam de um acidente ali, um pouco de política aqui. Nada com que ele mesmo pudesse ter resolvido.

Ele queria tanto se importar e estranhar a situação, mas não era como se ele não estivesse gostando. Ele já havia passado dias sem sair de casa como o outro cara, não era algo novo. E ele também podia tirar um tempo para si, colocar a faculdade em dia.

Enquanto tomava seu café, seu olho escaneou seu apartamento. Sua cama ainda bagunçada, seu notebook apagado no canto, suas plantinhas crescendo na janela. Seus olhos pararam naquele vermelho. Seu uniforme estava em um cabide, pendurado.

Se fosse outro momento, pensaria na sua a ideia de responsabilidade pelos seus poderes. Esse tempo que estava em casa, o que teria ocorrido? Porém, veio duas palavras na sua mente. Wade Wilson.

Quase se engasgou com sua torrada. Por que estava pensando nisso agora? O que importava? Não tinha o que pensar, ele apenas visualizou o rosto em sua mente.

Largou seu café e foi regar suas plantas. Ele passou um tempo encarando a paisagem de fora de sua janela.

Chega de férias. Pensou. A noite tenho trabalho a fazer.

Mais tarde estava onde deveria, no topo de um prédio. Ele tinha percebido a diferença no clima da cidade nos últimos dias, nada de crimes. Nem leves, nem graves. Ele não estava gostando disso.

Em meia hora ele não sentiu nada. Não era como se fosse desistir já; outrora passara muito mais tempo esperando. Felizmente sentiu alguma coisa, algo vindo da sua direita, não muito longe dali.

Ouviu um trovão no fundo, a manhã havia se transformado em uma tarde nublada, e agora ameaçava a chover.

Ele não esperou que a chuva caísse e foi atrás do que o alertou.

Chegou rapidamente no local, porém já era tarde. Ele se deparou com no mínimo dez homens no chão, apenas desacordados. No meio deles lá estava ele em pé.

O coração de Peter decidiu dar um mortal no seu peito e sua barriga embrulhou. Aterrissou a poucos metros do outro. Neste momento a chuva já caía sobre eles. Um farol de carro os iluminou, aparecendo no local.

"Sem tempo para conversar, aranha." Wade se posicionou para lutar mais uma vez.

De dentro do carro saiu o mesmo homem da outra noite. O motorista abriu um guarda chuva e o acompanhou. Ele se aproximou dos dois.

"Ahãm." Limpou a garganta. "Como puderam ver, estou livre. Afinal, não sou qualquer um e tenho bons contatos. Infelizmente vocês arruinaram mais um negócio."

Ele estava segurando (mas nem tanto) o tom de deboche.

"Vamos. Se quiserem me prender novamente."

Peter sentiu seu sangue subir. Não entendia porque alguém com dinheiro se esnobaria tanto, compraria armas e só faria o mau. Ele deu um passo para fazer o que lá desse na sua cabeça, mas foi impedido.

"O que...?"

A katana de Wade o impedia de passar. Ele o olhou confuso. Ele, Deadpool, o próprio mercenário, o estava impedindo de dar uma surra em alguém?

"Como eu pensei. Aproveitem o resto do nosso pequeno jogo, cavalheiros."

O homem deu a volta e embarcou no carro. Foram embora, deixando Peter e Wilson em pé com dez homens para levar aos pés da delegacia.

"Qual o motivo daquilo?"

Peter andou de um lado para o outro dentro do apartamento de Wade. A chuva tinha engroçado, então decidiram descutir em um local fechado.

"Eu sabia que ele não ficaria lá dentro por muito tempo, ok?" Wade não queria que saísse como se estivesse ofendido.

"Por que não me chamou? Está fazendo isso sozinho? Prendendo os caras maus?" Peter não sabia porque estava se sentindo assim. Não sabia dizer se estava bravo ou preocupado.

Wade suspirou.

"Sim, eu ando prendendo os caras maus sozinho. Perseguindo e os entregando a polícia."

Peter juntou as sobrancelhas, não estava entendendo a situação. Wade não tinha motivos para isto. Era o Deadpool, por quê ser bom?

Ele esfregou os olhos por cima da máscara.

"Eu..."

"Desde a última vez que nos vimos, eu ando solucionando os problemas da cidade. Desde crimes pequenos até esquemas de trafico. Sem matar uma única alma. Sozinho. Contra o mau."

Peter paralisou. Desde a última vez...?

"Eu... estou sem trabalhar como herói por sua causa? Você anda fazendo o meu trabalho?"

Ok, agora sim ele estava confuso de verdade.

"Eu aceitei ajuda eu um caso só. Não pedi para... Calma, por que tudo isso? O que você quer?"

Wade tirou a máscara, olhou para o Homem-aranha a sua frente.

"Me redimir, eu disse. Você viu que o caso não finalizou, ele está solto novamente. Eu vou te ajudar, você querendo ou não."

Peter alternava o peso do corpo de uma perna para a outra. Ele já tinha entendido que Wade queria ajudar com o último caso, devia ter contas para acertar. Mas o que não entendia era as férias que Wade estava o dando.

"Olha, eu agradeço os dias de descanso, mas eu tenho que fazer este trabalho." Ele balançou a cabeça. "Pelo menos me chame para ajudar. Você não precisa fazer tudo sozinho. Okay?"

Ele andou até a janela, estava prestes a abrir quando ouviu Wade falar:

"Hey, garoto! Como eu vou chamar você? Eu não tenho nem seu número."

Peter se xingou mentalmente por esquecer deste detalhe.

Sem mais nem menos, Wade pegou um pedaço de papel e uma caneta, escreveu "Aranha ♡" e passou para o outro.

'ᴍᴏᴛɪᴠᴏs'Onde histórias criam vida. Descubra agora