Sentia-se um calor humano. Foi então que apareceu um jovem, aparentava ter uns 17 anos. Ele era alto, com um tom de pele escura. Não era um rosto estranho, pois não era a primeira vez que ele ia naquele lugar. Tudo mudou repentinamente. Todos ficaram calados apreciando o que aquele jovem fazia. Ele não ficava parado, andava dum lado para o outro, como se estivesse a procura de algo. Passos daqui, passos dali, olhares daqui, olhares dali. De repente ele encontrou um banco, parecia velho, mas o olhar e o brilho era de quem havia encontrado um tesouro de família. Segurou-o com tanta força e suspirou de alívio. Logo de seguida sentou-se sobre ele, assim, sujo e empoeirado, velho, sem cinismo e com uma alegria total.
- O avó não falava muito a menos que estivéssemos cá, neste lugar, longe da cidade e dos problemas. Com um quase-silêncio maravilhoso da natureza (apenas se ouvia os sons dos animais).
-Aqui cada um podia ser quem quisesse, não era necessário usar vestes de personalidades exemplares para que fossemos respeitados. Nós nos despíamos de toda maldade e da guerra em que éramos submetidos e entregávamo-nos à paz e ao descanso da alma. Lembro-me de todas as poucas vezes que o avó soltou algumas palavras. O avó agradecia, apenas agradecia, triste ou alegre. Parecia que ele agradecia até de algumas perdas aparentemente importantes. Eu nunca entendi as suas sábias poucas palavras ditas a frente de um televisor desligado que aqui se encontrava ou a volta de uma fogueira. Era muito superficial nas minhas percepções e continuo a ser, ou se calhar não? - o jovem desabafava naquele meio de paredes sem cobertura por cima.
Logo que terminou de soltar aquelas palavras ele apoiou os braços sobre os pés e começou imaginar todas as coisas que aconteceram naquele lugar, coisas boas e más. Ele tinha uma fama de ser alguém com uma personalidade forte, não mostrava muito os seus sentimentos, achava isso uma fraqueza, mas naquele dia ele chorou feito uma criança, com soluços e gritos de desespero. Gritava, gritava, implorava por mudanças; perguntava os motivos da sua vida ter mudado tão repentinamente. Eram perguntas retóricas, mas parece que ele esperava por um segundo respostas por parte de alguém que no momento nem ele sabia quem.
Já o dia tinha partido e ele precisava fazer-se a estrada, voltar a sua batalha no mundo. Levantou-se, despediu-se da casa como se tivesse mais alguém e pegou o seu rumo em direcção a sua rotina diária.
Desde que o avô morreu, o jovem nunca mais foi o mesmo. Seu pai não conseguiu superar a perda, adicionando ao facto de ser um professor fracassado e sem emprego tornou-se um alcoólatra, vindo a se separar da sua mulher meses depois, quando ela tomou coragem e o acusou, dizendo que a batia e ameaçava os filhos se ela o denunciasse. Sofreu reprimida por um bom tempo. Tudo isso fazia confusão na mente do jovem, que era o filho mais velho de seus pais, e não fazia nada para mudar o rumo dos acontecimentos. Mas, depois da visita dele a antiga casa, algo mudou...To Be continued
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