Capítulo 16.

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| H O P E |

- Acho que esse vestido ficará bom, vai realçar suas curvas. - disse Alexis de uma forma eufórica. Nos últimos meses eu havia engordado, estava menos abatida e, fisicamente bem. Eu ainda carregava comigo todas as dores que Dylan tinha deixado em mim. A perda do meu filho era um sofrimento constante, um vazio irreparável. Em meio aos pesadelos frequentes com Josh, o que me acalmava era o meu filho. Imaginava o rosto dele, sua respiração calma e, mesmo que por tempo, ainda dentro de mim transmitiu todo o seu amor.

Olhei para o meu reflexo no espelho, estava agradável, meu vestido preto ia até a metade da minha coxa, meus saltos da mesma cor combinavam. A única coisa que se destacava eram os meus lábios, que carregavam um vermelho sangue. Meus cabelos eram uma longa cascata negra, já passando da minha cintura, meus piercings e tatuagens chamavam atenção porém não mais que minha pele alva junto com meus grandes olhos cinzas. Minha aparência meio rude, punk, deixavam as pessoas intrigadas. Aquela era a velha eu.

Por fora eu exalava confiança, fazia o tipo de garota que não se abalava por qualquer coisa. Forte. Por dentro, quem me conhecia sabia o quão funda eu era agora. Me perdia dentro de mim mesma, com meus medos e angústias.

- Vamos? - Alexis usava um vestido vinho, estava bonita. Eu gostava dela, era uma boa pessoa. Ficava com meu irmão sempre, formavam um belo casal.

Entramos no carro ruma a fraternidade, aos poucos eu retomava a minha vida. Josh havia sumido, não se tinha notícias dele, alguns diziam que ele teria morrido, mas eu não acreditava. Dylan a cada dia que passava aparecia menos na Faculdade e eu agradecia por isso. Heaven, bom... Ela foi a menos afetada por tudo isso, estava vivendo a sua vida normalmente. Intacta.

O som tocava alto, a música agitada faziam as pessoas dançarem loucamente.

- Você precisa se divertir! - Alexis me arrastou até a pista de dança, me deu um copo vermelho com alguma bebida desconhecida fazendo - me ficar mais animada. Aos poucos foi se afastando de mim, mas não me importei. Os corpos se balançavam juntos com o meu, o álcool corria pelas minhas veias me dando um momento de paz. Esqueci de tudo que aconteceu comigo nos últimos tempos por um segundo. Me sentia leve, leve.

- Oi gata, tudo bom? - uma voz extremamente rouca chamou minha atenção. O dono da voz dançava colado a mim, nossos corpos em perfeita sincronia. Me virei para o mesmo e só pude me perder em tanta beleza.

- Sério isso? - me olhou confuso, esperando que eu continuasse. - Essa abordagem é muito simples para um cara como você. - esclareci. Seu rosto se iluminou, abriu-me um sorriso que me fez ficar de pernas bambas. Sua expressão era leve, como a de uma pessoa com a vida calma e sem preocupações.

- Você me deixou sem palavras.- Continuei calada, era um estranho, não tinha o que falar. Insistente, prosseguiu - Aaron. Meu nome é Aaron.

- Hope. - Continuamos a dançar, mas dessa vez estava encarando aquele infinito azul, Aaron era bonito. Muito bonito. Alto, forte, olhos azuis, rosto expressivo, lábios carnudos e cabelos castanhos escuros, quase preto. Sua mão desceu de encontro a minha cintura, me trazendo para perto, afastou os fios rebeldes que insistiam em ficar no meu rosto e me encarou como se estivesse esperando algum sinal.

Eu sabia como aquilo iria acabar, e queria. Por isso não protestei quando seus lábios se chocaram com os meus. O beijo era lento, gostoso, bom. Diferente. Me afastei de Aaron quando seus braços me apertaram, um lapso de desespero tomou conta de mim. Sempre me lembrava de Josh, de seu toque. Logo o desespero foi substituído por algo bom, os olhos de Aaron me transmitiam calma. Uma sensação boa. Que foi capaz de interromper uma possível crise.

- Esta tudo bem, Hope? - Apenas balancei a cabeça confirmando, me virei para a saída e fui embora, deixando Aaron para trás. Ele não me seguiu, o que foi bom. Precisava ficar sozinha, aquilo era muito. Eu estava indo aos poucos.

Apressei o passo enquanto chamava um táxi. Era cedo. Alguns minutos se passaram e logo o carro estava na minha frente. Entrei no mesmo e disse o meu endereço, o carro começou o seu trajeto e as ruas estavam calmas. Passando em frente ao bar, no chão, estava Dylan. Segurava uma garrafa de Vodka pura, com um canudo cheirava um pó branco. Magro e abatido, como eu estava a alguns meses. A diferença era que agora Dylan se encontrava num poço mais fundo que o meu. Mais ainda sim, estávamos perdidos em nossas dores.

***

Desculpem pela demora! Obrigado pelo incentivo, carinho e apoio de todos. Amo vocês ♥

HOPEOnde histórias criam vida. Descubra agora