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Depois de dar uma olhada e exclamar a respeito de Laurie - a qual, além de uma parada para aliviar a bexiga, havia dormido no banco de trás durante toda a viagem até Boca - Beth voltou-se para suas habituais prioridades de irmã-mais-velha. Apesar de poder chateá-lo com vários assuntos (ela era uma virtuosa nisso), seu assunto principal dessa vez era o Dr. Albright e a necessidade de Lloyd se consultar com ele para um check-up em atraso.
"Apesar de você estar com uma boa aparência", disse ela. "Eu tenho que dizer isso. Você na verdade parece estar bronzeado. Supondo que isso não é icterícia."
"Eu sempre posso contar com você para um pensamento animador, Bethinha. É apenas sol. Eu caminho com a Laurie três vezes por dia. Na praia quando a gente acorda, no Caminho da Milha Seis até a peixaria, onde eu almoço e de novo na praia ao anoitecer. Para o pôr do sol. Ela não liga pra isso - cachorros não têm senso estético - mas eu gosto."
"Você caminha com ela no calçadão do canal? Jesus, Lloyd, aquilo está um desastre. Está pronto para colapsar abaixo de você um dia e te jogar dentro do canal, junto com a princesa aqui." Ela esfregou o topo da cabeça de Laurie. O cachorro semicerrou os olhos e pareceu sorrir.
"Está lá há quarenta anos ou mais. Acho que vai durar mais que eu."
"Você já marcou a consulta com o médico?"
"Não, mas eu vou."
Ela levou seu telefone ao alto. "Faça isso agora, por quê não? Eu quero ver."
Ele podia perceber em seus olhos que ela não esperava que ele fizesse o que ela disse, o que foi um motivo pelo qual ele fez. Mas não o único motivo. Nos anos anteriores ele tinha pavor de ir ao médico; ficava esperando por aquele momento (sem dúvidas condicionado por programas de TV demais) quando o médico o olharia gravemente e diria "Eu tenho más notícias."
Agora, no entanto, ele se sentia bem. Suas pernas estavam rígidas quando ele acordou de manhã, provavelmente por tanto caminhar, e suas costas estavam rangendo como nunca, mas quando ele voltava sua atenção para seu interior, ele não encontrava nada preocupante. Ele sabia que por algum tempo coisas ruins poderiam crescer sem se fazer sentir em um corpo de um homem velho - rastejando furtivamente até que fosse a hora de colidir - mas nada progrediu até o ponto em que houvesse alguma manifestação para fora de si: sem privada ou saliva sangrenta, sem dores profundas na barriga, sem problemas para engolir, sem urinação dolorosa. Ele refletiu sobre como era muito mais fácil ir ao médico quando seu corpo estava lhe dizendo que não havia razão nenhuma para ir.
"Por que você está sorrindo?" Beth parecia desconfiada.
"Por nada. Me dá isso."
Ele quis alcançar o telefone. Ela o segurou longe dele. "Se você quer mesmo fazer isso, use o seu próprio telefone."
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Laurie - Stephen King (Tradução)
Misteri / ThrillerTradução do conto Laurie, de Stephen King. O conto foi lançado no dia 17 de maio de 2018, no site oficial do autor. A história é sobre os laços de afeto que unem um homem desiludido e uma cachorrinha amorosa.