tu deveria assumir logo

257 29 3
                                    

o pôr do sol chegou ao fim e eu não queria que ana fosse embora. na verdade, fiquei o tempo todo tentando pensar em uma razão pela qual eu pudesse pedir ana pra ficar.

- acho que é isso então, gente. rafa e eu vamos - ana começou a falar, mas eu interrompi.

- NÃO!! - falei um pouco alto demais, até eu me assustei com o meu tom de voz - quer dizer, comentei com vovó que eu viria perto da casa dela hoje, e ela chamou a gente pra ir lá. o que cês acham?

- ah vi, não queremos incomodar - rafa respondeu primeiro do que ana, que ficou muda por alguns segundos.

- que isso, incômodo nenhum. se vocês não forem, deixarão uma jovem e uma idosinha muito fofa, muito tristes. - chantageei e, por alguma razão, eu sabia que ia funcionar.

- mostre o caminho então, senhorita vitória. - ana entrou na conversa só quando decidimos ir pra casa de dona efigênia.

- bom, galera. queria muito participar da incrível noite de vocês. - lucas começou com suas tradicionais desculpas de quando estava com preguiça de sair - mas tenho um date hoje. então acho que a minha noite vai ser muito mais incrível do que a de vocês. beijos.

nos despedimos de lucas e fomos rumo a casa de vovó. meu lugar favorito no mundo.

***

- vivi!! ju!!! que saudades!!! ju, comprei um chocolate para vitoria, mas ela pode dividir com você. - vovó começou a falar, até que ana e rafa entraram na casa - e quem são esses dois, em? tão pequenina e tão grande. tão lindos. são irmãos?

- somos sim, tia. - ana respondeu. ela ficou vermelhinha. incrivelmente mais linda do que o normal.

- vocês são muito lindinhos. acho que comprei um chocolate pra aninha também. vocês podem ficar com o dela, se quiserem. depois eu compro outro para a pequena. - vovó ofereceu, mas eu sabia que ela não aceitaria um não como resposta.

- pega! - sussurei pra ana, que assentiu na mesma hora.

- eu vou fazer alguma coisa pra vocês comerem, estão com fome? - perguntou vovó. como se, de fato, ela se importasse. era óbvio que ela iria fazer alguma coisa para comermos. - mas ó, tem bolo e minipizza, mas não tem refrigerante. vivi, você pode ir lá na padaria comprar um guaraná?

- posso sim, vó. já estou indo. - eu disse, mas não queria sair de perto de ana clara - ei ana, tu pode ir comigo? - sussurrei pra naclara enquanto ju e rafa foram pra sala.

- tava esperando tu chamar - ela sussurrou no mesmo tom, o que fez o meu coração acelerar.


***

fomos por metade do caminho quietas. mas não era um silêncio ruim. era um silêncio acolhedor, confortável e gostoso. até que ana clara o quebrou.

- vi

- oi ninha - respondi no tom mais carinhoso que eu consegui fazer

- eu acho que tu deveria assumir logo.

- tu acha, é? e o que, exatamente, que eu deveria assumir logo? - disse com um leve tom de ironia, mas já sabia do tom de brincadeira dela.

- ué, não é óbvio? que tu tá apaixonada por mim. - ela disse, num tom um tanto quanto provocante

meu coração acelerou, caralho, ana clara, que tipo de brincadeira era essa? senti meu rosto queimar na mesma hora.

- credo, tô brincando vi. num precisa virar um pimentão não.

dei um sorriso meio de lado, meio bobo, mas senti meu coração falhar. ana clara acabava de se infiltrar no meu mais profundo pensamento e trazer à tona uma verdade que nem eu sabia: eu estava apaixonada por ela.

drift apartOnde histórias criam vida. Descubra agora