Ficar ou correr?

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A música estava alta

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A música estava alta.
O ambiente quente demais, talvez isso fosse devido a estrondosa fogueira que fora acendida bem ao meio da enorme clareira a baixo da grande árvore, havia muitas lâmpadas penduradas pelos galhos da mesma, crianças, adultos e idosos dançavam ao som de boleros tocados pelos músicos ali presentes, conseguia ver a excitação do pianista ao tocar as notas em um ritmo frenético.
O céu da noite nos presenteava com inúmeras e enfeitiçantes estrelas, a lua brilhava alto no céu, mesmo sendo um satélite, era a atração principal daquela imensidão de pontos brilhantes no véu negro.
A minha frente era possível ver as imensas raízes da grande árvore, abarrotada de pessoas, que comiam e bebiam, era como um enorme piquenique , e a família real se destacava em seus tronos, comendo e conversando, enquanto eu me escondia atrás de uma pequena cerca viva.
Estava com as costas apoiadas nas paredes do castelo.
Era uma pequeno espaço entre a minha pessoa e a a parede de folhas, mas o necessário para visualizar tudo com exatidão.

Eu me encontrava na minha festa de despedida, e todos estavam felizes e talvez era por isso que me sentia tão triste.
Como eles poderiam ficar tão felizes com a morte de alguém que não era inimigo? Mas eu na verdade conseguia entender, é a minha morte que dará vida a eles. A minha morte que os dará um futuro, a minha morte que os dará esperança.
Tudo ali inspirava alegria. Afinal permanecer vivo era muito satisfatório, não que eu fosse ter a chance de entender aquilo.

Respirei fundo e balancei a cabeça, mandando para longe qualquer pensamento mórbido, fui a passos firmes em direção aos meus pais e irmãos, percebi que todos os três pirralhos estavam de certa forma carrancudos. Felipe o mais velho do trio me viu e logo se levantou para me saudar.

-irmãzinha estava te procurando, onde se meteu?-seu olhar era preocupado, e conseguia ver o mesmo olhar também nublado pela tristeza.

-estava na biblioteca, sabe bem que é o lugar que eu mais gosto neste castelo...- falei o abraçando de lado, mas ele subitamente parou e começou a me levar em direção ao imenso jardim que tínhamos.- o que está fazendo Felipe?

-só quero aproveitar essa noite um pouco mais com você...- seu braço era forte enquanto apoiava a minha coluna, como mandava o protocolo, seguimos em direção ao centro do Jardim, e ao chegar la vislumbrei dezenas de velas e rosas distribuídas em um enorme cetim azul, havia vinho e alguns doces, como um apetitoso bolo de chocolate, Felipe completou tudo dizendo- sei que não está feliz com as pessoas la fora, então resolvi te dar uma noite especial, espero que goste.

Eu sorri para ele e o abraçei quase o esmagando, sem que eu mesma notasse uma corredeira de lágrimas descia por minhas bochechas, assim molhando a blusa de linho azul do meu irmão. Ele era um dos únicos próximos a mim, tínhamos menos de um ano de diferença de idade, então sempre fora difícil mante-lo longe.
Felipe sempre fora mais avançado que sua idade, então quando eu entendi o meu destino e tentei afasta-lo de mim, ele mesmo sendo uma criança que ainda precisava de ajuda para comer, se ajoelhou e pegou minha mão a beijando, proferindo as seguintes palavras:
-jamais deixarei você minha irmã, aguentarei a dor de te perder mas jamais aguentaria a dor de nunca ter tido momentos bons com você, então por favor não me afaste, deixe-me cuidar de você!- mesmo sendo mais novo Felipe sempre viu a nescessidade de me proteger, o único que sempre me tratou assim, pois o resto da minha família e do mundo me via como alguém forte o suficiente para aguentar o destino sem contestar.
Ele sempre esteve ao meu lado.
Mas eu não vou poder estar ao lado dele para sempre.

Preparada Para MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora