Capítulo Um

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Solzão estalando, e eu voltando da escola. Camiseta dobrada e de coque. Estava cheia de fome, o que era um problema já que com certeza a geladeira estaria vazia. Entrei em casa, a mesma estava toda revirada, minha mãe estava caída no chão. E tinha um saco de cocaína sobre a mesa.

Eu não estava acreditando naquilo, pra ser sincera, eu não estava acreditando que ela estava fazendo isso dentro de casa e a essa hora do dia. A peguei pelo braço e levei ao banheiro, dei um banho nela. Segurando pra não chorar. A casa em que eu morava com a minha mãe era, meio que um puxadinho, um banheiro, uma cozinha embutida na sala, que também era nosso quarto. Viemos pra cá quando eu tinha 9 anos e meu pai largou a gente, minha vida já foi bem diferente do que é hoje. Foi nessa mesma época em que minha mãe caiu na depressão e nas drogas. Eu já fiz de tudo pra tira-la desse situação e tudo é em vão.

Arrumei as coisas, joguei aquele saquinho no vaso sanitário. Realmente, a geladeira e o armário estavam vazios. Eu estava atrasada pro trabalho. Tomei um banho correndo. Peguei a van que me deixou na esquina do banco em que eu trabalhava como jovem aprendiz. Ralei de 1 as 6, em pé, eu trabalhava, nas máquinas, como: Posso ajudar? Ganhava R$650,00 reais, mas o bolsa família e o bolsa carioca dava pra viver. Voltava pra casa morta todo dia, mas era o jeito. Hoje como era dia de receber, ai sim, alegria de pobre, e claro alegria de pobre dura pouco. Peguei saquei parte do meu pagamento, pra pagar as contas e fazer compras. E deixei uns duzentos reais pra emergências. Peguei uma van e soltei no carrefour. Comprei o necessário, como sempre. Peguei um taxi, na porta, porque seria impossível levar as coisas pra casa de van. O taxista topou me levar porque eu, não morava tão lá dentro do Antares. E por incrível que pareça ele estava me cantando, eu com roupa de trabalho, acabada. Quando ele chegou na minha porta, eu fiquei com vergonha, porque olha a minha casa. Ele foi tão educado, que não me cobrou, e eu fiquei pensando se ele estava com pena ou gostava de mim. Ele pediu meu número, perguntou se eu tinha whatsapp. Meu celular era aquele Samsung pobrinho. Mas eu tinha sim whats, só não tinha a internet pra usa lo. Entrei em casa, com o ego massageado. Era difícil eu chamar atenção de alguém. Minha mãe já tinha acordado, e com um sorriso de ponta a orelha em ver que eu tinha feito compras.

Mãe: O bolsa família já saiu filha?

Bruna: Já. - Respondi a seco, sem olhar pra ela. 

Mãe: Desculpa por hoje filha.

Bruna: Tudo bem. Pelo menos dessa vez eu não precisei ir te buscar na rua. - Dizia enquanto guardava as compras. Ela ficou quieta e deitou no sofá.

Bruna: Mãe, domingo é a prova da Fiocruz.

Mãe: Bruna, é muito perigoso, muito longe filha. Você não vai.

Bruna: E por que você esta se preocupando com isso agora? Eu tenho bem mais  responsabilidade que você.

Mãe: Mas se você for pra lá, vai ter que largar o emprego.

Bruna: A sua preocupação é eu ter como te sustentar mãe? - Eu estava preferindo ser surda a ouvir aquilo.

Mãe: Não é isso.

Bruna: Por favor não fala mais nada.

Fiz arroz, farofa e peito de frango frito e jantei, arrumei meu colchão no chão e apaguei. Era sábado de manhã, acordei cedo pra dar uma geral na casa. Estava de bobeira, mesmo. Varrer, passar pano, lavar banheiro, passar pano nos móveis. Só ai foi minha manhã toda. Tirei a tarde pra estudar já que a prova seria amanhã. Nesse meio tempo meu celular toca. Era minha tia Tânia, ela quase nunca ligava já que ela não falava mais com a minha mãe. Alias ninguém da minha família materna falava com a minha mãe e a paterna sumiu junto com meu pai.

Inicio de ligação

B: Oi tia

T: Amor meu

B: A que devo a honra dessa ligação?

T: Que menina boba - riu - Amanhã vou fazer uma 'social' pra sua prima, queria que você viesse a tarde pra me ajudar.

B: Ih tá chique em, no pique de social. Claro que eu passo ai sim pra dar uma ajuda.

T: Tá bom meu amor, te espero aqui. Com um super almoço pra gente.

B: Gosto muito. Beijos tia, vou dar aquela estudada. Amanhã apareço ai.

T: Tia te ama

Finalizada.

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