Capítulo Dois

181 12 1
                                    

Mal pisquei já era domingo, acordei antes do sol. Arrumei minha bolsa com duas mudas de roupas limpas, escova de dente e estojo. Iria fazer a prova e ir direto pra minha tia. Tomei Nescau pra forrar o estomago mesmo e coloquei um biscoito maizena na bolsa. Minha mãe, ainda dormia. Dei um beijo na sua testa e sai de casa. Segui em direção a estação de trem. Porque seria bem mais rápido.

Cheguei no local da prova, com um frio na barriga. Via as outras pessoas com seus pais acompanhando. E eu estava lá sozinha, me virando só. Estava nervosa suficiente, e passava um flash do dia em que meu pai tinha ralado, desde então foi só eu. Minha mãe tinha se tornado uma estranha, não era a mesma pessoa. Personalidade, fisionomia, tudo.

Respirei fundo, abriram os portões então entrei. Era muita gente, fiquei pensando quais seriam as chances que eu tinha de passar. E como minha vida mudaria se rolasse. Fiz uma breve oração antes da prova, pedindo a Deus que por um momento ele se lembrasse de mim. Horas depois, terminei a prova, uma das mais trabalhosas que eu já tinha feito. Sai ainda com frio na barriga, por um lado esperançosa.

Liguei pra minha tia, ela disse que viria me buscar aqui. Aguardei um pouco. Logo vinha ela, de coque com um óculos bafônico, com cara de metida. Sorri ela retribuiu, me abraçou.

Tia: Filhota, tá linda - pediu que eu desse uma volta. - Pegou um corpo de uma hora pra outra, Bruna do céu.

Bruna: E você nessa síndrome do Peter Pan. Eternamente novinha.

Tia: Quem me dera, né?! Vamos que seu tio está lá na frente. - Minha tia era muito trabalhadora, era um doce de pessoa. Esse meu tio é ex marido dela, mesmo não estando juntos ele dá maior moral pra ela. Eles se separaram porque ele já agrediu ela. Hoje em dia são só amigos, ele mora em minas gerais agora.

Tio Beto: Índia, tá uma moça.

Bruna: Tio, quanto tempo?

Tia: Vamos gente, temos muita coisa pra fazer ainda.

Ela mora no complexo da penha. A ultima vez que eu vim na casa dela faz dois anos. A casa dela era imensa.

Tia: A Juju não está em casa, até ela chegar do salão temos tempo de sobra - disse enquanto destrancava a casa. - Vamos tirar as coisas do carro.

Ajudei eles com as compras, ia rolar uma churrascada, fiz a maionese, o arroz e ajudei na feijoada. Minha vó estava chegando, na minha família todo mundo cozinhava muito. Nos almoçamos estrogonofe, piro legal. Quando minha avó chegou, trouxe o clima de festa.

Bruna: Vó - gritei.

Vó: Índia - me abraçou, depois me deu um tapão no braço.

Bruna: Que isso vó?

Vó: Pra tu deixar de ser cachorra, parece que não tem vó. Não vai um dia me visitar né?!

Bruna: Cruzes vó, eu te amo, mas eu não tenho tempo.

Vó: Como se tu fizesse alguma coisa, só estuda, não tem tempo de passar um fim de semana na casa da tua avó?

Bruna: Vó não fala isso, eu trabalho de segunda a sexta.

Tia: Tu trabalha Bruna?

Bruna: Trabalho no banco tia.

Tia: E a tua mãe, só coça e cheira o dia todo, né?! - disse sem papas nenhuma na língua.

Vó: Tânia, olha só.

Bruna: Eu fiz a prova pra Fiocruz hoje vó - mudei de assunto.

Vó: Que maravilha.

Tia: Bru, é aqui do lado, você pode ficar aqui. Meu sonho é você morar com a tia você sabe.

Bruna: Tia, seria muito vantagem pra mim, mas não posso deixa minha mãe lá sozinha.

Tia: Não to acreditando que você está falando isso Bruna, sua mãe sabe cuidar dela sozinha. Sabe porque ela é assim? Porque ela tem você pra se garantir. O dia que você largar ela de mão, ela toma vergonha.

Bruna: Tia você não entende, desde que meu pai foi embora tem sido muito difícil.

Tia: Me separei e nem por isso morri, o nome disso é safadeza.

Bruna: É diferente, meu tio esta sempre dando apoio pra vocês. Meu pai meteu o pé.

Tia: Mãe fala pra ela quanta mulher aqui na favela levou chute do marido e não morreu.

Vó: Não gosto desse assunto. Vamos comigo Índia arrumar lá fora.

Segui minha avó e fui arrumar a decoração. As provençais já estavam lá, tínhamos que encher os balões, e esperar o pai dela com o bolo. Já eram 17:00 horas, o tema estava lindo, o bolo era da Barbie. Minha prima era dessas mesmo, era filha única, por isso era ultra mimada. Peguei minha bolsa e fui pro quarto dela me arrumar. Tomei um super banho, passei hidratante e o perfume biografia verão, podia ser pobre, mas sempre fui limpinha. Estava de calcinha e sutiã. Quando a Juju entrou.

Juju: tu tá ai?

Bruna: Quem é vivo sempre aparece né?!

Juju: Pode crer. Vai usar o quê?

Bruna: To vendo ainda.

Juju: Vou escolher uma aqui pra você.

Coloquei um cropped florido e um short cintura alta lavagem clara destroid, um tênis cinza da oskley. Penteei o cabelo joguei pro lado, coloquei umas pulseirinhas e aneis que eu tinha trago. Ela me emprestou a maquiagem dela, maquiei eu e ela.

Juju: Índia, tu tem o traço certinho, arrasou. Quem te ensinou a maquiar assim?

Bruna: Graças á Camila Coelho. – disse rindo

Juju: Se tu cobrasse tu ia arrumar um dinheiro aqui na favela.

Minha tia bateu na porta.

Juju: Entra.

Tia: Seus amigos estão ai. Uau acho que eu vi duas gatinhas.

Juju: É a genética da família né amor.

Bruna: Bora descer, to cheia de fome.

Lá embaixo só tinha amigos da minha prima, o meu tio já não estava mais lá, o seu voo de volta pra minas estava marcado para as 19:00 horas. Sentei numa mesa perto da cozinha , e fiquei curtindo o WiFi.

RIOOnde histórias criam vida. Descubra agora