Capítulo Oito

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Eu estava de saco cheio, há tanto tempo, muito tempo mesmo. Mas nesse momento era pra valer, eu já cacei a minha mãe nas mais diversas favelas, já passei por milhares de situações por sua causa, por achar que ela mudaria. Mas hoje ela foi longe demais, não em questão de distância, já que eu já fui até Niterói atrás dela e a encontrei desacordada. Mas em sentimento, ela já quebrou muitas promessas que fez comigo, mas vender algo que era importante ela nunca tinha sido capaz. Essa noite quase não dormir, minha mente estava a milhão.

Levantei de manhã cedo, organizei as coisas, sai de mochila com meus cartões direto pro banco. Eu juntava dinheiro desde que comecei a trabalhar, para dar entrada numa casa. Para sairmos daquele inferno, mas a cada dia que passava ela pisava no meu sonho e hoje já não valia mais de nada conclui-lo. Até então, eu tinha 2.227 reais na conta, com aquele desfalque não me sobraria nada. Tirei da conta 2.000 reais com o coração do tamanho de botão.

Peguei uma van e voltei em direção ao Antares. Na subida, dois moleques de moto me pararam.

Moleque: Tu é a filha da Raquel? - assenti que sim - Qual foi, o Wallace tá te esperando? 

Bruna: Já é, diz pra ele que eu to levando o dinheiro

Moleque: Já é, Keké desce ai e escolta ela até lá - Sai em seu encontro, seguindo o menino. Eu achava que íamos pra boca, mas ele entrou em beco antes. Entrei no beco calada, ele entrou na última casa, e ficou na porta fazendo sinal pra que eu entrasse. Eu estava sem reação, não conseguia sentir o medo por tamanha decepção que eu estava sentindo.

A tal casa era uma sala, nela estavam o Tiago, o Wallace, o Neguinho, o KL e outros dois que seguravam minha mãe.

Bruna: Eu estou com seu dinheiro, não tem necessidade de segura-la

Wallace: Quanto tem aí?

Bruna: Dois mil, suficiente pra pagar a dívida e tu me devolver o que é meu -Tirei da mochila dois malotes de notas de 50. Contei e entreguei na mão dele. Ele fez sinal pra soltarem ela.

Mãe: Devolve o cordão dela agora, Wallace

Wallace: Eu pensei e acho que vou ficar com ele pra mim

Bruna: Tá de sacanagem? Tá aí teu dinheiro, tu quer mais o que?

Wallace: Eu quero o cordão porra, se contenta com a tua mãe e mete o pé

Bruna: Não é bem assim não.. - ele me interrompeu

Wallace: Não é bem assim o quê? - se levantou apontando uma Glock na minha direção.

Neguinho: Qual foi Wallace? Abaixa esse caralho

Bruna: Te dei o que ela te devia, tu não tem direito pra continuar com meu cordão.

Mãe: Bruna! - me repreendeu para que eu ficasse calada

Wallace: Filhona, rala que o máximo que tu vai conseguir aqui é um tiro - Me virei em direção a saída, estava com um ódio maior que eu. Minha mãe veio logo atrás de mim.

Mãe: Você vai embora mesmo? - segurou meu braço

Bruna: Vou, agora vai pra tua casa. - me soltei dela.

Conforme descia em direção ao ponto, virei pra vê-la, ela subia a rua. Foi como levar um tiro no coração, um aperto insuportável ao deixa-la. Já estava no ponto esperando o ônibus.

Bem, eu não sabia bem qual ônibus pegaria já que meu destino estava incerto. Fiquei uns 20 minutos sentada naquele banco, com o pensamento longe. Ouvi me chamarem, era o tal Keké.

Keké: o Wallace tá te chamando - aí que eu fiquei agoniada mesmo. Será que ele tinha mudado de ideia e queria estourar meus miolos? Apenas o segui cheia de desanimo. Voltamos aquela sala e ele estava sentado no mesmo lugar

Bruna: Mandou me chamar por quê?

Wallace: Ih caralho, continua cheia de marra? - dizia rindo

Bruna: Eu não sei que graça vocês veem em me fazer de ótaria. Agradeceria se não demorasse com teu papo, já que eu tenho coisa pra fazer.

Wallace: Fazer o quê? Qual é do mochilão?

Bruna: Misericórdia Senhor! Segura a minha língua, Pai! - murmurei, não tão baixo já que pelo visto eles compreenderam o que eu disse. - To indo embora

Wallace: Pra onde?

Bruna: É isso que você quer saber? Ta falando sério que tu me chamou pra isso? - quando ele ia responder o Tiago foi mais rápido

Tiago: Eu falei com ele Índia, ele vai te devolver tua parada. - O Wallace tacou o cordão e eu o agarrei.

Bruna: Valeu - Coloquei em meu pescoço, do lugar onde ele não iria mais sair. Ao sair de lá o Tiago me seguiu.

Tiago: Sério Bruna, onde você vai? Eu te dou uma carona

Bruna: Tiago, maneiro tu ter me ajudado, mas eu quase não falo contigo, e não precisa mais tentar ser legal por estar com pena.

Tiago: Ah cara qual foi, to tentando te ajudar. É só uma carona.

Laísa: Não, obrigada - Desci e voltei a esperar o ônibus, mas dessa vez sabia pra onde iria. Eu iria pra minha avó.

O ônibus demorava um século pra passar, parou um carro na minha frente, quando abaixou o vidro era a Kay, o Tiago e a Lauane.

Kay: Entra doente - rindo.

Então eu entrei já que eles estavam fazendo tanta questão de me deram uma carona porque não?

Bruna: Isso que é querer me dar carona

Kay: Não se sente não porque só estamos te levando porque estamos indo pro engenho.

Bruna: E por acaso você sabe se é caminho para o lugar que eu vou?

Kay: Não, mas estamos de role mesmo

Bruna: Ok né, me deixem no Complexo da Penha, no Cruzeiro

Kay: Vai fazer o que lá?

Bruna: Estou me mudando

Tiago: Sério? E a tua mãe?

Bruna: Não sou mais responsável por ela. -Respondi a seco.

Lauane: Uau, a Bruna largando a Raquel de mão. Isso que é mudança.

Kay: E eu sua cachorra nem ia me avisar?

Bruna: Eu iria te passar um zap quando chegasse. Mas, e vocês vão fazer o que no engenho?

Kay: Hoje é dia de furduncinho, né?! Por que você não vem com a gente?

Tiago: Bruna? Ah tá, ela não deve saber nem o que é se divertir. - debochou.

Bruna: Eu topo, me encontrem no metrô meia noite e meia

Lauane: Essa eu pago pra ver

Tiago: Te busco em casa se tu for, ainda te banco à noite toda

Lauane: Tu acha mesmo que a Bruna vai?

Bruna: Pois saibam que eu sou cara, e fim de noite comigo é mc donalds - Chegaram na Vila Cruzeiro, eu expliquei pra eles onde era. Eles me deixaram na porta da minha avó.

Bruna: Valeu ai gente

Kay: Quando estiver pronta me passa um zap, hein?!

Lauane: Só quero ver.

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