O Segredo Enterrado

Magda

Meu celular começou a tocar em uma das poltronas de veludo vermelho no fundo do auditório. Lucy me lançou um olhar que dizia "Você nem se atreva a botar as mãos nesse aparelho!" , e começou a andar para fora do palco. Olhei mais uma vez para ela antes de me levantar num pulo e correr até a poltrona onde minha mochila estava jogada. Peguei meu celular e Lucy estava no meio das escadas, mandando eu não atender. Olhei para a tela do aparelho, onde brilhavam as palavras "Amanda Parker", e uma foto de minha mãe. Cliquei no botão verde, sem que Lucy percebesse, e fiz um movimento como que botando o celular de volta ao bolso da mochila.

-Ainda bem que você  nã...- ela começou a falar, quando puxei o aparelho de volta para o meu ouvido.

-Alô?- vi Lucy praguejar baixo -Oi mãe.

-Oi filha. Está livre terça, as três da tarde?-  ela não esperou uma resposta -Haha, claro que está.

-Na verdade mãe, eu tenho que...

-...então. Okay? Acho que essa conversa fará bem a você. Beijos.

Então ela desligou na minha cara. Conversa? Do que ela estava falando? Não, o pior não era esse. O pior seria o bolo que daria em Lucy, e ela nem acreditaria que dessa vez era verdade.

-Quem era?

-Ah. Minha mãe...

-Direto da Holanda?- ela perguntou, irônica.

-Nossa, Lucy. Por que não para de pegar no meu pé e vai ser comediante?

-É o que eu pretendo, mas se você continuar com desculpas para não fazer o trabalho, as faculdades não irão me aceitar.

-Por que não? Diga que pode fazer trabalho por dois.- disse sorridente, vendo ela rolar os olhos.

-De qualquer forma, o que sua mãe queria?

-Então...

-NÃO! POR FAVOR, NÃO ME DIGA QUE VAI FALTAR TERÇA! NÓS TEMOS QUE APRESENTAR ISSO À PROFESSORA!- disse arregalando os olhos e estourando meus tímpanos.

-CALMA!- disse me aproximando dela -Minha mãe marcou alguma coisa idiota pra mim, ainda não sei o que é.

-E...- ela me incentivou a continuar.

-E eu não vou nisso. Vou apresentar o trabalho com você!- disse com um sorriso sem dentes estampado no rosto.

-Ah, conta outra! Você? Trabalho?- ela riu sem humor.

-É sério! Eu prometo não faltar.

-Como é que eu posso confiar em você?

-Só confie.- disse simplesmente.

-Okay... Mas se você faltar- ela começou, desconfiada -eu te deduro pra pofessora, e você fica sem nota.

-Ta combinado.- disse, apertando sua mão.

Voltamos a ensaiar, Lucy sendo chata, e eu entediada.