Capítulo 7

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Andrew

Eu velava pelo sono de Lorena enquanto acariciava minha bochecha , Belinda havia depositado um beijo ali. Automaticamente um sorriso se formou em meus lábios. Um misto de sensações começou a se formar dentro de mim , e isso só aconteceu uma vez na vida: quando eu conheci Jade.

- Papai...

- Oi, meu amor. - olhei carinhosamente para minha filha. - Está melhor ?

- Sim, não estou sentindo dor dessa vez. - ela sorriu , o único sorriso que me faz desmontar por completo. - Quero ir pra casa, papai.

- Nós vamos meu amor, assim que o médico assinar sua alta. - finalizei minha fala e logo a porta foi aberta revelando a entrada do doutor. - Marcos! - levantei para cumprimentá-lo , o mesmo médico que cuidou de Jade quando ela estava em trabalho de parto , o mesmo médico que ajudou na vinda da minha filha ao mundo e o mesmo médico que assinou o atestado de óbito de Jade.

O abracei com todas as minhas forças e automaticamente as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto , as lembranças vieram a tona.

- Drew, meu filho. - ele segurava meu rosto com as duas mãos enquanto me encarava com os olhos ternos. - Que orgulho eu tenho de você, se tornou um pai maravilhoso pra Lorena , tenho certeza que Jade se orgulha de você também. - ele disse com a voz embargada e voltou a me abraçar.

Ficamos ali abraçados por alguns segundos, enquanto as lembranças insistiam em retornar. Quando elas passaram , nos desvencilhamos.

- Então essa é a princesa Lorena? A dona do coração do Drew? - ele perguntou sorrindo para minha filha.

- A própria. - ela respondeu nos provocando várias risadas. - Você é o médico que ajudou minha mamãe no meu parto , não foi ?

- Sim, mocinha. Eu fui a primeira pessoa a te segurar no colo quando você nasceu. E olha o quanto você cresceu, o tempo passou rápido , não é mesmo ? - ele perguntou e ela assentiu. - Eu posso te dar um abraço ?

- Claro. - ela sorriu.

Marcos caminhou até ela e a abraçou cuidadosamente. 

- Você vai ficar bem, princesa. Todos nós aqui do hospital estamos torcendo pela sua recuperação.

- Sei que vou, doutor. Meu Papai do Céu me disse isso. Só o meu papai que ainda não acredita totalmente nisso, mas estou pedindo pra Deus mudar  ele também.

Encarei minha filha com um enorme sorriso e lágrimas nos olhos , o quanto sou orgulhoso por ser seu pai , por simplismente ter ela aqui comigo.

- Seu pai é um pouco teimoso, princesa.  Mas isso é só questão de tempo. Posso te contar um segredo ?

- Pode !!!

- Deus gosta especialmente do seu papai.

E dessa vez foi Lorena que o abraçou, sorrindo como ela sempre faz.

- Doutor... eu posso te chamar de vovô? Vou precisar de um agora que eu sei que vou praticamente morar aqui. Você tem cara de meu vovô e tem o jeito também. Você poderia me ter como sua netinha?

- Oh, meu amor. Mas é claro que sim. Eu tinha sua mamãe como uma filha pra mim , com seu papai não é diferente , sendo assim sou seu vovô sim. Vem até aqui Drew, vamos dar um abraço coletivo.

Caminhei até eles e os abracei. Naquele momento me senti em paz , me senti seguro , acreditei que tudo iria ficar bem sim e desejei fortemente que eu continuasse a acreditar assim.

Após uma longa conversa entre avô e neta , explicar os cuidados que eu deveria ter com ela a partir de agora, Marcos assinou a alta de Lorena, se despediu com mais um abraço e saiu voltando para seu turno.

- Pai? Quando eu vou começar fazer a quimioterapia? Meu cabelo vai cair , não vai ? - minha filha perguntou.

- Não vamos nos preocupar com isso agora , tudo bem ? Vamos viver um dia de cada vez. - respondi dando um beijo em sua testa e a mesma assentiu.

Quase uma hora depois , coloquei Lorena dentro do carro e dei partida até nossa casa.

Entramos e a essa altura do campeonato , Lorena já dormia em meus braços, provávelmente por efeito dos remédios, coloquei ela deitada na cama do meu quarto , liguei o ar  e saí fechando a porta.

Enquanto eu desmarcava alguns compromissos, ouço batidas na porta.   Abro e me deparo com uma mulher que não me era estranha.

- Pois não ? - pergunto enquanto ela me encarava com a expressão extremamente séria.

- Andrew, quanto tempo não ?

Ah , mas é claro, como eu poderia esquecer essa víbora?

- O que faz aqui ? - perguntei rude.

- Vim atrás da minha neta.

- Ela nunca foi sua neta , você mesma mandou sua filha embora de casa quando ela engravidou, quando ela mais precisou de você. - cuspi cada palavra em seu rosto , olhei suas vestimentas caras, continuava a mesma baranga metida a besta de sempre.

- Tudo isso por sua culpa , você a engravidou, ela tinha planos pro futuro , e por sua culpa ela morreu naquele maldito parto!!! - ela gritou e eu acabei desferindo um tapa em seu rosto.

- Eu fui homem de assumir o que eu fiz , não a abandonei em nenhum momento, não venha colocar a culpa em mim quando na verdade a culpa toda foi sua. Ela só morreu do parto da nossa filha porque a gestação toda foi de risco por conta do abandono que ela sofreu de você, vagabunda ordinária. Mas quer saber ? A Jade não merecia uma mãe como você, ela era totalmente o oposto de você, ela era luz e pra sempre vai ser a minha luz.  E de certa forma agradeço a você por ter abandonado ela , porque só assim eu pude ter ela só pra mim.

- Cala a boca, cala sua maldita boca, seu bandidinho de merda.

- A única bandida aqui é você, que só conseguiu crescer na vida em cima da desgraça dos outros, inclusive na da sua própria filha. Tudo o que eu tenho hoje consegui com o meu esforço e dedicação , nunca precisei pisar em ninguém pra chegar aonde eu cheguei. Tenho certeza de que se Ricardo estivesse vivo , jamais ia permitir que você fizesse o que fez com Jade, porque ao contrário de você , ele realmente amava a filha e tinha orgulho dela. Agora saia daqui e volte pro lugar da aonde você veio. - gritei.

- Estou aqui pela menina e não irei embora sem ela. - gritou de volta.

- Nesse caso , bem vindo ao Texas então. - respondi e fechei a porta na sua cara.

Podem arrancar tudo de mim , mas minha filha não, jamais vou permitir isso.


Minha meninaOnde histórias criam vida. Descubra agora