Sam

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O tom de confiança com o qual eu disse aquilo era completamente compatível com o que eu estava sentindo naquele momento. Havia um enorme alívio no meu peito, é claro, porque as luzes haviam finalmente voltado e aparentemente tudo voltaria ao normal em segundos. Enquanto o fervor causado pela claustrofobia saía, eu conseguia reconhecer a outra fonte de calor que estava tomando conta do meu corpo.

Eu sabia que nós estávamos próximas daquela maneira quando as luzes ainda estavam apagadas porque eu havia dado a maior parte dos passos necessários para que aquilo acontecesse, mas não esperava exatamente aquela cena quando as luzes voltasse. Nós estávamos próximas e Lica estava muito á vontade com isso, talvez com tanta vontade quanto eu porque apesar de eu estar com a cabeça a mil com a recém descoberto sobre o Fantasma, eu estava morrendo de vontade de beijá-la.

Mas eu já havia sentido isso antes, por ela e por outras pessoas, eu conseguiria me controlar mais uma vez.

Dei um passo para trás, me afastando do corpo dela enquanto seus olhos castanhos escuros se esbugalharam na minha direção. Acompanhei o fluxo das pessoas para sair do vagão e demorei um considerável tempo para perceber que havíamos descido em uma estação anterior a minha por questões de segurança.

-Samantha!

Eu ouvi a sua voz antes de sentir sua mão tocando o meu braço e fazendo meu corpo virar. Estávamos novamente em uma posição muito propícia para nos beijarmos, mas isso não iria acontecer.

-Heloísa. - Eu disse com um sorriso satisfeito.

-Eu sei o que você está pensando. - Ela disse com um sorriso e o seu sorriso fazia o meu desmanchar. Ela tinha um nível de plenitude nos seus olhos castanhos que deixava claro que ela não tinha nem um pouco de preocupação com o que estava acontecendo. E eu podia ficar feliz ou triste com isso. - Eu não sou o Fantasma.

Eu abri um sorriso enquanto calculava o meu próximo passo. Se ela estava calma o suficiente para afirmar ela também estaria para provar e não era como se ela não ser o Fantasma fosse acabar com a minha vida, certo? Por que eu fiquei tão feliz com a afirmação disso aliás? E se ela não estava nervosa quanto a isso, porque ela estava me olhando daquele jeito no metrô? Será que era a possibilidade de me beijar?

Muitas teorias. Preferia jogar com o que era certa.

-Você não me contaria se fosse.

-É. - Ela ajeitou a bolsa modelo carteiro nos ombros, seus olhos se movendo calmamente por baixo da sombra. - Faz sentido.

-É essa toda a sua argumentação? - Eu perguntei rindo.

-Ah. - Ela voltou a olhar pra mim de repente. Eu adorava assistir as reações e expressões da Lica pelo colégio, ela era muito espontânea. - Na verdade, eu não tava pensando sobre isso não. - Ela disse estreitando os olhos na minha direção. - Quer tomar uma?

Ela estava me chamando pra sair?

-Vai tentar me distrair da sua identidade secreta com comida?

-Não. - Ela disse. - Com um beijo.

Ela estava me chamando pra sair. Se ela estava me chamando pra sair, ela não teria nenhum compromisso com ninguém, certo? O tal Fantasma realmente não seria o seu namorado e nem mais ninguém. Se ela me beijasse, todos os três anos pegando metrô com ela fariam sentido. Contanto que ela realmente quisesse me beijar.

-Eu acho que eu preciso ir pra casa...

-Nem escureceu ainda. A gente não ficou tanto tempo assim no metrô... - Ela disse. - Você tá desconfiando de mim.

A Garota Do Vagão | LIMANTHAOnde histórias criam vida. Descubra agora