RADIOACTIVE ╱ PETER PARKER ¹

10. uma noite no museu

⠀⠀⠀⠀TOC. TOC. TOC. As batidas insistentes na porta fechada do quarto de Blake foram suficientes para interromper o que ela fazia há mais de uma hora. Na mesma velocidade que o som atravessou a madeira, a concentração de Blake escapou por entre seus dedos. Ela respirou fundo, derrotada, encarando o caderno que exibia todas suas tentativas de desenhos frustrados.

Se é que podia chamar aquela coisa de desenho. Estava mais para um rascunho vergonhosamente mal feito.

Blake nunca se saiu bem nas aulas de Artes, mas não tinha outra opção a não ser fazer o que estava ao seu alcance no momento; e isso incluía pegar seus lápis de cor velhos e tentar fazer algo útil. Ela queria ser uma heroína minimamente respeitada e, para isso, sabia que precisava de uma aparência melhor. (E com aparência melhor, ela queria dizer um traje melhor.) Uma vez que tivesse em mãos um rascunho interessante e decente, tentaria colocar o projeto em prática.

Como? Bem, ela não tinha ideia. Mas isso era um problema para o seu eu do futuro.

Sentada em frente à escrivaninha de seu quarto, com as pernas dobradas e os pés apoiados no assento, Blake passou a tarde praticamente inteira desenhando opções para seu novo uniforme. O lixinho entre a escrivaninha e a estante de livros estava sobrecarregado à essa altura, cuspindo folhas ora rasgadas, ora amassadas.

Sabia estar sendo exigente até demais, mas não conseguia evitar. Tão rápido quanto começou, seu alter ego agora era uma parte tão importante em sua vida que a fazia gastar o tempo livre desenhando.

Inacreditável, ela sabia, mas infelizmente aconteceu.

— Blake — Valerie chamou através da porta —, o jantar está pronto. Não enrola, a mamãe fez lasanha.

A caçula se limitou a soltar um longo suspiro outra vez, e em seguida colocou os pés de volta no chão para empurrar a cadeira para longe da escrivaninha. Do lado de fora do cômodo, os passos de Valerie foram se afastando, à medida que ela caminhava em direção às escadas.

Blake lançou um último olhar para o caderno antes de se levantar.

Aquele rascunho em específico não era de todo ruim. Tinha um emblema improvisado, era roxo e os detalhes que Blake vinha sonhando em adicionar estavam ali, embora tivessem a aparência de um desenho feito por uma criança de dez anos. Minimamente satisfeita, porém, Blake fechou o caderno e o jogou no fundo da gaveta da escrivaninha, o mais escondido possível. Não queria correr o risco de ser descoberta de uma forma tão boba quanto aquela.

Em seguida, deixou o quarto para trás. Ela traçou o caminho de sempre, descendo as escadas, passando pela sala, até enfim estar na cozinha. Valerie já estava ali, colocando os talheres ao lado dos três pratos dispostos nos lugares que comumente escolhiam. Samantha, sua mãe, virou-se do fogão para a mesa, carregando em mãos a forma com a lasanha. Só então o estômago da garota roncou e ela percebeu que estava morrendo de fome; afinal, não tinha comido nada quase a tarde toda, ocupada demais com as ideias para o traje.

— Pensei que tinha morrido dentro daquele quarto — Val disse no momento que colocou os olhos na irmã mais nova.

— Meninas, sem brigas hoje — Sam interveio antes mesmo que Blake pudesse abrir a boca para responder.

Ah, ela conhecia suas crias bem o suficiente para saber que a partir daquele comentário, outros ainda mais ácidos se seguiriam; principalmente porque Blake não deixava nada passar batido. Ela apenas mostrou a língua para Valerie e se sentou no mesmo lugar de sempre.

— Essa é uma noite muito especial — Sam continuou, deixando a lasanha no centro da mesa. — Já que o time da Blake venceu o jogo de ontem, nós estamos celebrando hoje.