Yuri - II

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Aquele tinha sido o melhor final de semana da vida de Yuri Katsuki. Um final de semana completamente inesquecível. Tanto havia acontecido que ele pondera se deve ou não registrar tudo em um diário para ter consigo uma prova concreta na qual possa se apoiar. Mas ele titubeia. Pensando de maneira prática, é melhor manter todos os seus sentimentos armazenados no único lugar onde ninguém jamais conseguirá acessar-a sua mente.

Yuri passa o dia patinando e a noite cuidando de Victor, a quem ele mantém seguro no quarto improvisado com um futon que construíra no porão para o seu príncipe encantado de cabelos prateados. Todos os dias ele retorna à sua casa do rinque sentindo-se rejuvenescido, pronto para contar a Victor o quanto progredira.

Yuri compara a situação com a sua infância. Quando tentara dizer aos seus pais sobre sua intenção de seguir a patinação artística como profissão. Seu pai era fortemente contrário a essa ideia. Como é que alguém conseguiria ter um ganha-pão decente sem um mentor ou sem possuir conexões dentro da indústria? Sua mãe lhe dissera que Yuri poderia perseguir qualquer sonho que desejasse. Mas suas palavras sempre eram ditas com uma voz vacilante, como se ela se forçasse a acreditar nelas. Não havia confiança ou reafirmação por trás de suas palavras.

Mas havia nas palavras de Victor. É por isso que Yuri quer fazer tudo que estiver ao seu alcance para acomodar seu príncipe de cabelos prateados. Hoje Yuri tem a bebida favorita dele-shōchū de batata doce. Ele havia dado o seu melhor para conseguir comprar a melhor marca que pôde encontrar, após ler com muita atenção cada rótulo. Não há espaço para erros. Quanto menor a qualidade, maiores são as chances de Victor acabar insatisfeito. No momento que ele encontra a garrafa perfeita, um sorriso brota em seu rosto. Yuri agita-se em antecipação.

Puxando o capuz sobre sua cabeça, Yuri volta para casa com a garrafa metida em um saco de papel que ele mantém enfiada debaixo de seu braço. O estoque escondido de todos os transeuntes. Ninguém além das esferas cristalinas de Victor devem ver o seu presente. Esse presente talvez será o incentivo que faltava para apaziguar qualquer animosidade restante entre eles.

Uma vez em casa, ele serve em duas taças de vinho, observando a efervescência subir até quase atingir a borda. Ao seu ver, Yuri nunca foi um beberrão, mas é rude recusar álcool quando se é o anfitrião. Além disso, se Victor ver que ele está disposto a provar um pouco, talvez isso ajude Yuri a ganhar mais pontos em seu favor. Ele é cuidadoso para não encher mais um copo do que o outro. Ambos devem ter a mesma medida.

Satisfeito, Yuri carrega os dois copos até o porão para dividir com Victor. Ele acende um interruptor próximo ao topo da escada com o cotovelo, estremecendo ao achar que algum dos copos pode virar e derramar. Seria devastador acabar desperdiçando ainda mais do precioso shōchū de Victor. Ele não quer deixar seu príncipe esperando por mais tempo do que já havia esperado.

"Victor," Yuri murmura, clareando sua garganta. "Victor, eu trouxe algo para você. Veja." Aproximando-se da porta, é possível ver a silhueta de Victor no canto, de costas para ele.

Victor se vira lentamente.

Yuri sorri. "Trouxe o seu favorito-shōchū de batata doce. Quer dividir?"

A cabeça de Victor se levanta e o coração de Yuri pára por um instante quando aquelas órbitas cristalinas se encontram com os seus olhos. Céus, ele deseja roubar aqueles olhos e guardá-los no bolso. Deseja um dia levá-los ao rinque e deixar que eles assistam uma apresentação particular de sua performance. A atenção de Victor é suficiente para fazer suas calças apertarem em sua pélvis.

Yuri passa o copo de Victor pela porta, cuidadosamente posicionando-o no chão. "Aí está. Espero que seja de seu agrado. Eu dei duro para conseguir achar o melhor que eles tinham." Sua própria mão tapa sua boca bruscamente. Idiota! Por que dizer isso a ele? Era para ser uma surpresa! Uma necessidade de se socar se faz presente em seu estômago. Mas ele não pode mostrar esse lado de si para Victor novamente. Ao invés disso, suas unhas ficam em seu outro braço até penetrarem em sua pele. Respire. Ele inspira e expira.

Yuri!!! In The Dark - A Dança da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora