Hoje
Nova YorkEditora Graumann
Primeiro dia de trabalhoCorro pela calçada movimentada e um suor nervoso surge nos meus lugares menos glamorosos.
Escuto a voz da minha mãe na minha cabeça: " Uma garota não transpira, Clarie. Ela brilha".
Nesse caso, mãe, estou brilhando pra cacete.Enfim, nunca fui uma das melhores garotas mesmo.
Digo a mim mesma que estou " brilhando " por que estou atrasada.
NÃO POR CAUSA DELE.
Jonie, meu colega de apartamento/terapeuta, está certo de que nunca deixei de amar ele, mas isso é uma enorme mentira.Deixei sim.
Deixei totalmente.Atravesso a rua com pressa, desviando dos carros parados nas ruas de Nova York. Vários motoristas de táxi me xingam em diversos idiomas.
Saio mostrando o dedo do meio alegremente, porque estou certa de que isso significa " vai se foder" no mundo todo.
Olho para o relógio quando entro na editora e sigo para a sala de reuniões.
Merda.
10 minutos atrasada.Quase posso ver a cara de prazer do idiota, e fico atormentada por estar com essa vontade louca de dar uns tapas nele antes mesmo de por os pés na sala.
Paro no outro lado da sala.
Consigo fazer isso. Consigo vê-lo e não desmoronar.
Sei que consigo.
Suspiro e pressiono a testa contra a janela.Quem estou querendo enganar?
Claro, posso projetar meu livro romântico com o ex-namorado que partiu meu coração não uma, mas duas vezes. Sem problemas.
Bato a testa na janela.
Se existisse um lugar chamado insegulândia, eu com toda a certeza seria a prefeita ou algo assim.
Respiro fundo e solto lentamente.
Quando minha chefe ligou com as novidades dessa grande chance na editora, eu devia ter imaginado que não seria tão simples assim.
Ela vibrou comigo por causa do editor chefe que havia sido escolhido para meu livro.
Alexandre VilaNueva: o atual " queridinho " do mundo dos livros. Tão talentoso. Vencedor de prêmios. Adorado por fãs e escritoras histéricas. Irritantemente lindo.
Claro que ela não sabia da história com ele. Porque saberia? Nunca falei sobre ele. Na verdade, me escondia quando o nome dele era citado na roda de conversas. Era mais fácil de lidar quando ele estava no outro lado do mundo, mas agora ele está de volta e ameaçando o trabalho dos meus sonhos com sua presença.
Idiota.Imbecil.
Esse jogo não vai ser fácil, mas é preciso.
Tiro um lenço da bolsa e seco meu rosto.
Merda, estou brilhando mais que as joias da Kylie Jenner.Limpo mais o rosto e retoco o batom enquanto me pergunto se ele vai achar que estou diferente depois de todo esse tempo longe. Meu cabelo castanho, que na faculdade costumava a chegar até o meio das costas, agora está na altura dos ombros e com alguns fios mais claros, com camadas irregulares e desfiadas. Meu rosto está um pouco mais desenhado, mas acho que sou basicamente a mesma. Boca decente. Estrutura óssea razoável. Olhos que não são nem azuis, nem verdes, mas uma estranha combinação dos dois.
Mais fundo de oceano, que céu.
Jogo os lenços do lixo, irritada de chegar a cogitar ficar bonita para ele. Será que não aprendi nada?
De olhos fechados, penso em todas as formas como ele destruiu meu coração.
Seus motivos idiotas. Suas desculpas esfarrapadas.
A lembrança toma conta de mim, e suspiro, aliviada. É desse sentimento que preciso. Traz à tona minha raiva. Me envolvo com ela como ferro e me consolo com o ferver da agressividade.Eu consigo. Posso aguentar.
Abro a porta do fundo da sala de reuniões e entro. Antes mesmo de vê-lo, posso sentir seus olhos me observando. Uso toda a força que tenho para não olha-lo porque é o que quero, e uma coisa que aprendi com Alexandre VillaNueva é afastar meus instintos naturais. Seguir meu coração estragou as coisas entre nós. O coração dizia que eu podia ter algo dele, quando, na verdade, ele não me oferecia nada. Eu vou até a mesa de produção onde minha chefe Ava, e seu ajudante Saul estão me encarando. Ao lado deles, há um rosto familiar: a responsável pelo projeto gráfico original, irmã de Alexandre, Amara.
Alexandre e Amara são um pacote fechado. Está em seu contrato que ela deve acompanha-lo em todos os trabalhos. O que é estranho, considerando que eles brigam feito cão e gato.
Eu diria que Amara é seu cobertor de segurança, mas imagine!, por que ele precisaria de um? Ele não precisa de nada ou ninguém, certo?
Ele é intocável. Um diamante impenetrável.
Amara aponta para um modelo de capa que podemos usar, enquanto fala de toda a tecnologia usada.
Os produtores escutam e concordam.
Não tenho problemas com Amara. Ela é uma pessoa fantástica, e ela já me ajudou com a divulgação de alguns livros antes. Na verdade, há um milhão de anos costumávamos ser boas amigas. Na época em que eu ainda achava que o irmão dela era nascido de uma boa mãe, e não diretamente do cú de Satã.Eles me olham quando eu me aproximo.
- É. Sinto muito - digo, soltando minha bolsa na cadeira.
- Tudo bem, querida - Ava responde. - Ainda estamos cuidando dos detalhes da produção. Relaxe, tome um café. Vamos conversar daqui a pouco.
- Ok. - Reviro a bolsa atrás do meu celular.
- Ei, oi. - Amara sorri.
- Oi, Mara.
Por um momento minha raiva passa, por causa de uma onda de nostalgia, e percebo o tamanho da saudade que estava dela. Ela é tão diferente dele.
Ela baixa e ele alto. Magra e Musculoso. Parda e Branco. Loira e lisa contra Loiro e caótico. E, ainda assim, vê-la novamente me lembra de por que não nos falamos há anos. Sempre vou associá-la a ele.
Muita coisa ruim.
Quanto tiro o celular do bolso, minha bolsa escorrega da cadeira e cai com um estrondo no chão. Todo mundo para e olha. Fecho os olhos quando escuto uma risadinha.
Vai se foder, Alex. Não vou olhar pra você.
Pego a bolsa e jogo na cadeira de volta.
A risadinha reaparece e eu juro ao todo-poderoso deus do homicídio justificado que vou matá-lo com as próprias mãos.
Apesar de estar do outro lado da sala, ele poderia estar bem ao meu lado, porque sua voz vibra pelos meus ossos.
Preciso de um cappuccino.
Lanço um olhar para Ava, maravilhosa em seu casaco de pelos enquanto descreve a história do livro, espalhafatosa. É tudo culpa dela. Foi ela que quis VillaNueva no projeto do meu livro. Eu me convenci de que esse seria um grande passo para a minha carreira, mas no fim será o primeiro e último passo que eu darei, porque, se o idiota no canto não parar de rir, vou ter um ataque assassino a qualquer segundo e vou passar o resto da vida presa.
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RomanceClarisse Beyt é uma garota tímida e insegura. " Se existisse um lugar chamado insegulândia, eu com toda certeza seria a prefeita ou algo assim", pensa, enquanto caminha para o seu primeiro dia de volta no trabalho. Ela está prestes a realizar o gran...