Tempestade de Sentimentos

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Acendo um cigarro, e permaneço encostado em um poste de iluminação, a espera de Steve, observando as crianças enérgicas correndo entre os brinquedos, e seus pais entediados segurando cachorros-quentes e copo grandes de Coca-Cola, perseguindo-os. Ao receber uma mensagem mais cedo, as palavras de Steve soaram um pouco frias e distantes, estranhando-me, pois ele não era de agir desse modo. Episódio algum, Steve escrevera para mim, "Boa tarde, preciso falar com você. Me encontre perto da roda-gigante às 17h". Ressoa em meus olhos de uma maneira tão formal o uso do "Boa tarde", que penso que ele não se equivocou digitando a mensagem para uma tia distante ou alguma pessoa que ele está devendo dinheiro. Sei lá! Talvez eu esteja criando uma tempestade em um copo d’água.
Trago um pouco soltando a fumaça do cigarro lentamente e em formato de pequenos círculos, enquanto aguardo os ponteiros girarem do meu relógio até o horário combinado. Ainda falta uma hora para que Steve chegue e conte o que de tão importante ele precisa falar comigo, que não pode ser por mensagens. Resolvo andar um pouco ao redor do parque, examinando os brinquedos. Adolescentes berram ao serem rodados no Chapéu Mexicano, crianças sorriem satisfeitas no Carrossel de cavalos verdes, rosas e vermelhos; gritos são ouvidos perfeitamente vindo de todas as montanhas-russas, da menor para a gigantesca, localizada ao fundo do parque. O kabum despenca ligeiramente criando um misto de pânico e surto nos seus clientes exclamando estupefatos.
“Você já chegou?” – Leio a mensagem no mesmo segundo que o meu celular vibrou.
    “Sim, estou perto dos brinquedos de tiro ao alvo. Quer me encontrar aqui?”
“Não, vou aguardar por você próximo a roda-gigante.”
“Beleza. Estou indo...”
Guardei o celular no bolso e segui a caminho do brinquedo. No momento em que estou passando em frente ao brinquedo que não me recordo o nome, que o objetivo é acertar com um martelo umas espécies de ratos de Chernobyl que brotam nos buracos, avisto Wanda, minha colega de classe, no brinquedo, animada, acertando os ratos.
- Opa! Deixou um escapar!
- Eles são muito rápidos – diz ela. – Tem que ser muito veloz para pegar todos, não acha?
- É bem provável. Porém, acho que eles são rápidos para que a gente perca. Ninguém quer dar o melhor prêmio...
Ela cerra os olhos.
- Com certeza. Ninguém quer dar nem receber um polvo de 90 cm, não acha?
Sorrio.
- Cadê Steve? Você está sozinho?
- Não, ele está me esperando perto da roda-gigante. Já estou indo encontrá-lo.
- Ok, eu ainda vou continuar aqui. Quero saber se consigo ganhar aquele polvo.
Dou de ombros.
- Boa sorte... mas saiba, que eu avisei...
- Vou mostrar para você que é possível ganhar – replica com um sorriso confiante.
Quando estou perto da roda-gigante, vejo Steve, inerte, no mesmo poste que eu estava há um tempinho. Ele está vestindo calça jeans surradas e uma blusa azul marinho lisa, que amo vê-lo usando. Seu semblante parece nervoso e preocupado, o que me deixa inquieto.
- Oi, – cumprimento-o aproximando-me para plantar um beijo em seu lábios, mas Steve recua, oferecendo a sua bochecha.
Passo uma das mãos nos meus cabelos um pouco confuso da sua atitude.
- Aconteceu algo? – Questiono.
Ele confirma com a cabeça, cabisbaixo.
- Será que podemos conversar na roda-gigante?
- Conversar lá? O que tem na roda que não podemos falar sobre aqui?
- Só quero conversar com você com um pouco de privacidade e em um lugar seguro...
Franzo a testa, sem entender.
- Seguro? No alto de uma roda-gigante?
- Por favor, será que podemos ir? Isso está me matando por dentro. Preciso contar a você, mas tenho medo da sua reação.
Steve e eu adentramos em uma das cabines. Sentamo-nos um do lado do outro, e aguardando o brinquedo funcionar, Steve balança uma das suas pernas como sinal claro de nervosismo. Coloco a minha mão em seu joelho para que o tranquilize, mas o efeito é o contrário, e sua perna vibra mais que uma britadeira.
- Você está bem nervoso – comento.
Ele nada responde.
Uma música infantil começa a tocar, e o brinquedo ganha vida, girando lentamente.
- Bucky...
- Sim?
- Ontem, quando eu fui a festa dos Craig, aconteceu uma coisa chata...
- Chata? O que houve? Foi uma pena eu não ter ido ontem, mas, sabe como é, precisei ajudar a minha mãe com umas mudanças...
- Sei disso... Mas, Bucky, o que eu vou te falar agora pode ser um pouco doloroso, mas juro para você que me arrependo profundamente.
Olhando para Steve, um pensamento sombrio percorre em minha mente, mas não posso dar razão a ele. Não! Steve jamais faria isso comigo. Ele é tão certinho desde... Sempre.
Engulo em seco.
- Na festa, resolvi beber um pouco para me soltar, sabe? Você sabe bem que sou meio travado, e sem você lá, fiquei muito deslocado... Cerveja vai, vodca vem. Bebi ainda alguns shots de tequila... Acabei ficando muito bêbado. Tô com uma dor de cabeça monstruosa devido a ressaca. Já estava mais soltinho, dançando com umas pessoas que nem lembro dos nomes e muitos menos dos rostos deles, mas lembro que...
- Que você beijou outra pessoa – respondo, frio e sólido como um iceberg.
Ele confirma com a cabeça sem me encarar, parecendo arrependido.
- Perdoe-me, Bucky. Eu sinto muito. De verdade!
Mordisco o meu lábio inferior, tenso. As palavras de Steve soam como pequenas adagas sendo cravadas em meu peito como um mágico insano prendendo-me dentro de uma caixa roxa com imensos sinais de interrogações decorando os lados.
Suspiro.
- Quanto tempo ainda falta para essa porra parar? – Falo, vacilante.
- Bucky, por favor, me escute...
- Escutar você? Escutar por quê? É por isso que você queria falar nessa porra de brinquedo. Assim, eu não poderia fugir de você – grito com as lágrimas descendo.
- Sei que o que fiz é errado. Não tem explicações. Não tem motivos porque você é uma pessoa perfeita. É um ótimo namorado. Mas, por favor, me perdoa? Bucky, por favor?
A roda-gigante para com a nossa cabine no meio do círculo. Consigo ter uma boa visão do parque, e noto Wanda andando pelo gramado com um polvo grande vermelho de pelúcia ao lado do seu irmão. Sorrio mas de nervoso.
- Bu?
- Isso é tão injusto... Para mim faltou caráter. Depois de beber meia dúzia de garrafas, você fica soltinho e se aproxima da primeira pessoa que dá em cima... Puta merda!
Tento segurar, porém as lágrimas não colaboram comigo. Cada vez mais meus olhos deixam escapuli-las.
Sinto a mão de Steve pousar em meu ombro, e um leve aperto.
- Por favor, olhe para mim...
O brinquedo retorna a funcionar e pelos meus cálculos é a última volta, me livrando de Steve em seguida.
- Bu, por favor, vamos conversar, vamos resolver isso... – com a voz embargada ele completou. – Não quero perder você por uma estupidez minha. Eu te amo, Bucky!
Fico em silêncio até a roda parar, e as trancas da cabine abrirem. No segundo em que escuto o track de aberto, levanto, passando por Steve. Ele segura no meu pulso, mas desvencilho do seu toque com força e sigo irredutível para a saída do parque.
- Bucky, por favor! – Implora ele.
Aperto o passo, mas não o suficiente para evitar que os seus dedos se enrosquem no meu pulso novamente. Encaro-o, e de forma bruta, cuspo as palavras:
- Deixe-me em paz, está bem? Amanhã conversaremos. Não quero fazer algo agora que me arrependa mais tarde.
Afasto-me de Steve, sentindo as lágrimas voltarem a rolar. Agradeço a Deus por não ter usado maquiagem hoje, senão, meu rosto inteiro estaria imundo como se tivesse sido enterrado, e voltado a vida, lutando para sair do caixão e dos sete palmos de terra.
Ao caminhar entre o público sorridente, meu cérebro é atingido por algumas memórias que Steve e eu tivemos em momentos anteriores no parque. Lembro quando jogamos tiro ao alvo, com o jogo fazendo-me o ganhador por ter feito mais pontos que Steve. De quando andamos na xícara maluca tantas vezes e saímos com a cabeça girando e um enjoo fortíssimo que preocupou a Natasha e a Wanda. E quando demos o nosso primeiro beijo em público, próximo a barraca de batata-frita.
Já enxergo o portão de saída, quando ouço o meu nome ser chamado. É Wanda. Não paro de andar, e continuo a seguir em frente. Falar com alguém é a coisa que menos quero fazer, mesmo sabendo que desabafar é a atitude mais sã em meio desse maremoto que Steve me colocou.
- Bucky! – Chama ela. – Bucky! Bucky! Você está surdo?
Wanda segura meu braço, e me encara com uma expressão zangada, mas logo desaparece ao fitar o meu rosto, com um semblante preocupado e solícito.
- O que houve, Bucky? Por que você está chorando?
- Não é nada – digo.
- Bucky não me venha com essa. Sei que aconteceu algo. Você estava rindo a um minuto atrás, e agora, está aqui com os olhos vermelhos. Conte-me o que aconteceu!
Mordo os lábios e sigo em frente, ignorando-a.
- Pietro, vou acompanhá-lo até a casa dele, depois irei para casa. – Ouço Wanda falar.
Já na rua, Wanda anda ao meu lado no mesmo ritmo em silêncio, o que me incomoda. Ela ainda está com o enorme polvo nos braços.
- Parabéns pelo polvo. Você me surpreendeu – murmuro ainda com a voz embargada.
- Obrigada. Precisei gastar o meu dinheiro com 16 novas fichas, mas provei para você que é possível ganhar os maiores prêmios.
Rio.
- Você fez esse esforço todo para provar para mim?
- Fazer o quê! Tenho os meus momentos como uma pessoa competitiva.
Achamos graça.
Ficamos em silêncio por um minuto, quando Wanda resolve quebrá-lo.
- Bucky, só quero que você saiba que pode contar comigo para qualquer situação, ok? Sei que somos amigos recentes, mas, admito que gosto muito de você, e desejo o seu melhor sempre.
Paro, e cravo o meu olhar nos olhos castanhos claros de Wanda. Seguro o seu queixo com as minhas duas mãos, e levo os meus lábios em direção aos dela lentamente. Quando eles se encontram, ela mantem-se obstinada, mas logo cede, beijando-me. 
- E Steve? – Indaga ela, quando nos separamos.
- Esqueça ele – retruco, beijando-a mais uma vez.
Caminhamos mais um pouco até chegar em frente a minha casa, convido Wanda para entrar, e ela aceita. Subo a escada em direção ao meu quarto, com os meus dedos enlaçados aos dela. Mamãe não está em casa.
Fecho a porta do meu quarto, e nos sentamos na minha cama que ainda está desarrumada.
- Pensei que você fosse uma pessoa organizada, Bucky – fala ela olhando em volta, encontrando mudas de roupas sujas pelo chão, pratos vazios empilhados em cima da televisão e meias espalhadas por todo espaço.
- Digamos que estou me esforçando para ser.
Ela sorri.
Meu celular vibra no bolso, e pesco-o já sabendo o assunto da notificação. É uma mensagem de Steve se desculpando pela milésima vez com um emoji chorando e um “te amo no final”. Coloco o aparelho em uma das prateleira da estante do meu quarto, e me junto para perto da Wanda para beijá-la.
Não sei se o que estou fazendo é o correto. Não sinto que a minha atitude é um mero golpe mesquinho e malévolo para vingar-me de Steve. Não sei se o que estou fazendo pode ser considerado algo que eu me arrependa mais tarde. Desde o momento em que estou com Steve tenho sentido um certo interesse em Wanda, quando ela se aproximou de mim para conversar a respeito de uma prova de matemática no colégio, há alguns meses. Desenvolvi uma pequena admiração, mas agora, com a mente um pouco embaralhada e ao mesmo tempo livre para refletir, enxergo que tenho uma paixonite por ela, e que neste momento estou desfrutando-a. Não sei o que será amanhã. Entretanto, se eu precisar me desculpar com Steve e com mais alguém, direi sem culpa, perdoe-me.
     

Tempestade Infinita - Stucky fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora